Em um intervalo de pouco mais de um mês, três locomotivas e quatro carros de passageiros deixaram os galpões em que estavam encostados -em alguns casos há mais de duas décadas- para serem levados a cidades do interior paulista para serem restaurados.
Neste sábado (7), quatro carros de passageiros que estavam sem utilização há seis anos, encostados em Cariacica (ES), terminaram a viagem de mais de mil quilômetros até Sorocaba, onde passarão por reforma para que possam ser utilizados futuramente em um trem turístico.
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Antes, em setembro, três locomotivas que estavam no pátio da Luz, na capital, foram transferidas pelos trilhos até Cruzeiro (a 219 km de São Paulo), onde serão preservadas pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária).
As associações ferroviárias veem as iniciativas como importantes ganhos para a preservação da memória e para o acervo das entidades, que já oferecem rotas de trem no estado.
Agora, iniciaremos um levantamento para o projeto de restauro, identificando eventuais peças faltantes, que precisem ser substituídas ou estejam desgastadas, para em seguida fazermos o projeto de restauro e futuramente irmos atrás de recursos para colocá-los em operação, disse Eric Mantuan, presidente da Sorocabana – Movimento de Preservação Ferroviária, que recebeu dois dos quatro carros de passageiros.
Os outros dois foram doados à APMF (Associação de Preservação da Memória Ferroviária), mas também foram levados de Cariacica a Sorocaba, onde ficarão guardados.
Os quatro vagões foram doados pela Vale às entidades. A empresa utilizou os carros até 2014 no trem entre Minas Gerais e Espírito Santo, ano em que foram retirados de operação devido à modernização da frota.
Eles, que foram fabricados pela Mafersa em 1962 para a extinta Estrada de Ferro Sorocabana, estavam com a Vale desde 2002.
Em 1971, nove anos após a fabricação dos carros, quando a Sorocabana e outras quatro companhias originaram a Fepasa (Ferrovia Paulista S.A.), passaram oficialmente ao controle do governo de São Paulo.
Assim ficaram até os anos 90, quando foram transferidos à RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.), que assumiu o espólio ferroviário de São Paulo em negociação entre os governos estadual e federal. Em seguida, o governo fez a concessão da malha ferroviária.
A viagem dos vagões entre Cariacica e Sorocaba durou quatro dias a mais que o previsto, devido a restrições em rodovias durante o feriado de Finados e à velocidade reduzida em trechos entre os estados, conforme a associação de preservação.
Uma análise preliminar mostrou que os dois carros da APMF estão em melhores condições, necessitando de revisões mecânicas devido ao tempo em que estão sem uso.
Não há prazo para que os carros sejam colocados em operação, o que vai depender de recursos obtidos pela associação. Deve ocorrer ao longo de 2021, mas não conseguimos cravar um prazo, até porque ainda não temos condições sanitárias seguras para operar plenamente o nosso trem, disse Mantuan.
A associação iniciou em 2018 uma operação turística, em caráter experimental, num trecho de um quilômetro entre a estação Paula Souza, no centro de Sorocaba, e a Vila Hortência.
A pandemia do novo coronavírus, porém, fez com que os planos de restauro de máquinas e de passeios fossem adiados. A maior parte dos funcionários e voluntários da Sorocabana pertence a grupos de risco da Covid-19.
Se não consegue circular com plenitude, você não arrecada. Por mais que haja patrocínio de empresas e projetos com captação de incentivo fiscal, a receita imediata é arrecadação de bilheteria.
A perspectiva é que no período natalino e nas férias de janeiro o trem possa operar, embora seja apenas uma previsão, sem nenhuma definição até aqui, devido ao cenário da pandemia.
Já a jornada para a restauração das três locomotivas doadas à ABPF durou quatro dias, menos que a viagem entre Espírito Santo e São Paulo, mas teve como componente a transferência entre São Paulo e Cruzeiro feita totalmente pelos trilhos.
O transporte foi visto por integrantes de movimentos de preservação como um dos maiores feitos já registrados no setor no país, por salvar de uma só vez três locomotivas e por elas terem sido transferidas para o local em que serão restauradas pela própria linha férrea.
As máquinas, fabricadas entre as décadas de 40 e 50, estavam abrigadas no depósito da Luz desde 2008. Duas delas foram utilizadas inicialmente pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro, outra das ferrovias que originaram a Fepasa. Elas ficaram nos trilhos até 1998.
A outra permaneceu nos trilhos até 1996 e foi usada inicialmente pela antiga EFSJ (Estrada de Ferro Santos-Jundiaí).
Assim como os carros levados à Sorocabana, as locomotivas serão alvo de um projeto de restauro, que será enviado aos órgãos patrimoniais para ser aprovado e, em seguida, executado, segundo Bruno Crivelari Sanches, presidente da associação.
Vai ser uma reforma estética, pois o custo e as limitações para colocá-las em operação são inviáveis, afirmou.
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