Folha de S. Paulo (Blog) – Quem passava por aquela estação ferroviária na década de 1930 via um prédio imponente e movimentação constante de passageiros, num povoado que tinha surgido apenas dois anos antes, com o nome de São João da Saudade.
O local se desenvolveu, mudou o nome para Mirandópolis e hoje é uma cidade de cerca de 30 mil habitantes na região administrativa de Araçatuba.
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Da antiga estação, que integrava a rota da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, porém, pouco sobrou. Quer dizer, sobraram a história e as paredes, já que portas e janelas internas não existem mais.
O local abrigava cerca de dez homens em sua antiga plataforma de embarque quando lá estive. Rodeados de lixo e num ambiente insalubre, disseram que dormiam no local. Um dos homens passava mal.
Dentro da estação, inaugurada em 1936, havia muito entulho, objetos quebrados e queimados e um forte cheiro de urina. Pombos tomavam conta do espaço.
A estação era a 44ª da rota que ficou conhecida como Trem da Morte e ligava Bauru, no interior paulista, a Corumbá (MS), numa ferrovia com 1.272 quilômetros.
O verdadeiro Trem da Morte é o que liga Puerto Quijarro, na Bolívia, a Santa Cruz de la Sierra, maior cidade boliviana, com mais de 1,5 milhão de habitantes.
Ganhou esse nome devido ao número de acidentes, como descarrilamentos, e também por ser no passado rota para o transporte de doentes.
Com o tempo, a “extensão” brasileira, já que Corumbá é vizinha a Puerto Quijarro, herdou o nome, especialmente a partir dos anos 60, quando houve desaceleração gradual de investimentos na estrada de ferro.
Em 24 estações visitadas encontramos destruição e histórias de desolação de ex-maquinistas e antigos usuários das ferrovias.
Das 122 estações erguidas entre as cidades, ao menos 80 foram demolidas ou estão em processo avançado de deterioração, abandonadas ou fechadas, sem uso algum. A maior parte delas está sob responsabilidade do governo federal.
O relato do estado da estação ferroviária de Mirandópolis faz parte de uma série sobre a extinta Noroeste do Brasil.
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