Respiro pós-pandemia

Antonio Carlos Sanches - Presidente Supervia

Depois da tempestade vem a bonança. No caso da SuperVia, não é bem um momento de bonança, mas a sensação é de que o pior já passou. Afetada pela queda brusca de passageiros durante a pandemia – e pautada por um contrato em que a receita é 100% ancorada na tarifa paga pelos passageiros – a empresa entrou numa crise nunca antes vista em 24 anos de concessão. De 600 mil passageiros em fevereiro de 2020, passou a transportar 180 mil nos meses seguintes à chegada do coronavírus. Hoje está em 350 mil/dia. Nos cálculos da SuperVia, o prejuízo com a redução de usuários chega a R$ 1,05 bilhão.

O respiro veio através de um acordo com o governo do Rio para o recebimento de R$ 250 milhões, como ressarcimento pelas perdas com a pandemia. O valor está sendo pago à empresa em parcelas, que vão até dezembro. Em troca a SuperVia se comprometeu a fazer uma série de melhorias no sistema, incluindo via permanente, sinalização, comunicação com os passageiros e material rodante. Entre elas, obras para deixarem subterrâneos os cabos do sistema de sinalização, para evitar o furto deles. A questão é grave: de janeiro a outubro de 2022, a SuperVia registrou 1.553 ocorrências em todos os ramais, que corresponderam a 115 quilômetros de cabos retirados do sistema.

O fôlego financeiro do acordo fez diminuir um pouco os problemas, mas eles não desapareceram. Pelo contrário, foram expostos no relatório final de uma CPI convocada este ano por deputados da Assembleia Legislativa do Estado do Rio, a Alerj, para investigar os problemas no serviço, como interrupções e atrasos, superlotação das composições, falta de acessibilidade e preço da tarifa. O documento, que chegou a apontar um pré-colapso do sistema, precisa ainda ser aprovado em plenário. Segundo o presidente da SuperVia, Antonio Carlos Sanches, a empresa aguarda o parecer final, com as recomendações, mas adianta que algumas questões tratadas no relatório, como a falta de acessibilidade, já estão em andamento na companhia.

Em janeiro deste ano, a SuperVia assinou com o Ministério Público Estadual um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), para a execução de obras de acessibilidade. A intenção é deixar acessíveis todas as 104 estações do sistema. As obras devem ter início em 2023, com recursos próprios da SuperVia. O valor previsto para a execução de todo o projeto é de R$ 186 milhões, e o prazo para conclusão é 12 anos após assinatura do TAC.

A empresa negocia ainda com o governo do estado outro termo aditivo ao contrato de concessão, dessa vez, para manutenção da tarifa social, aquela em que o governo banca uma parte do valor pago pelo passageiro. “A concessionária não deixa de receber e o passageiro não vai pagar uma tarifa mais alta. Ele paga uma tarifa menor, porque o governo banca uma parte. Isso está em negociação, mas também não há nada fechado”, diz Sanches.

Para ele, a pandemia trouxe a oportunidade de se colocar na mesa todos os problemas que envolvem a mobilidade urbana no Brasil. “A pandemia deixou à vista todos os problemas, não só da SuperVia, mas da mobilidade no Rio, no Brasil e no mundo. Uma série de questões vieram à mesa para serem tratadas, discutidas e isso é urgente”.

“A pandemia agravou a situação das empresas como um todo. Mas também foi uma oportunidade, porque colocou na mesa todos os problemas de uma vez.”

Antonio Carlos Sanches – Presidente da SuperVia

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