Fluxo de embarque de café melhora, mas nó logístico deve persistir

Valor Econômico – Os exportadores de café definem 2021 como um ano de “fortes emoções”. A dificuldade de agendar navios e conseguir contêineres somou-se, nesse segmento especificamente, à quebra da safra da variedade arábica, que representa mais de 80% dos embarques, resultando em um cenário bastante desafiador. Ainda assim, “o café foi resiliente”, disse, ontem, o presidente do Conselho Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Nicolas Rueda, durante coletiva sobre o desempenho setorial.

Os problemas resultaram em recuo de 9,7% do volume exportado, para 40,4 milhões de sacas, no ano passado. Porém, ainda assim, foi a ter maior quantidade embarcada pelo país observados os dados históricos. Vale lembrar que os brasileiros embarcaram volume recorde, de 44,5 milhões de sacas, em 2020.

Em receita, os exportadores faturaram US$ 6,2 bilhões em 2021, 10,3% a mais do que em 2020, o que se explica pela alta de preços. Apenas em dezembro passado, a saca valia, em média, US$ 205, 62% mais do que no mesmo mês do ano anterior.

A dificuldade logística e a quebra de safra de produtores importantes como Brasil e Colômbia puxaram os preços dos grãos. Além disso, o consumo global se mantém firme. Apenas entre 2016 e 2020, a demanda de café aumentou em 8 milhões de sacas, para 167,2 milhões de sacas. Os dados são da Organização Internacional do Café (OIC).

Rueda avaliou que o setor “foi resiliente e realizou esforços titânicos” para encontrar alternativas apesar de todo o entrave logístico, problema que se agravou no segundo semestre. “Após mais de duas décadas, e como alternativa, [os exportadores] retomaram os embarques na modalidade ‘break bulk”, disse. Trata-se de uma modalidade de embarque que não usa contêiner.

A opção por esse sistema ocorreu a partir do último trimestre do ano. Esse fator e uma melhoria de disponibilidade de booking (agendamento de navios) contribuíram para o fluxo. Exportadores relataram ao Valor que notaram melhor fluidez em Santos, principal saída para o café, a partir de novembro e dezembro.

Um deles é a Minasul, de Varginha, a segunda maior exportadora entre as cooperativas de arábica (atrás apenas da Cooxupé), e o outro é a Agropecuária Labareda, de cafés especiais. A Minasul diz ter embarcado, em dezembro, o dobro do volume de novembro. A exportação direta foi feita em contêineres, mas tradings que também vendem o café da cooperativa usaram o ‘break bulk’.

“Em janeiro tudo está fluindo bem, embora os volumes ainda não sejam os normais [de antes da pandemia]”, conta Héberson Sastre, gerente comercial da cooperativa. Ele não revela volumes, mas o embarque mensal estaria cerca um terço abaixo da quantidade usual. Um terceiro exportador, no entanto, relata que vê a melhoria como respiro pontual. “No meu caso, a situação piorou em dezembro, com 35% da carga parada. Nos três meses anteriores, esse volume era de 20%”.

A “percepção geral”, diz o Cecafé, é de melhor fluidez, incluindo o mês de janeiro, mas os ‘nós’ não vão desaparecer. É que há fatores que independem de empenho setorial, lembra Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé. “Mesmo que o exportador busque saídas, ocorreu de portos fecharem por causa da covid no ano passado”. Ademais, apesar da modalidade do ‘break bulk’ ser uma alternativa, nem todos os portos do mundo trabalham com o sistema. O problema logístico deve continuar até ao menos meados deste ano, projeta a entidade. Segundo um exportador, porém, alguns entre os otimistas do setor transferiram a expectativa de “normalidade” para 2023, após surgir a variante ômicron.

Fonte: https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2022/01/18/exportacoes-de-cafe-recuaram-em-2021-mas-volume-seguiu-elevado.ghtml

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