Estadão – “Desde ontem não há mais linhas de bonde em São Paulo. Numa verdadeira festa popular, o governador do Estado, o prefeito e diversas outras autoridades fizeram ontem à tarde a última viagem da única linha que restava, a Instituto Biológico-Santo Amaro.
Foguetório, pequenos comícios a cada parada, muita gente em todo o trajeto e o motorneiro mais antigo da CMTC puxando um cortejo de 12 bondes enfeitados com faixas, flores e bandeiras fizeram a festa que marcou o fim da história de quase 68 anos dos bondes paulistanos.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
No ponto final da viagem, largo 13 de Maio, houve um comício em que falaram o governador, o prefeito e vários vereadores e deputados.”
Assim o Estadão noticiou a última viagem de bonde de São Paulo em 1968. Leia a íntegra.
Foram-se os bondes
Desde ontem não há mais linhas de bonde em São Paulo. Numa verdadeira festa popular, o governador do Estado, o prefeito e diversas outras autoridades fizeram ontem à tarde a última viagem da única linha que restava, a Instituto Biológico-Santo Amaro.
Foguetório, pequenos comícios a cada parada, muita gente em todo o trajeto e o motorneiro mais antigo da CMTC puxando um cortejo de 12 bondes enfeitados com faixas, flores e bandeiras fizeram a festa que marcou o fim da história de quase 68 anos dos bondes paulistanos.
No ponto final da viagem, largo 13 de Maio, houve um comício em que falaram o governador, o prefeito e vários vereadores e deputados.
As 19 e 25, dentro do bonde 1.543, tendo ao lado o sr. Abreu Sodré, o deputado federal Pedroso Morta, a condessa Filomena Matarazzo, dona Iolanda Faria Lima, vários políticos e muitos populares, o prefeito deu a ordem ao motorneiro Francisco Lourenço Ferreira: “Toca o bonde”. E o cortejo partiu do ponto inicial, no Instituto Biológico, enquanto uma bandinha da CMTC tocava a “Marcha do Adeus”.
Cada bonde levava uma grande faixa: “Adeus. Nasce a Nova São: Paulo”. Dentro deles, esprimidos, quase sem poder se mexer, ass autoridades se confundiam com o povo
AS PARADAS
Algumas das paradas que o cortejo fez não estavam no programa. Mas os populares não ligaram muito para o protocolo. Queriam ‘fazer festa em cada ponto e obrigavam o governador e o prefeito a participarem. Em Campo Belo, um morador mais entusiasmado colocou umas mesas sobre o trilho, fez os bondes pararem e exigiu que o sr. Abreu Sodré e o brigadeiro Faria Lima tomassem champanhe num “brinde ao progresso.”
Mais adiante, foi a vez de um grupo de freiras saudarem os governantes. Com todas essas paradas, o cortejo levou uma hora para chegar até Santo Amaro.
REMINISCÊNCIAS
Durante a viagem, o governador Abreu Sodré começou a lembrar passagens de sua infância, quando fugia do cobrador, nos bondes abertos, para comprar sorvete com o dinheiro economizado da passagem; quando seu irmão, na hora de irem para a escola, ia correndo na frente para pedir ao motorneiro que “esperasse um pouco”, pois mano está atrasado”.
A filha do governador, Maria do Carmo, que nunca tinha andado de bonde, achou o passeio “muito legal”. Ficou o tempo todo ajoelhada num banco, com a cabeça de fora, “tomando ventinho’’, cumprimentando os populares e até dando autógrafos.
Tutuca, a filha do prefeito; junto com a mãe, puxava a cantoria “Valsa do Adeus” e “A’ Banda”, de preferencia. Até a condessa Filomena Matarazzo se entusiasmou com a festa e comentou que a ultima vez que andou de bonde, há muito tempo, foi na avenida Paulista. Mas não era “tão apertado”.
Quando chegaram ao ponto final, o motorneiro Francisco, muito preocupado, queria saber onde estava o prefeito. Quando soube que andara todo o tempo com o brigadeiro Faria Lima ao lado, saiu pela tangente: “Pudera, êle esta gordo demais”.
O governador êle reconheceu. A todo mundo fazia questão de contar que trabalhara 33 anos em bondes e nunca provocara nenhum acidente, “só algumas batidinhas sem consequência”.
O COMÍCIO
Num palanque armado no largo 13 de Maio falaram, pela ordem, os vereadores José Maria Marim e José Carlos Meirelles, o deputado estadual Aurelio Campos, o governador,o edil José Dinis, e, finalmente, o prefeito.
Todas os que antecederam o brigadeiro Faria Lima enalteceram sua administração e, particularmente, os benefícios que tem proporcionado àquela zona de cidade.
O sr. Abreu Sodré disse que hoje São Paulo é “uma Capital tranquila, porque tem à frente um prefeito dinamico”. Acentuou estar unido ao brigadeiro Faria Lima em torno de um objetivo comum: o trabalho, visando exclusivamente o bem comum.
O prefeito fez um retrospecto de suas realizações e explicou que apesar de ficar sem bondes aquela zona não sofrerá prejuízos, pois até que a nova avenida – que passará sobre a via férra – fique pronta, uma linha de ônibus com 15 carros atenderá á população, fazendo quase o mesmo trajeto dos bondes.”
Seja o primeiro a comentar