Acciona lança dois parques eólicos de R$ 5 bi

Incertezas política e econômica não são barreiras, mas insegurança jurídica preocupa, diz o presidente-executivo global do grupo, José Manuel Entrecanales — Foto: Silvia Zamboni/Valor
Incertezas política e econômica não são barreiras, mas insegurança jurídica preocupa, diz o presidente-executivo global do grupo, José Manuel Entrecanales — Foto: Silvia Zamboni/Valor

Valor Econômico – O grupo espanhol Acciona decidiu entrar no mercado de geração de energia renovável no Brasil. A companhia acaba de adquirir, da Casa dos Ventos, um projeto eólico em desenvolvimento na Bahia, com potência de 850 MW e investimentos projetados em € 800 milhões (R$ 5 bilhões, na cotação atual).

O empreendimento é composto por dois parques – Sento Sé I e II -, que estão em fase de obtenção de licenças. A expectativa é que a construção tenha início entre o fim de 2022 e começo de 2023. A ideia principal é comercializar a energia por contratos de longo prazo com clientes.

Trata-se de um primeiro passo da Acciona no setor, mas o objetivo é expandir, segundo José Manuel Entrecanales, presidente-executivo global do grupo, que falou com o Valor durante sua visita ao Brasil, na semana passada.

A empresa já tem em mente uma segunda etapa para o projeto de Sento Sé: a possível construção de uma usina solar, em área contígua ao parque eólico, que usaria a mesma estrutura de transmissão. Estima-se que a expansão agregaria mais 200 MW de potência e demandaria investimentos adicionais na ordem de R$ 800 milhões – em números ainda bastante preliminares.

“Além disso, queremos ver se há novas oportunidades de desenvolvimento conjunto com a Casa dos Ventos. Há muito que fazer”, diz o presidente.

A Acciona atua no Brasil há mais de 20 anos. Além de obras de grande porte, a empresa chegou a operar por dez anos a concessão da Rodovia do Aço, que foi vendida à KT2 em 2018. No ano passado, a companhia voltou ao mercado de concessões com um grande contrato: a Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo. O projeto, inicialmente da Move São Paulo (formada por Odebrecht, Mitsui, UTC e Queiroz Galvão) foi adquirido oficialmente no fim de 2020 pelo grupo espanhol, que irá construir e operar a linha.

O plano para a próxima década é ampliar de forma significativa a operação de infraestrutura no Brasil, segundo Entrecanales. “Este país é um continente. Há vetores de crescimento para todas as áreas de negócio da Acciona: saneamento, tratamento de água, transporte, energia renovável, mobilidade urbana”, diz.

Para o executivo, a projeção é que o mercado brasileiro ultrapassará o europeu dentro da empresa nos próximos dez anos e se tornará um dos três principais locais de atuação do grupo, ao lado dos Estados Unidos e Austrália. “O Brasil se tornou objetivo essencial dentro da nossa estratégia.”

O cenário de instabilidade política e incerteza macroeconômica não abala o interesse, segundo Entrecanales. “O Brasil, entre os países em que estamos presentes, é aquele com mais oportunidade de investimento. É um país com alto crescimento, necessidades de infraestrutura infinitas. E há uma organização institucional estável. Há sim oposição e confrontação política alta. Mas é uma característica própria de democracias. A solidez institucional do país nos dá muita confiança como investidores”, afirma.

O ambiente incerto de curto prazo importa, mas não é determinante. “Em um projeto de 40 anos, a conjuntura dos primeiros dois, três anos conta, mas não é o mais importante.”

Uma variável que preocupa e pode afetar decisões futuras de investimento no país é a segurança jurídica em torno do contrato da Linha 6-Laranja – hoje ameaçado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em agosto, uma decisão inesperada do ministro Dias Toffoli abalou o mercado. Ele considerou inconstitucional a transferência de concessões de uma empresa para outra e, além disso, determinou que fossem desfeitas operações realizadas nesses moldes – como a compra da concessão do Metrô pela Acciona. Desde que o voto veio à tona, já houve sinais de que esse entendimento pode ser revertido no tribunal: o ministro Gilmar Mendes pediu vista, e o próprio Toffoli sinalizou que pode alterar o relatório. Porém, o caso segue em aberto.

“Não posso negar que é um fator de preocupação. Há algum risco. Mas os acontecimentos judiciais das últimas semanas, a racionalidade econômica e as alternativas que temos para resolver essa dificuldade me fazem estar razoavelmente tranquilo. Hoje trabalhamos com o cenário de que a situação vai se resolver”, afirma Entrecanales.

Mesmo com o imbróglio em curso, a sinalização é positiva para novos projetos. Entre os alvos em estudo pela Acciona neste momento estão: o Trem Intercidades (TIC), entre São Paulo e Campinas; leilões de saneamento básico em diversos Estados; a concessão da rodovia BR-381/262, entre Minas Gerais e Espírito Santo; além de um projeto imobiliário em Salvador.

O executivo, porém, destaca os elevados compromissos financeiros já assumidos na Linha 6 e no parque de energia, e diz que será preciso administrar o capital e ir “pouco a pouco”.

O financiamento dos projetos tem sido feito parcialmente com recursos da matriz, na Espanha, e com acesso a crédito do BNDES, no Brasil. No caso do novo projeto de energia, a estrutura dependerá dos clientes e dos contratos de longo prazo firmados – caso sejam em dólar, o financiamento deverá vir da matriz, e caso seja em reais, um empréstimo local.

Globalmente, a Acciona opera em 60 países e, no passado, faturou € 6,4 bilhões.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/11/29/acciona-lanca-dois-parques-eolicos-de-r-5-bi.ghtml

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