Com mais de um ano de atraso, o governo federal liberou a construção do people mover, monotrilho leve que fará a ligação entre o Aeroporto Internacional de Guarulhos e a estação de trem mais próxima, de mesmo nome, que na promessa do governador João Doria (PSDB) deveria ficar pronta em maio de 2021.
A ideia inicial era que houvesse uma estaçaõ da CPTM dentro do aeroporto, o que foi barrado pela concessionária, a GRU Airport. A estação de trem Aeroporto – Guarulhos hoje fica do outro lado da rodovia Hélio Smidt, a mais de 2 km de distância, e quem desemparca lá precisa pegar um ônibus para chegar aos terminais.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
O projeto de ligação do trem para Cumbica dependia de uma negociação entre a concessionária do Aeroporto (GRU Airport, controlada pela Invepar) e o governo federal, dono do contrato, articulação que foi encampada por Doria via secretário de Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy.
Ofício assinado nesta quinta-feira (26) pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e enviado à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) inclui a construção do monotrilho leve entre as obrigações da concessionária do aeroporto.
Com mais essa ação poderemos aumentar expressivamente o volume dos passageiros que há mais de dois anos precisam realizar este trajeto por meio de ônibus e agora vão contar com um transporte ágil e eficiente. Uma obra que não custará nada ao estado de São Paulo e que irá atender a quem vive em São Paulo e a todos que utilizam o maior aeroporto da América Latina, diz Baldy à Folha.
No projeto proposto, o passageiro que chegar à estação Aeroporto da CPTM atravessará uma passarela já existente e embarcará no monotrilho leve. O veículo terá três paradas, uma em cada um dos terminais do aeroporto.
Segundo o mapa apresentado pelos governos federal e estadual, a estação diante do Terminal 1 deverá ficar na área onde hoje ocorre o embarque e desembarque de carros. No Terminal 2, a parada deverá ser entre as alas A e B. No terminal 3, internacional, a estação deve ficar próxima ao prédio do estacionamento do aeroporto.
A GRU Airport, no entanto, ainda pode mudar esse projeto.
Este pode ser o começo do desfecho de uma novela que dura quase duas décadas.
Em 2002, ano de eleição, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), em seu primeiro mandato, assinou um convênio com a Infraero para implementar a linha de trem que ligaria a capital a Guarulhos. A promessa era de que as obras começariam em 2003 e ficariam prontas até 2005.
A obra atrasou e, em 2012, o projeto da estação mudou. Se antes deixaria os passageiros na entrada do terminal 2 do aeroporto, a nova estação passou para o outro lado da rodovia, demandando que quem desembarca lá pegue um ônibus para chegar aos terminais de check-in.
O impasse se deu porque, naquele ano, o aeroporto foi concedido pelo governo Dilma Rousseff (PT) à iniciativa privada, e a nova concessionária, a GRU Airport, disse que pretendia usar parte do terreno para a construção de um empreendimento, que poderia ser um hotel ou um shopping, o que inviabilizou a construção da estação de trem.
Para compensar a ausência da estação de trem dentro de Cumbica, a GRU Airport se comprometeu então a fazer um meio alternativo de ligação entre o trem entregue pelo governo do estado, que hoje é feito por linhas de ônibus.
Com a crise econômica no país a partir de 2014, a concessionária não fez o seu empreendimento e nem avançou a ideia das estações dentro do aeroporto, alegando que esses não eram compromissos contratuais.
Quando assumiu o governo, João Doria chegou a chamar de bizarra a desconexão entre a estação de trem e o aeroporto. Não faz sentido transporte público que não leva até o aeroporto. É tão bizarro que é difícil acreditar que isso tenha sido feito no estado de São Paulo, disse.
A gestão encampou a ideia do people mover, um monotrilho leve que levaria os passageiros da estação de trem até as portas dos terminais, que seria tocado pela concessionária do aeroporto ao custo de R$ 175 milhões, em troca da redução da outorga anual que a GRU Airport paga ao governo federal.
Ou seja, embora as empresas que farão a obra e a operação sejam escolhidas pela GRU, o governo federal é que deixa de arrecadar para que o monotrilho exista.
Quando anunciou o people mover no ano passado, Doria afirmou que as obras começariam em setembro de 2019.
A proposta, no entanto, ficou travada em Brasília, já que o Ministério da Infraestrutura precisava aprovar o projeto da obra. Em setembro deste ano, a pasta disse à Folha que o processo [de aprovação dos projetos apresentados ao governo federal] segue em tramitação, havendo necessidade de análise, por diferentes instâncias, da documentação relativa à proposta e quanto à comprovação do interesse público do projeto.
Ao mesmo tempo, seguem as tratativas da Anac [Agência Nacional de Aviação Civil] com a concessionária sobre as condições do investimento no contrato de concessão, disse o governo federal.
Seja o primeiro a comentar