Veja – Inaugurada no século 19, e inativa há cerca de 40 anos, a Estação Ferroviária de Taubaté (SP) começou a ser restaurada para abrigar um centro de inovação com foco nas indústrias criativas, tecnologia, turismo e cidades inteligentes.
O projeto recebeu 6,2 milhões de reais do Programa Nacional de Apoio à Cultura, dos quais 4,3 milhões são do BNDES. As empresas EDP, MRS e Gestamp também apoiaram a iniciativa.
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Em 2021, o Conjunto da Estação Ferroviária de Taubaté foi declarado Patrimônio Cultural do Estado de São Paulo. O espaço deve abrigar a “Estação do Conhecimento” a partir de janeiro do ano que vem , quando está previsto o fim da obra.
“Vamos planejar um espaço dedicado à inovação aberta, com auditório, coworking, laboratórios de mobilidade, segurança cibernética, cultura maker, economia criativa e turismo”, explicou Rodrigo França, fundador e presidente do Instituto I.S, responsável pelo projeto.
A Estrada de Ferro Central já foi a principal ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro e faz parte da construção da identidade do Vale do Paraíba, especialmente no período do Ciclo do Café. A ferrovia não transporta mais passageiros, mas trens de carga passam cerca de quatro vezes ao dia carregados de minério de ferro, areia, containers, chapas de ferro para indústrias automotivas e construção civil.
UM DIA EM BARÃO DE MAUÁ
Por Wilson PS
Foram tantas vezes, tantas alegrias, idas e vindas, um verdadeiro sonho que acabou; valia apena o embarque e desembarque na opulenta Barão de Mauá, agora como num pesadelo, incomodo-me vê-la mesmo ao longe.
Bom, podemos lembrar, imaginar, pensar! Temos o privilégio de sermos dotados de memória e sentimentos, temos emoções, sensações – “recordar é viver!”. Sim, vale apena sonhar, lembrar os bons tempos da gare da Leopoldina nos seus áureos momentos, até mesmo imaginar como seria se jamais tivesse seu tráfego interrompido e e entregue ao total abandono.
A máquina do tempo está ligada e pronta para mais uma viagem fantástica será pura nostalgia. A estação principal da Leopoldina antes de sua decadência forçada está a sua espera, sem dúvidas tu és um privilegiado! Que tal passar um dia na estação Barão de Mauá? Embarque comigo nesta epopéia, acomode-se no assento, o maquinista está soando o apito, o trem já vai partir.
São cinco horas da manhã de um dia qualquer de quarta feira, escolhi este dia propositalmente, justamente para melhor ilustrar esta epopéia pelos trilhos da Leopoldina; nas plataformas anexas à épica arquitetura inglesa, ainda quase deserta, por todo dia a movimentação de trens e pessoas será intensa, na hora do rush multidões hão de acotovelarem-se na disputa por um assento nas várias composições que partem em direção aos Subúrbios – Penha e Caxias, em Saracuruna os trens bifurcam, para Vila Inhomirim e Guapimirim.
Conforme o tempo passa passageiros vem e vão, vão e vem. De Barão de Mauá partem trens para várias regiões, o subúrbio é fregão, os camelôs sabem, vendem de tudo um pouco.
Um senhor negro e elegante e com sorriso largo, chapéu de couro ostentando elegância, de terno e gravata circula com a bengala na mão, de vagão em vagão alegrando a viagem com versos e prosas, hora certa e boa informação ele tem para dar.
O ceguinho sabe tudo! Não há assíduo no subúrbio daqueles dias que não o tenha conhecido, era seu cotidiano, ali ganhava a vida. Nos velhos carros de madeira, sua ilustre presença fazia parte do cenário. De Barão à Penha, no sacolejo da composição o elegante ceguinho informava a chega o trem em cada estação, era exato:
As vezes descia na Penha ou Caxias e de volta à Barão retornava num outro comboio. Os trens cruzavam em movimento haviam quatro linhas entre Barão de Mauá e estação da Penha dali a linha era dupla até Saracuruna, era o entroncamento “Vila ou Guapi?” Você escolhe!
De vagão em vagão o o alegre ceguinho percorria sorrindo e cantando, a bengala era sua bússola, o trem era seu ganha pão; tudo isso vi e muito mais, em meu coração pensava: a Leopoldina é eterna não acaba, jamais!
Nas viagens, pra lá e pra cá, no vai-vem frenético das composições pedintes aos montes, “dá uma esmolinha pelo amor de Deus!”; vendedores de mafuá, com pouco dinheiro tudo se podia comprar.
Tudo me remete a memória,
como era bom andar de trem,
é inesquecivel o que vou relatar,
Ah que saudade me dá,
dos tempos da gare Barão de Mauá.
Um sanfoneiro acompanhado de um menino com pandeiro na mão, entoava uma canção
da gaita uma linda melodia, qualquer moeda lhe valia.
O subúrbio era um vai-vem danado, na hora do rush trem lotado.
A grade dos tempos hodiernos é vergonha, naqueles tempos não era assim – tinha trem a todo instante isso torna essa história ainda mais interessante 😜
Nas plataformas as composições, formadas e a formar, uma ou outra já já irá partir, é um chega e sai a todo momento, o movimento na gare Barão de Mauá não para!
Lá vai o carregador empurrando o carril repleto de malas dos passageiros do interior.
Na frente do comboio vai o carro Bagagem, deixa de bobagem, é seio isso? Claro, até Correio, oh tempo bom!
Jornais revistas, correspondências…
A procura pelos trens serranos parece que jamais terá fim, Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo – a Leopoldina era assim!
O trem parte vagarosamente deixando para trás o belo cenário transpassando desvios sob imponentes pórticos de sinais, vai lento pelos cruzamentos das linhas. Embalo, só após “São Christóvão”, ali a parada è breve, corre senão perde o comboio.
Nos serviços de subúrbios são sete carros, mas quase viajo em pé, hora do rush, não tem jeito.
Acomodados nos assentos, os passageiros, sonolentos, sabujos e rabujentos, outros a tagarelar, conversa vai conversa vem até o fim da viagem.
O trem parador não vem jeito! o rápido é expresso já passou por Bom Sucesso, Ramos e Olaria, só para na Penha e Caxias e depois Saracuruna, dali segue.
O “mata sapo”, sai da frente , corre muito, as Ramonas mesmo cansadas davam conta do recado. A exuberante rendeira atraia olhares, que coisa linda, pena que rodou pouco, era diesel hidráulica. Mas as dieseis elétricas roubaram a cena, a era do vapor ficou para trás; os velhos carros de madeira tem vida longa, mas seu fim está próximo.
Em Vila se contemplava a manobra, parecia coisa de outro mundo, a grande locomotiva dava lugar as pequenas que iam empurrando os carros de dois em dois. Quem ia para Petrópolis aproveitava o espetáculo alguns e apressados não pensavam assim. Hora de enganar a fome, um o saboroso pastel, refrescos, e refrigerantes, caldo de cana, picolé de picolé do Carirí: chupa aqui, cai ali!
Em Guapi era a mesma coisa, o sistema era o mesmo antes do trem prosseguir até Teresópolis, a rotina marcou o tempo.
O ar puro, o clima da serra é um restaurador de pulmões; outrora, um privilégio em nossa terra.
Como é bom viajar de trem pelo subúrbio do Rio de Janeiro, com pouco dinheiro, posso ir longe, conhecer e desfrutar, e ainda tem a vantagem da pitoresca viagem, mas foge doa hora do rush!
Vão erradicar quase tudo, que sacanagem!
Os trechos de serra serão a bola da vez, os ônibus roubaram “os freguês”;, Conversa fiada! Acabou porque assim se quis.
As coisa boas que a Leopoldina tinha l a oferecer aos poucos desapareceu.
Nos bom tempos, em Barão de Mauá, nem imaginava que tudo iria acabar, estou lá, curtindo cada momento, coisa que só a máquina do tempo proporciona.
A procura por bilhetes é diuturno, nas nas bilheteria sempre tem fila, mas o governo é sacana diz que trem de passageiros não gera grana, não há demanda, quem manda desmanda. Governo não anda de trem e nem gosta de povo, só aparece no tempo oportuno em busca de voto.
Mas a máquina do tempo me trouxe na odisséia do cronos, tô nem aí, se um dia tudo vai acabar, o momento é ímpar, jamais posso isso imaginar!
É começo de manhã expresso Campista vai partir, apitou o maquinista! O mineiro vai logo atrás!
O cacique viaja no silêncio da noite cortando cidades e vilarejos numa armoniosa sinfonia dos trilhos riscando o cenário com seu farol ofuscante até chegar em Campos.
Ali tiram-se os carros dormitórios e acopla-se o restaurante, depois o comboio prossegue elegante
A locomotiva ofegante, na viagem sacolejante
subindo a serra de Soturno
Em Cachoeiro o trem de madeira aguarda acomodarem-se os passageiros do Cacique para Vitória.
Agora são sete da manhã, em Barão de Mauá a luxuosa Litorina partiu em direção à Macaé e Campos dos Goytacazes, as 15h outra litorina partirá.
A Carolina vai de litorina, mas a Monique vai no Cacique.
O “lnconfidentes” só sai ao anoitecer vai cortando a região da zona da mata mineira passando sobre rios, lagos e cachoeiras. Não março bobeira aproveito viagem. Pela manhã abro a janela, montanhas e serras, a beleza de terras me impressiona, fazendas com criações de gados margeiam a linha. O maquinista soa o apito assustando os animais, alguns fitam o comboio, outros fogem com medo; manadas de bois, cavalos, suínos e caprinos, galinhas ciscando, gente observando o passar do trem sob os primeiros raios de sol.
O boiadeiro conduz a boiada assustada com o berro da locomotiva – hey boi!
A Leopoldina jamais é ingrata, oferece trens noturnos, expressos e mixtos.
No mixto tem que ter um pouco de paciência, as manobras constantes faz a viagem ser demorada, a jornada é longa
mas vale a pena!
Quem teve o “privilégio” de viajar nele com a esposa e a sogra faladeira não quer mais o mixto, mas com a namorada, vale a pena.
Um dia em Barão é pura reflexão, o saguão lembra um bela praça onde se transitam frenéticos cidadãos apressados.
Bom não é apenas ver as partidas para o interior e as chegadas de passageiros exauridos; alguns satisfeitos, outros nem tanto, sempre há os resmungões, assim é o dia em Barão.
Um dia em Barão de Mauá é uma eternidade – passado e presente, um espetáculo à parte; mas, e o futuro?
O futuro será amargo e cruel, quem viver verá!
No belo saguão imponentes colunas toscanas sustentam o teto em intricadas de ferro no melhor estilo inglês.
A abóboda exibe a fabulosa clarabóia que fornece luz natural, cinzeiros de bronze polido espalhados desde o hall de acesso.
A gare inglesa com sua incomparável beleza impressiona! Pena não ter tido concluída sua bela construção.
O mangue é testemunha de sua beleza e de quantos ali transitam.
Banheiros limpinhos, a limpeza é marca registrada na estação de Barão de Mauá.
Os quiosques redondos de madeira escura constrastam com as belezas dos luzeiros suspensos.
Os portais em arco são um vislumbre, os relógios exibem a hora certa, coisa de inglês.
Na confortável sala de espera alguns aguardam a chegada e partida de entes queridos.
O restaurante, bares e lanchonetes são demasiadamente atrativos seja para um badalado almoço, uma refeição frugal, ou um lanchinho rápido.
Da cafeteria exala um cheirinho agradável, nas lanchonetes tem pastel de queijo, carne moída e camarão, Caldo de cana gelado, Coca-Cola, Mineirinho, Pepsi, Fanta, e Crush.
Mas tome muito cuidado! quem bebe Grapette, repete!
A charutaria é um bom atrativo, bombonier, leve um solvenirs!
Um bigodudo que sabe de tudo folheia o jornal;
A menina levada da breca destrói a boneca;
Um velho barbudo, careca e barrigudo, cochila na cadeira do engraxate.
Um dia em Barão de Mauá é um aprendizado.
Epa! derrepente um tumulto! – um sujeito aloprado foi detido pela Polícia Ferroviária, o bicho pegou!
Em Barão de Mauá tem que ter bom comportamento, só tem lugar para a paz!
Mas na hora do rush ninguém é de ninguém, é um alvoroço, um pega pra capá, uma disputa louca por um assento.
Uma velha senhora esqueceu a sacola; procure no guarda volumes, “tá lá”, pra que tanto desespero!
Perdeu o trem para Guapimirim? não tem problema, espera o próximo, não é como hoje, não demora uma eternidade.
Você pode embarcar no Vila Inhomirim e soltar em Saracuruna, ou se quiser esperar, logo logo tem outro!
A Estação de Barão de Mauá é principal ponto de convergência dos trens da Leopoldina, todos vão para lá.
É a melhor opção, no subúrbio não tem
Baldeação,
Esta aberração ainda vão criar, você entra no trem e vai numa boa, sentado o u em pé, até o ponto final se desejar.
Um dia em Barão é um espetáculo a parte, trens indo e vindo de todo lugar, sob os pórticos de sinais, transpassando os desvios, manobrando no pátio, isso não tem igual, nem mesmo na Central.
Voltemos a realidade, a máquina do tempo é um devaneio. O sonho acabou, um amargo pesadelo aconteceu, o contraste é cruel.
Meu apelo é que tudo volte a ser como antes.
A Barão de Mauá em vão clama implorando socorro.
Denuncias, cobranças… De quem é a culpa?
Governo vai, governo vem, nada se faz, tudo por culpa de “homens satanás”
Um dia em Barão é para reflexão!
É pura emoção,
é não querer voltar pra casa!
Só mesmo a máquina do tempo tal viagem pode proporcionar.
Fomos além da imaginação
Você viajou comigo neste “trem bão” mas a viagem chegou ao final
Ah minha linda estação!
Ah minha querida Barão de Mauá!
Quanta tristeza me dá
Vê-la do jeito que está, é tão cruel vê-la assim,
quase me faz chorar.
O que vi não verei mais,
nem sei se algum dia alguém de ti irá lembrar,
ter consciência que és uma estação de trem e não uma coisa qualquer perdida no tempo.
Não podes se tornar museu de trem
nem mercado popular,
és estação e assim deve ficar.
Ah, como é bom lembrar. Sonhar não é proibido! Que tudo volte ao seu devido lugar!
Sonho ainda ali embarcar num trem como no passado podia sem titubear.
A noite está chegando, por aqui vou ficar!
Espero que tenham gostado desta viagem singular
pois a máquina do tempo terei que desligar.
Difícil como a coisa veio acontecendo até chegar ao ponto que chegou. Falar sobre a situação degradante em que se encontra a Estação de Barão de Mauá o antigo terminal da EF Leopoldina, não é tão simples como pensam alguns. Nos reportemos aos seus áureos tempos, construída e inaugurada em 1926 a gare alcançou seu apogeu nos anos 1940-1960 quando era grande a procura pelos trens do interior e Subúrbios. É fato que a Leopoldina Railway amargou o declínio do siclo cafeeiro, e que enfrentou dificuldades de toda sorte, embargos desde os anos 1930, perpassando o tenebroso período pós guerras mundiais até ser encampada pela união em 1950. Como ferrovia estrangeira operando em solo nacional a Leopoldina encontrou deveras dificuldades e precisava de mais atenção, foi notório o seu esforço para tentar manter a qualidade de seus serviços, mas a ferrovia de dimensões colossais ao passar para o comando da união foi aos poucos perdendo sua identidade. Para não me alongar gostaria se a Revista Ferroviária teria o interesse em contactar-me para podermos falar um pouco mais sobre esta espetacular estrada de ferro, Leopoldina.
Falemos pois então sobre a estação de Barão de Mauá e o início de sua decadência.
Após a encampação e posteriormente com a criação da R.F.F.S.A. em 1957 como eu disse antes a Leopoldina sobre tudo nos subúrbios foi perdendo sua identidade ficando a mercê de uma política equivocada que a queria transformar numa extensão da rival Central do Brasil. A eletrificação dos subúrbios da Leopoldina apartir do início da década de 1960 não necessariamente obrigaria a troca de sua bitola original, as quatro vias de bitola métrica entre o terminal Barão de Mauá e a estação da bastava ser eletrificado e modernizado o seu sistema. Da Penha até a estação de Saracuruna o Subúrbio contava era composto de via dupla que poderia muito bem ser eletrificado mas os larguistas acharam melhor “enlarguecer a linha” a ideia era aproveitar os séries 100 e 200 introduzidos desde 1937 nos Subúrbios da Central, nas linhas da Leopoldina.
O primeiro trecho enlaguecido se deu em 1965 entre a estação de Francisco Sá e a Penha Circular em 1965 sendo prolongado até Duque de Caxias em 1970 e Gramacho em 1980, a ideia era alcançar Saracuruna ainda em 1970, mas isto só aconteceu duas décadas adiante.
O ano de 1976 marcou o início da decadência da estação terminal da Leopoldina, supressão do trecho suburbano de bitola métrica para a substituição das bitolas de acesso as plataformas de Barão de Mauá poderia ter um resultado melhor se houvessem implantado o terceiro trilho. Os trens para Vila Inhomirim e Guapimirim foram suprimidos no terminal, sua partidas passara a ocorrer em Duque de Caxias e Saracuruna, estações tão pequenas em relação a gare Barão de Mauá agora ex terminal da Leopoldina transferida para Campos e integrada a recém criada Divisão Especial Subúrbios do Grande Rio.
Os países Asiáticos em expansão, como exemplo, a Malasia, lá existe o KTM-ETS. Se não tivessem modificado tanto os trechos suburbanos da antiga Leopoldina substituindo sua bitola original sem dúvida poderíamos ter trens modernos de bitola métrica como os KTM-ETS perfazendo até os dias de hoje o circuito Barão de Mauá-Vila Inhomirim/Guapimirim, sem as incomodas estressantes baldeações.
Wilson Peixoto Silva é Desenhista e pesquisador ferroviario,criador de A Leopoldina Renasce na Arte.
As obras de Wilson remontam os velhos e bons tempos da saudosa e lendária Estrada de ferro Leopoldina.