Folha de S. Paulo (Blog) – A estação ferroviária Rio Branco, em Três Lagoas (MS), desperta de imediato a atenção de quem olha para ela: ao contrário de outras edificações que pertenceram à Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, ela não foi erguida com tijolos, mas com madeira.
Inaugurada em 1912, a estação por onde trafegava o chamado Trem da Morte, entre Bauru e Corumbá (MS), hoje está abandonada.
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A construção em madeira é incomum hoje, mas não era na trajetória da Noroeste do Brasil. Diferentemente de outras companhias ferroviárias, que tinham construções padronizadas, a empresa utilizava muitas vezes materiais simples para as suas estações, como madeira e areia, com o objetivo de ligar o então enorme estado de Mato Grosso (não existia Mato Grosso do Sul) a São Paulo.
“Era a mão de obra existente na região dela”, conta o pesquisador ferroviário Ralph Giesbrecht, autor de três livros sobre o sistema ferroviário, o mais recente deles “O Desmanche das Ferrovias Paulistas”.
Muitas das estações foram reconstruídas em alvenaria em algum momento de sua trajetória, mas a Rio Branco não foi contemplada com melhorias e mantém parte de suas características originais.
A ferrovia entre Bauru e Corumbá (MS), com 1.272 quilômetros, herdou o nome do Trem da Morte original, que liga Puerto Quijarro a Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia.
A rota boliviana ganhou o nome devido ao grande número de acidentes e por ser no passado usada para o transporte de doentes.
Com o tempo, a “extensão” brasileira, já que Corumbá é vizinha a Puerto Quijarro, ganhou a mesma denominação, graças à desaceleração gradual de investimentos na estrada de ferro.
A situação inicial de muitos dos imóveis da Noroeste foi modificada quando o governo federal assumiu a ferrovia, reconstruindo trechos e erguendo estações em alvenaria, nos anos 1920.
A Noroeste do Brasil passou a fazer parte da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.) em 1957, onde ficou até a concessão à Novoeste na década de 90.
Da empresa, em parceria com a Ferroban e a Ferronorte surgiu a Brasil Ferrovias, que depois passou a ser Nova Novoeste, até ser incorporada à ALL (América Latina Logística).
Esta, por sua vez, foi absorvida pela Rumo Logística, atual detentora da concessão da ferrovia —a estação em Três Lagoas não faz parte do contrato de concessão.
Erguida sobre uma base de concreto, já corroída pelo tempo, a estação tinha uma plataforma de embarque ligeiramente mais alta em comparação com outras da Noroeste.
Em seu entorno, dois vagões, um deles tanque, estão totalmente abandonados. O tanque, inclusive, está encoberto por vegetação e possui uma placa com a inscrição “A devolver RFFSA”.
A Rede Ferroviária Federal já foi até extinta, mas o vagão segue ali à espera de algum destino, que possivelmente será o ferro-velho, dada a degradação em que se encontra.
Das 122 estações erguidas entre Bauru e Corumbá, ao menos 80 foram demolidas ou estão em processo avançado de deterioração, abandonadas ou fechadas, sem uso algum.
A maior parte delas está sob responsabilidade do governo federal.
O relato do estado da estação ferroviária de Três Lagoas faz parte de uma série sobre a extinta Noroeste do Brasil.
Se quiser conferir o estado geral das estações que pertenceram à ferrovia, contamos essa história aqui.
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