Pipenline – Valor – Numa das maiores operações do ano no mercado brasileiro, a Cosan vai montar uma posição de 6,5% na Vale (o equivalente a R$ 22 bilhões), tornando-se uma grande acionista da mineradora e entrando de vez em uma indústria em que começou a tatear ano passado, quando o grupo de Rubens Ometto comprou o porto de São Luís (MA) mirando no escoamento de minério de ferro.
O investimento da Cosan será de forma gradual, em até cinco anos. Até agora, o conglomerado já investiu R$ 8 bilhões, o que inclui a compra em bolsa de 1,5% das ações da Vale ao longo das últimas semanas. Paralelamente, o grupo montou uma estrutura de opções – com contratos de collar – para mais 3,4% da Vale, somando uma participação inicial com poder de voto de 4,9%.
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O negócio também envolve uma parcela de 1,6% em direitos econômicos da Vale – também usando uma estrutura de derivativos, que depende da aprovação do Cade para que a empresa possa exercer o poder de voto, extrapolando assim o patamar de 5% da mineradora brasileira.
Em entrevista exclusiva logo após o anúncio, o CEO da Cosan, Luis Henrique Guimarães, disse ao Pipeline que o investimento em Vale complementa a estratégia de portfólio da holding para atuar em todos os mercados em que o Brasil detém diferenciais competitivos. Antes da Vale, o conglomerado já estava exposto a commodities agrícolas (Rumo), óleo e gás (Raízen e Comgás), energias renováveis (Raízen) e créditos de carbono (com Raízen e Radar). Faltava a mineração.
A abordagem da Cosan na Vale será amigável, garantiu Guimarães. “Não é hostil. Queremos ser bem-vindos”, disse o executivo, frisando a capacidade de trabalhar em sociedades com diversos atores, como Shell (sócia na Raízen) o fundo de private equity CVC (sócia na Moove) e Mitsui. Na Vale, a Cosan agora quer se aproximar do conselho, validar as teses que justificaram o investimento.
Pela participação que a Cosan que poderá atingir no futuro, vagas no conselho de administração da mineradora — uma corporation que poison pill de 25% –, seriam consequências naturais da aproximação. “Mas o que fizemos é uma opcionalidade”, frisou o executivo. Pelo formato da compra (a maior parte via derivativos), a Cosan poderia até rolar os papéis após os cinco anos do contrato ou até mesmo não convertê-los em ações da Vale.
A estrutura da transação também minimiza os eventuais prejuízos da Cosan com as oscilações dos papéis da mineradora. A companhia não divulgou o preço médio pago pelas ações – que ficaram abaixo do atual patamar –, mas os contratos de collar (pares de opção de compra e venda) firmados com os bancos parceiros limitam as perdas em caso de desvalorização do ativo.
Segundo Guimarães, a Vale cumpre os critérios de investimento da Cosan por também ser uma empresa irreplicável. O executivo aposta que a mineradora terá um papel de extrema relevância no processo de descarbonização da indústria siderúrgica graças ás jazidas de maior qualidade e será crucial na eletrificação da frota já que as baterias precisam de metais como cobre e níquel.
A Cosan trabalhou com o Itaú BBA e Bradesco, que deram o financiamento para a operação que começou a ser desenhada há seis meses. J.P. Morgan e Citi fizeram a estrutura de derivativos para a companha. Os escritórios Pinheiro Neto e Machado Meyer deram a assessoria jurídica.
Além da Cosan, os principais acionistas da Vale são a Previ, com 8,61% do capital, seguido pela Capital World Investor com 6,69%, Blackrock com 6,33% e Mitsui com 5,99%. Atualmente, o market cap da Vale está em R$ 376 bilhões. A Cosan está avaliada em R$ 33 bilhões em bolsa.
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