Valor Econômico – Em mais uma tentativa de tirar a Linha 17-Ouro do papel, o Metrô de São Paulo assinou, na quinta-feira (31), o contrato para retomar as obras do monotrilho na capital paulista. Quem assumirá a construção será a Agis, antiga construtora Ferreira Guedes, controlada por Eduardo Capobianco. A partir da ordem de serviço, que deverá sair em 11 de setembro, a empresa terá 18 meses para concluir o empreendimento.
A expectativa do governo paulista é que a operação tenha início (de forma parcial) no primeiro semestre de 2026. “Este ainda não é momento de comemorar, é mais um momento de arregaçar as mangas e retomar o trabalho”, afirmou o presidente do Metrô, Júlio Castiglioni, ao Valor.
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O novo contrato, firmado com base na proposta feita pela Agis na licitação de 2019, tem o valor de R$ 847 milhões. Na concorrência realizada à época, a empresa ficou em sétimo lugar. As duas primeiras classificadas foram a Constran, que foi declarada inabilitada após disputa judicial, e o consórcio formado por KPE e Coesa (ex-OAS), que tiveram o contrato rescindido por descumprimento em maio deste ano.
Antes de fechar com a Agis, o Metrô consultou todas as concorrentes – nove, sem contar Constran e Coesa – para saber se aceitariam assumir a obra pelo valor oferecido pela primeira colocada. Porém, ninguém se candidatou.
Na sequência, o Metrô consultou as empresas sobre o interesse em assumir com base em suas próprias propostas de 2019, corrigidas pela inflação. De três que aceitaram, a Agis era a melhor classificada. O valor da oferta, que era de R$ 615,5 milhões, passou por uma correção, com base em índice previsto no edital, que somou 42,1%, e no ajuste do escopo de obras necessárias.
O governo paulista chegou a estudar outras duas alternativas. Uma seria fazer nova licitação, o que levaria mais tempo. Outra opção era incluir as obras na concessão da ViaMobilidade. Embora a alternativa fosse considerada viável juridicamente, houve temor de que eventuais questionamentos ao aditivo atrasassem – ainda mais – o processo.
A construção da Linha 17-Ouro, que vai conectar o aeroporto de Congonhas à estação Morumbi, começou em 2011. À época, a ideia era fazer a entrega até a Copa do Mundo de 2014, plano que foi frustrado por uma série de problemas nas contratações.
A Agis será a quarta responsável pelas obras civis. O primeiro grupo foi o consórcio CMI (Andrade Gutierrez, CR Almeida e Scomi). O contrato foi rompido em 2019, após a paralisação das atividades. Depois veio a Constran, que venceu a nova licitação realizada, mas que na sequência foi inabilitada após questionamentos judiciais. Quem assumiu foi o segundo colocado da concorrência, o consórcio formado por Coesa e KPE. O contrato também foi rescindido em maio de 2023, após a constatação de descumprimento do cronograma.
“Ainda não é hora de comemorar, é hora de retomar o trabalho”
— Júlio Castiglioni
“Sabemos da pressão e da responsabilidade em torno dessa obra. O prazo de 18 meses é justo, mas exequível”, afirmou o presidente da Agis, Erasto Messias da Silva Junior. A empresa foi fundada em 1936 e já fez parte do mesmo grupo da Construcap, mas em 2012 houve uma cisão. A companhia tem no portfólio diversas obras do Metrô, diz ele.
Para a Agis, resta construir cerca de 20% das obras civis. Considerando toda a implementação (que inclui trens, sistemas de telecomunicações, sinalização etc), falta em torno de 40%.
Outro grande contrato da Linha 17 é a fabricação de seus 14 trens, sob responsabilidade da chinesa BYD. Neste momento, técnicos do Metrô estão na China fazendo testes. Se tudo der certo, a previsão é ter a liberação até o fim de 2023, para que os primeiros trens comecem a chegar ao Brasil em fevereiro de 2024.
“A Linha 17 tem uma importância central para recuperar a credibilidade junto à sociedade. Estamos entregando na velocidade possível”, diz Castiglioni. O orçamento total do empreendimento soma hoje R$ 5,1 bilhões.
Ele também destaca outras obras de peso em curso, como a extensão da Linha 2-Verde até a zona leste. A meta é entregar, até 2026, a ampliação até a Vila Formosa e, em 2027, até a Penha. Em outubro deve entra em operação a tuneladora da escavação, com 11,6 metros de diâmetro.
Para além das obras de expansão, o Metrô ainda tenta se recuperar do baque da pandemia. Hoje, o fluxo de passageiros do sistema segue abaixo do nível pré-crise, com 80% do patamar de 2019. “O retorno da demanda está lento, e não temos expectativa de retomada mais rápida”, afirma.
Segundo o presidente, hoje, a meta é diversificar as fontes de receita. “A companhia precisa se reinventar para não ser tão dependente da arrecadação tarifária. Há um esforço enorme para tornar a empresa mais resiliente.”
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