Valor Econômico – A Comerc Eficiência e a Casa dos Ventos firmaram um pré-contrato com o Complexo do Pecém, no Ceará, para a instalação de unidade fabril de produção de hidrogênio e amônia verde em 2026. A expectativa é que a planta tenha capacidade para até 2,4 gigawatts (GW) de eletrólise.
O acordo está em fase de licenciamento ambiental e projeto básico para iniciar a implantação, caso os estudos ambientais e técnicos apontem viabilidade. Quando estiver em plena capacidade, em 2032, o empreendimento deve produzir mais de mil toneladas de hidrogênio verde (H2V) — gerado por energia renovável — por dia, possibilitando a entrega 2,2 milhões de toneladas de amônia verde por ano.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
Recentemente as empresas fecharam um Memorando de Entendimentos com o Porto do Açu, no Rio, para promover estudos que viabilizem usinas eólicas em alto-mar (offshore) e unidades de hidrogênio verde na costa do empreendimento portuário para atender o mercado interno.
Agora a estratégia com Pecém é viabilizar uma planta de produção e comercialização de hidrogênio e seus derivados utilizando o terminal cearense para exportar a produção, principalmente, para países da Europa, além do fato de Pecém ter como acionista o Porto de Roterdã, na Holanda.
O presidente da Comerc Eficiência, Marcel Haratz, e o diretor de Novos Negócios da Casa dos Ventos, Lucas Araripe, lembram que já haviam firmado um Memorando de Entendimento com o Governo do Estado do Ceará e outro com o próprio Complexo do Pecém para assegurar a participação à frente do projeto.
“O Brasil tem uma posição geográfica muito boa e possui recursos de geração renovável, mas precisa dar incentivos ao hidrogênio verde para que isso cresça e trazer isso como uma pauta importante para que o país não fique para traz”, diz Haratz.
A planta deve ocupar uma área de até 60 hectares na Zona de Processamento de Exportação do Ceará (ZPE Ceará) e evitar a emissão de até 430 mil toneladas de CO2 por mês, por meio da geração de hidrogênio verde.
“Açu e Pecém são exemplos de projetos maiores com hidrogênio e amônia para exportação, mas também estamos estudando os portos de Aratu e Suape, na Bahia e Pernambuco, que estão em estágio mais inicial de tratativas com o governo e os portos”, afirma Araripe.
A parceria deve trazer ganhos para os dois lados. A Comerc como uma gestora de energia, entra com uma carteira de 4,1 mil unidades consumidoras e detém 16% do Mercado Livre de Energia, o que corresponde a 6% da carga total de energia do país. Já a Casa do Ventos traz o conhecimento de desenvolvimento de grandes parques eólicos para um negócio em que 70% do custo de produção vem da energia elétrica.
“Tendo a Vibra como acionista da Comerc e a TotalEnergies como acionista da Casa dos Ventos, a parceria ganha ainda mais robustez para projetos de grande porte no Brasil”, acrescenta Haratz.
Por outro lado, a exportação de energia renovável através de amônia para outras geografias exige uma modelagem de estrutura de dívida que as empresas ainda não definiram para bancar a infraestrutura onde será instalada a planta. Eles não arriscam quanto deverá ser aportado para a construção da planta, mas indicam que há muitos bolsos.
O BNDES é um dos interessados em financiar uma planta em escala, há ainda uma movimentação internacional de fundos de investimentos ou até mesmo subsídios embutidos na conta de luz ou de governos. Os empresários falam que o empreendimento tem potencial de movimentar cerca de US$ 7 bilhões em negócios, empregos temporários, investimentos e parcerias.
Esse é o terceiro pré-contrato assinado para hidrogênio do Complexo do Pecém. Antes, a Fortescue e a AES Brasil também assinaram com Pecém para viabilizar uma planta no complexo, que conta ainda com 24 Memorandos de Entendimento acordados com empresas brasileiras e estrangeiras.
Já decisão final de construção de uma planta ainda não saiu. Especialistas avaliam que o mundo ainda vive um cenário de indústria nascente, mas o caminho para uma economia de baixo carbono começa a ser pavimentado. O professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, avalia que o primeiro e mais simples elemento da tabela periódica, e também o mais abundante no universo, o H2, começa a ganhar corpo no Brasil e é considerado a fonte do futuro, se produzido com energia renovável.
“Podemos nos tornar a ‘Arábia Saudita’ do hidrogênio. A rota tecnológica mais confiável e segura é a produção pela eletrólise, com a quebra das moléculas da água para produzir hidrogênio. Entretanto, esta é uma indústria nascente e as primeiras unidades ainda estão sendo construídas”, afirma o professor.
Castro acredita que se os projetos avançarem, as atividades que utilizam gás natural, petróleo e carvão gradativamente serão substituídas pelo hidrogênio verde em diferentes formas, como amônia, querosene, entre outros.
Seja o primeiro a comentar