Quem é maluco por trem pode esfregar as mãos, separar o dinheiro e se preparar para ter um vagão todinho para chamar de seu. Prateado, em aço carbono, nos trilhos desde 1987, o modelo a ser ofertado pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) em leilão, na quarta-feira (11), já chegou a rodar a mais de 100 km/h em seus áureos tempos. No futuro, porém, deverá permanecer imóvel, literalmente.
Cada um dos cinco carros (como são chamados tecnicamente os vagões) será leiloado por um lance mínimo de R$ 40.550, o preço de um veículo popular. Geralmente, a CPTM leiloa seus trens fora de linha juntamente com itens diversos, como trilhos gastos e dormentes, em grandes lotes. Dessa vez, a companhia optou por separar os vagões. A gente imagina que possa atrair um público diferenciado, como alguém que queira abrir um negócio usando um carro como base. Ou até colecionador, afirma o presidente da empresa, Pedro Moro.
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Quem vê os trens lotados de trabalhadores espremidos nos horários de pico não imagina que os vagões possam ser tão espaçosos, se usados para outros fins. Os carros têm cerca de 50 m² de área. São maiores, portanto, que muitos apartamentos de dois dormitórios. É um trem com salão bastante amplo. Favorece um negócio como um bar, café ou restaurante, diz Moro.
Eles fazem parte do modelo 1700, comprado pela velha CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), uma das empresas que deram origem à CPTM. Os vagões prestaram serviço até o ano passado na linha 7-rubi, entre a capital e a interiorana Jundiaí (56 km de SP).
Carga pesada Mas não basta vencer o leilão. É preciso também tirar o vagão dos trilhos, na zona oeste de SP, e levá-lo embora. A reportagem conversou com um empresário que já transportou muitos trens da fabricante Alstom. Segundo ele, o carreto de um único vagão em um trajeto de 100 km de distância sai por cerca de R$ 7.000. Estão inclusos no orçamento dois batedores, licenças necessárias para trafegar e a carreta extensiva, dado o tamanho e o peso da carga. Cada carro tem aproximadamente 57 toneladas, o mesmo que 10 elefantes.
Vagões antigos viraram bar em hotel Comprar vagões para transformá-los em bares e restaurantes não é algo novo. O fazendeiro Alberto Macedo Júnior fez isso nos anos 1970, por causa do amor pela ferrovia. A prova disso ainda está viva no Hotel Duas Marias, em Jaguariúna (122 km de SP). Hoje, os vagões servem como parte do bar do hotel, montado em uma plataforma que remete a uma estação.
As crianças ficam encantadas. Mas tem adulto que vem aqui, gosta de trens e fica maluco. Muita gente acha que por aqui passava a ferrovia, diz Roberto Macedo Lopes, 43 anos, neto do fazendeiro e administrador do hotel.
Uma locomotiva, um carro dormitório, outro de carga e mais dois vagões desembarcaram por volta de 1975. Chegaram todos arrebentados, diz a filha do fazendeiro, Rachel Macedo, 73, hoje aposentada. Rachel conta que a vinda da composição foi só o início da saga para recuperar os vagões. Depois, o pai dela ainda participou de outros leilões em busca de bancos e acessórios para reformar tudo. A Fepasa mandava cartas avisando que haveria mais leilão e eu escondia dele, afirma.
Em miniatura, trem elétrico sai por R$ 370 Louco por trens, mas não a ponto de levar um vagão inteiro, em tamanho real, para casa. O comerciante Gilson Silva, 56, trabalha com ferromodelismo desde a adolescência e conhece tudo sobre esse mundo, mas em miniatura.
O real é um segmento totalmente diferente da miniatura. Hoje em dia, já temos dificuldade, porque as pessoas moram em apartamento, com espaço reduzido. [Para comprar um vagão] Teria que ser um clube, diz Silva, que começou na loja de Alfredo Lupatteli há 40 anos, na rua do Seminário, na República (região central). Virou parceiro de negócios do antigo patrão
Quem não tem grana e espaço para o verdadeiro, tem como opção o trem elétrico mais básico, que vem com locomotiva, três vagões, controlador e trilhos por R$ 370. É um bom começo para quem se aventura nesse mundo.
Avós fizeram laboratorista se interessar por ferromodelismo O laboratorista Artur George, 42 anos, tem mais de 300 itens de ferromodelismo em casa. O gosto pelos trens começou ainda na infância, por influência do avô alemão e da avó russa, que davam as miniaturas para o neto. Com sete anos, eu já recebia trens da Europa. Aqui, era muito caro. Tinha o nacional, mas não era barato e funcional como o importado, diz.
George conta que a intenção de todo ferromodelista é ter maquete. É trabalhoso. Maquete, de 50 cm por 50 cm, leva, às vezes, dois a três meses para montar. Tem que fazer com pinça, lente de aumento. Colando com calma e parcimônia.
O laboratorista conta que falta divulgação e que está fazendo sua parte para manter o hobby vivo. Estou passando para o meu filho e para a minha filha quando ela crescer mais. Tem que fazer isso, senão se perde, desaparece.
Pesquisador é apaixonado por estações ferroviárias Os trens despertam a paixão das pessoas por motivos os mais diversos. Para o químico e pesquisador ferroviário Ralph Menucci Giesbrecht, 68 anos, são as estações que o levam a viajar no tempo e no espaço, recontando um pouco da história de cada município por onde locomotivas e vagões já trafegaram. Você passa a ter uma noção de geografia. O que se aprende é um negócio impressionante, diz.
Giesbrecht é neto do educador, sociólogo e jornalista Sud Menucci (1892-1948). Ele mergulhou em anotações e registros de vida do familiar ilustre e, a partir daí, resolveu ele mesmo ter perspectiva histórica das cidades paulistas por meio dos trilhos dos trens. Criou o site www.estacoesferroviarias.com.br, recheado de fotos, recortes de jornal e informações sobre lugares por onde ferrovias passaram, bem como o atual estado de conservação.
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