
G1 – O Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente (Sintaema) e outros profissionais ligados à Sabesp emitiram uma nota afirmando que o tatuzão deveria estar a pelo menos 20 metros de distância do supertúnel de esgoto. Na ocasião, o tatuzão estava a apenas três metros do supertúnel, de acordo com o secretário de Transportes Metropolitanos, Paulo Galli.
O incidente que causou o vazamento da galeria de esgoto que por sua vez causou a abertura de uma cratera ao lado de obra da Linha 6-Laranja do Metrô, na Marginal Tietê, Zona Norte de São Paulo, completa uma semana nesta terça-feira (8). Não houve vítimas, mas dois trabalhadores que tiveram contato com o esgoto foram socorridos.
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Segundo o sindicato, não há registro de ocorrências de vazamentos ou rompimentos significativos em mais de 50 anos de obras que envolvam Metrô-SP e Sabesp (leia mais abaixo).
Apesar de o tatuzão não ter batido diretamente no supertúnel de esgoto, especialistas acreditam que a trepidação dele pode causar pressão suficiente para causar o rompimento de tubulações metálicas ou de concreto.
“A boa técnica, adotada em outras tantas situações, é a de escavar o túnel do metrô cerca de 20 metros abaixo de um interceptor ou de uma adutora de grande porte, com velocidade a mais reduzida possível para evitar movimentos do solo. Por isso, a informação preliminar do secretário de Transportes Metropolitanos que o túnel da Linha 6 estaria cerca de três metros abaixo do interceptor ITi-7 causa bastante estranheza”, diz a nota divulgada.
A raiz do acidente está na distância entre a escavação do túnel da linha-6 e o equipamento da Sabesp, de acordo com o presidente do Sintaema, José Antônio Faggian.
“A distância adequada entre o equipamento [tatuzão] e o interceptor [o supertúnel de esgoto] teria de ser duas vezes o tamanho do túnel onde estava o tatuzão. Como esse túnel tem 11 metros, o tatuzão teria de estar a 22 metros do túnel, no mínimo a 20 metros”, afirma.
Sem a distância adequada, de acordo com Faggian, a empresa responsável deveria no mínimo ter tomado outras medidas de contenção, como colocar concreto em volta para não haver risco de romper o supertúnel.
A nota divulgada reitera que “o problema foi causado pela escavação do túnel da linha-6 a pequena distância do interceptor em operação, agravada pela ausência de medidas preventivas para estabilização do solo no entorno, em absoluta divergência com as práticas adotadas há várias décadas em obras supervisionadas pelo Metrô-SP.”
“Só precisamos aguardar o laudo que será conclusivo, mas tudo indica que pelas próprias circunstâncias, realmente foi o tatuzão que causou o rompimento do supertúnel. E isso é imprudência, falta de perícia da empresa, ou até mesmo uma ordem do governo do estado para acelerar a obra, o que fez com que as medidas de contenção e segurança necessárias não fossem tomadas. Há 99% de chance de ter sido realmente o tatuzão que causou o incidente”, afirma Faggian.
O coordenador geral do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Wagner Fajardo Pereira, confirma a versão.
“É o que nos dizem todos os profissionais que trabalham com este tipo de túnel. O tatuzão passou a três metros da tubulação da Sabesp, quando [essa distância] deveria ser de mais de 20 metros.”
Em nota, a Acciona, concessionária espanhola contratada em uma Parceria-Público-Privada (PPP) pelo governo do estado para conduzir a obra e a operação da linha 6-Laranja do metrô, afirmou que “as causas do incidente estão em apuração.”
Em nota, a Sabesp afirmou que um Comitê Executivo foi criado para monitorar o cumprimento de providências pela empresa responsável pelas obras e assegurar transparência nas medidas (veja nota completa abaixo).
Faggian teme que a Sabesp seja culpabilizada pelo incidente.
“O mais impressionante é o esforço do governo do estado de preservar o consórcio com a empresa privada que está fazendo a obra. A nossa grande preocupação é a de que a Sabesp não seja culpabilizada pelo acidente que é o que está dando entender que o governo quer fazer”, afirma.

Supertúnel
O supertúnel de 7,5 km para coleta de esgoto que se rompeu na Marginal Tietê atende a 2,2 milhões de pessoas e leva dejetos para uma estação de tratamento em Barueri, na região metropolitana de São Paulo.
De acordo com a nota dos sindicatos, o supertúnel avariado, denominado ITi-7, é um túnel de concreto armado de 4,3 metros de altura por 3,3 metros de largura e 7,5 km de extensão.
Ele foi construído por escavação mecanizada a 15 metros abaixo da pista local da Marginal Tietê e possui capacidade para transportar, por gravidade, os esgotos coletados nas bacias dos rios Tamanduateí e Anhangabaú, isto é, faz o saneamento de praticamente toda a região central da cidade de São Paulo.
Trata-se, portanto, de uma instalação essencial para a despoluição do Rio Tietê. Ela entrou em operação há cerca de um ano, substituindo uma antiga tubulação de menor capacidade situada sob a Avenida Marques de São Vicente, na Barra Funda, na região central.
A nota dos sindicatos critica a obra da Acciona, visto que “não há registro de ocorrências de vazamentos ou rompimentos significativos em mais de 50 anos de obras que envolvam Metrô-SP e Sabesp” apesar de inúmeras vezes, durante a construção dos túneis, ter havido “cruzamentos em desnível com tubulações de abastecimento de água e de transporte de esgotos de grande porte.”
“A experiência da engenharia do Metrô-SP na definição de projetos e na fiscalização da obra, sempre dedicou especial atenção para as adutoras de água e os interceptores de esgotos da Sabesp, evitando qualquer risco de instabilidade para essas estruturas.”
A nota divulgada é assinada em conjunto pela Associação dos Aposentados e Pensionistas da Sabesp (AAPS), Associação dos Profissionais Universitários da Sabesp (APU), Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo (SASP), Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema) e pelo Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Urbanas de Santos, Baixada Santista, Litoral Sul e Vale do Ribeira (Sintiusurbanitários).
O que diz a Sabesp:
A Sabesp e a Secretaria de Transportes Metropolitanos acompanham o andamento dos trabalhos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), contratado para apurar os fatos e as causas do acidente. Um Comitê Executivo também foi criado para monitorar o cumprimento de providências pela empresa responsável pelas obras e assegurar transparência nas medidas.
O Comitê é integrado por profissionais com expertise nas áreas técnica, financeira, jurídica e de comunicação e pode convidar representantes de entidades da administração direta ou indireta do Estado de São Paulo, da Prefeitura Municipal de São Paulo e de Concessionárias de Serviços Públicos, para participar dos trabalhos, visando a adoção de medidas para a rápida retomada das obras e do completo tráfego local.
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