Exame – Os investimentos verdes, direcionados a combater as mudanças climáticas, podem ajudar a custear projetos de infraestrutura, como estradas e metrô, debateram participantes do evento InfraESG Talks.
No encontro, realizado em São Paulo, representantes de órgãos de governo, de empresas concessionárias e do setor financeiro debateram modelos e ideias para avançar a implantação de ações ESG em várias frentes.
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Na parte de investimentos em infraestrutura, participantes destacaram que a primeira emissão de um título de dívida ESG, feita pelo governo brasileiro neste mês, captou US$ 2 bilhões. “Isso corroroba a existência de recursos globalmente disponíveis. Nesses 2 bilhoes captados, a demanda ultrapassou 6 bilhões, e 75% dos recursos captados eram oriundos da Europa e América do Norte. A gente captou 2 bilhoes, mas havia potencial para mais do que isso”, disse Nathália Saad, chefe do Departamento de Infraestrutura e Concessões Rodoviárias do BNDES.
“Um estudo do BCG [Boston Consulting Group] estima que o Brasil pode receber de 2 a 3 trilhões de dólares até 2050 em áreas de economia verde”, disse Miguel Setas, CEO do Grupo CCR. “Isso pode ajudar a recuperar o atraso. O Brasil investe 2% ao ano em infraestrutura, mas especialistas dizem que deveria ser 4%. Em dez anos, para recuperar o atraso, seriam necessários 800 bilhões de dólares.”
A adoção de critérios ESG também pode ajudar a reduzir juros. Um caso de destaque é o da Acciona, que constrói a linha 6-laranja do metrô de São Paulo. A empresa conseguiu melhorar as condições do financiamento junto ao BNDES colocando indicadores de sustentabilidade, como a aceleração de startups. Em 2021, o banco estatal criou regras para favorecer renegociações desse tipo.
“O projeto da linha 6 [do metrô de São Paulo], por ser uma linha de metrô, já é por definição uma atividade carbono zero e sustentável. E além dessa denominação, cria também algum tipo de impacto social. Quando você leva transporte público para uma região menos desenvolvida, possibilita uma melhora na qualidade de vida das pessoas”, disse Alex Sciacio, superintendente de Finanças Sustentáveis do Santander Brasil. “É algo que pode ser replicado no financiamento de uma rodovia ou ferrovia”, acrescentou.
No mesmo painel, Rafaella Dantas, diretora executiva da área de ESG no BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), disse que a equipe de análise ESG do banco participa de todas as operações e considera riscos ambientais, sociais e climáticos envolvidos nos negócios.
Dantas deu um exemplo de uma operação envolvendo uma usina a carvão. “A gente decidiu participar porque caso o BTG não participasse, as condicionantes não seriam nem pensadas. A usina fica em um município pequeno, que só existe pela usina, então não faria sentido a gente exigir que ela fosse fechada amanhã. Então a gente determinou que eles fizessem um comissionamento responsável, para reduzir suas emissões de carbono, e que seja fechada em 2040. Ela teria o direito legal de operar até 2050”, contou.
Para Natália Marcassa, CEO da Moveinfra, entidade que reúne grandes concessionárias do país, há recursos ‘verdes’ no mercado, mas ” menos do que a precisa, e menos em uma taxa que a gente precisa. O Ministério da Fazenda está tendo um olhar para o mercado de carbono, para uma taxonomia da transição ecológica, só que a gente precisa acelerar, porque as mudanças climáticas estão vindo.”
“Tentamos achar que essa realidade vai chegar daqui a muito tempo, mas a mudança climática já chegou. Nos 30 dias de setembro, ficamos 28 sem poder fazer obras em uma rodovia no Rio Grande do Sul [por causa das chuvas]”, disse Setas do grupo CCR. Ele pondera, no entanto, que a solução para os problemas no clima global passa pelo Brasil. “Se algum país pode fazer a diferença no mundo, é o que tem matriz energética mais limpa do mundo, florestas tropicais, grandes reservas de água. A solução está aqui.”
Fonte: https://exame.com/brasil/investimentos-verdes-poderao-viabilizar-novas-obras-de-estradas-e-metro/
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