Megafábrica da Bracell começa a operar em agosto

Per Lindblom, vice-presidente: Produção de celulose solúvel será direcionada às fábricas de viscose do grupo RGE — Foto: Divulgação
Per Lindblom, vice-presidente: Produção de celulose solúvel será direcionada às fábricas de viscose do grupo RGE — Foto: Divulgação

Valor Econômico – A fábrica de celulose que a Bracell está construindo em Lençóis Paulista (SP), a primeira de nova geração com larga escala na América do Sul, entrará em operação em agosto, com investimento bem acima dos R$ 8 bilhões inicialmente previstos. Com duas linhas de produção e flexibilidade para alternar entre celulose solúvel, matéria-prima da viscose, e branqueada de eucalipto (kraft), a empresa da Royal Golden Eagle (RGE), de Cingapura, está expandindo a antiga Lwarcel e destinará parte relevante da produção às fábricas de viscose e papéis do próprio grupo na Ásia. Outros clientes na região, Europa e Estados Unidos estão no radar para comercialização do volume excedente.

“Estamos muito otimistas com a perspectiva de demanda nos próximos anos”, disse ao Valor o vice-presidente executivo da Bracell, Per Lindblom. Pelo cronograma atual, que incorpora um atraso de quatro semanas devido ao impacto da pandemia na entrega de materiais e equipamentos, sobretudo da Ásia, a primeira linha do Projeto Star entrará em operação em meados de agosto. A segunda partirá duas semanas depois.

Durante a curva de aprendizagem, a produção vai variar entre celulose solúvel e kraft conforme o nível de estabilidade operacional. Não está definido o volume esperado de cada tipo de fibra, ao menos nos primeiros anos de operação. O planejamento levará em conta a demanda e a perspectiva de integrar toda a celulose solúvel produzida em Lençóis Paulista à viscose fabricada pela RGE na Ásia. O grupo é dono da Sateri, maior produtora mundial do tecido.

“A Sateri tem projetos de expansão de capacidade até 2025 na China e eles querem ficar menos dependentes da celulose solúvel de terceiros”, diz o analista Daniel Sasson, do Itaú BBA. Diante da demanda já “contratada”, a percepção é a de que o início de operação da fábrica não terá grande pressão sobre o preço da fibra curta.

A chegada do Projeto Star a mercado ocorre no melhor momento de preços da celulose. Enquanto a cotação da fibra curta se acomodou na China em torno de US$ 775 e US$ 780 por tonelada, maior nível da história, os preços seguem em rota ascendente na Europa e na América do Norte. Segundo o índice da Fastmarkets Foex de ontem, a fibra curta subiu quase US$ 65 em uma semana no mercado europeu, para US$ 1.093,83 a tonelada, também recorde.

Segundo o vice-presidente comercial e cadeia de suprimentos da Bracell, Henri Philippe Van Keer, além do momento positivo do mercado, os Bancos Centrais ao redor do mundo estão otimistas com a economia. “É verdade que os preços da celulose subiram com muita rapidez e força nos últimos sete meses, então é natural que se estabilizem na Ásia”, afirmou o executivo, que foi diretor comercial da Fibria, que se fundiu à Suzano no começo de 2019.

A pandemia também trouxe desafios internos ao Projeto Star. Em execução na região paulista de maior criticidade durante a segunda onda de covid-19, o projeto de expansão teve um pico de casos entre funcionários e terceiros em março, mesmo após reforçar medidas de controle e desinfecção que já vinham em curso desde a chegada do novo coronavírus ao país – uma das iniciativas foi montar um ambulatório com oito médicos, dentro da unidade, para evitar que clínicas e hospitais da região fossem sobrecarregados.

Desde o início da pandemia, foram 2,6 mil casos e oito mortes, considerando-se um universo de 25 mil profissionais de diferentes áreas e trabalhadores que passaram pelo projeto. No pico das obras, havia cerca de 11,5 mil pessoas envolvidas nos trabalhos.

Inicialmente, os desembolsos para expansão da Lwarcel, comprada pela RGE em 2018, estavam estimados em R$ 8 bilhões e já correspondiam ao maior investimento privado no Estado de São Paulo nos últimos 20 anos. Mas o projeto era menor: o plano era instalar uma nova linha, de 1,25 milhão de toneladas por ano, que se soma à linha existente de 250 mil toneladas anuais de celulose kraft.

Agora, serão duas novas linhas, que podem produzir 1,5 milhão de toneladas por ano de celulose solúvel ou algo entre 2,6 milhões e 2,8 milhões de toneladas anuais de celulose kraft. O investimento adicional não é revelado, mas a Bracell informa que levantou US$ 1,3 bilhão em empréstimo sindicalizado que reuniu instituições financeiras como Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e bancos internacionais. No setor, estima-se que o custo de um projeto industrial desse porte se aproxime de R$ 15 bilhões. Em operação, o Projeto Star vai gerar 6 mil postos de trabalho.

A fábrica terá a maior caldeira de recuperação do mundo, com capacidade de queimar 13 mil toneladas de sólidos totais por dia, e está sendo equipada com tecnologias de última geração, ainda não usadas em escala industrial na região. Livre de combustíveis fósseis, contará com uma das maiores unidades de gaseificação em atividade, usando 100% de matéria-prima renovável para produzir biogás.

Além de usar parte da energia gerada na operação em suas instalações, o projeto poderá exportar 180 megawatts (MW) de energia limpa para o sistema nacional, suficiente para abastecer uma cidade com 3 milhões de habitantes. Segundo o diretor-geral da Bracell São Paulo, Pedro Stefanini, com seis precipitadores eletrostáticos, que reduzem o material particulado nos gases da caldeira de recuperação química, a fábrica será a nova referência em emissões. O tratamento de efluentes será outro diferencial do projeto, acrescentou.

A Bracell firmou contrato de longo prazo com a MRS para escoar a celulose de Lençóis Paulista até o Porto de Santos, onde já conta com terminais disponíveis. A fibra seguirá de caminhão da fábrica até o Terminal Intermodal em Pederneiras, de onde partirá por ferrovia para Santos. A empresa está investindo em 463 vagões para transporte exclusivo da celulose.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/06/09/megafabrica-da-bracell-comeca-a-operar-em-agosto.ghtml

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