Alstom vê retomada do setor de mobilidade

Para Michel Boccaccio, presidente da Alstom na América Latina, retomada de financiamento do BNDES e estruturação de bons projetos são essenciais — Foto: Silvia Zamboni/Valor
Para Michel Boccaccio, presidente da Alstom na América Latina, retomada de financiamento do BNDES e estruturação de bons projetos são essenciais — Foto: Silvia Zamboni/Valor

Valor Econômico – A indústria de trens para mobilidade urbana “renasceu” no Brasil e deverá seguir aquecida a partir do próximo governo, avalia Michel Boccaccio, presidente da Alstom para América Latina.

A companhia acaba de concluir um investimento de R$ 100 milhões para ampliar sua fábrica em Taubaté (SP). A expansão deverá dar conta dos seis projetos já contratados e também das encomendas por vir, segundo ele.

Após ver sua linha de produção praticamente parada em 2020, a empresa teve uma retomada nos últimos anos, e precisou modernizar e expandir sua unidade no interior de São Paulo. Hoje a fábrica está contratada para entregar 939 carros de metrô, em um prazo de até cinco anos.

Ao todo, são seis projetos. Dois deles são no Brasil, em São Paulo: a Linha 6-Laranja, que será operada pela Acciona, e as Linhas 8 e 9, cuja concessão foi conquistada pela CCR. Os demais são de exportação, para Taiwan, Romênia e Chile. “Diria que foi um renascimento da fabricação de carros de metrô para a Alstom e para o mercado brasileiro, já que hoje somos os únicos a produzir no país”, diz Boccaccio.

Para o executivo, o Brasil é o país com o maior potencial de expansão na América Latina hoje.

No radar da Alstom estão outros projetos em São Paulo: a concessão do Trem Intercidades (TIC) e uma licitação para aquisição de 44 trens para o Metrô de São Paulo. Ambas concorrências começaram a ser estruturadas no atual governo, mas deverão ficar para a próxima gestão. Além destes, estão no radar o VLT de Brasília e eventuais projetos de exportação na região.

Hoje, a Alstom tem autorização judicial para disputar licitações, embora, em 2019, a empresa tenha sido condenada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) por formação de cartel em licitações de trens e metrôs. A empresa ficou impedida de participar de concorrências públicas por cinco anos. A fabricante, no entanto, obteve uma liminar para conseguir disputar leilões, vigente até o momento. Além disso, o grupo tem participado dos projetos como fornecedora, sem fazer diretamente as ofertas, como foi no caso das Linhas 8 e 9.

A desestatização do Metrô de Belo Horizonte, cujo leilão está marcado para o dia 22 de dezembro, não atraiu o grupo a princípio, diz o presidente. “Não estamos participando, porque o modelo da concessão, na nossa avaliação, tem problemas. O fato de a concessionária precisar incorporar todo o pessoal da empresa [a CBTU, que será privatizada] e arcar com os custos da demissão gera um risco difícil de precificar. Mas nada impede que sejamos fornecedores eventualmente, ou que, caso o modelo seja alterado, possamos estudar”, afirma.

A expectativa para o próximo governo federal é positiva, segundo Boccaccio. “A sinalização é que vão investir em novos projetos de infraestrutura. Agora, é preciso ter dinheiro e PPPs juridicamente e contratualmente bem estruturadas”, afirma. “Os casos de São Paulo, com a Linha 6 do Metrô e as Linhas 8 e 9 da CPTM, são modelos que funcionam”, diz ele.

Além disso, o presidente destaca a importância do financiamento do BNDES para o setor. “O banco tem que voltar a ter esse papel de financiador de infraestrutura. O atual cenário de juros de longo prazo elevados dificulta a viabilização de financiamento para os projetos. Estou convencido de que o BNDES tem que voltar a ter esse papel”, afirma.

Já os riscos externos ao negócio, como a escassez de peças no mercado global, deverão persistir, na avaliação do executivo. “Há alguns meses se acreditava que a situação de falta de componentes eletrônicos acabaria em 2023, mas hoje há uma visão de que talvez vá até 2024. É um assunto importante na execução dos projetos. Mas, até agora, na América Latina, conseguimos gerenciar esses riscos”, diz.

Para ele, o principal risco hoje é o da inflação dos insumos. No caso da Alstom no Brasil, metade dos contratos estão relativamente protegidos, já que preveem cláusulas de correção pela inflação. Para os demais projetos, a estratégia tem sido renegociar com clientes e fornecedores.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/11/25/alstom-ve-retomada-do-setor-de-mobilidade.ghtml

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