Mitsui decide reduzir participação e VLI pode fazer IPO

Valor Econômico – O conglomerado japonês Mitsui acaba de contratar o Bank of America (BofA) para vender uma fatia de sua participação na empresa de logística VLI, que detém a concessão da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), apurou o Valor. O objetivo, segundo fontes, seria de reduzir sua atual participação de 20% no ativo para cerca de 10%. O grupo, no entanto, deve seguir com um processo de abertura de capital em paralelo, disseram fontes com conhecimento no assunto.

A Mitsui avisou recentemente seus acionistas na VLI que ia pedir o início do processo de oferta inicial de ações (IPO, pela sigla em inglês). O grupo se faz valer de um direito, previsto em contrato, que em caso de gatilho de um processo de M&A (fusão e aquisição, em inglês) os sócios poderiam solicitar um encaminhamento de uma oferta de ações. Com a gestora canadense Brookfield contratando o Citi para se desfazer da participação de 26,5%, a empresa japonesa disparou a possibilidade de IPO. Além da Mitsui e Brookfield, são sócios da VLI a Vale, com 29,6%, FI-FGTS (15,9%) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Com isso, ainda de acordo com fontes, a VLI já teria entrado em contato com advogados para dar início ao processo, mas um sindicato de bancos ainda não foi contratado. Se a escolha para o desinvestimento for, de fato, por meio de um IPO, Mitsui e Brookfield podem vender em conjunto. No mercado, essa oferta é apontada como forte candidata para uma reabertura dos IPOs na bolsa brasileira, após mais de dois anos de seca. O processo de M&A segue caminhando, mas de forma independente entre os vendedores.

A VLI está marcada nos livros do FI-FGTS em R$ 18 bilhões, mas a visão da Brookfield, no entanto, é de que o ativo tem um valor mais próximo de R$ 30 bilhões, ainda de acordo com fontes. O valor efetivo da companhia, porém, ainda depende de quando e a que preço sairá a renovação da concessão da Ferrovia Centro Atlântica.

Fontes avaliam que, se o acordo com o governo sair, o potencial de valorização é grande, embora hoje a operação seja deficitária. A FCA é a maior concessão da operadora, mas tem dado prejuízo — entre janeiro e setembro de 2023, o resultado líquido foi negativo em R$ 64 milhões, contra um prejuízo de R$ 369 milhões no mesmo período de 2022.

O vencimento do contrato ocorre em 2026, e a empresa trabalha pela renovação por mais 30 anos. As conversas com o governo federal, porém, têm sido duras e estão em um momento decisivo. Pessoas envolvidas na discussão afirmam que, se não houver consenso até março, a renovação tende a não acontecer, e o governo seguiria para uma nova licitação. Em 2020, a renovação previa R$ 14 bilhões em novos investimentos e uma outorga de R$ 3 bilhões. Hoje, porém, os valores terão que aumentar “em alguns bilhões” para que o governo aceite a prorrogação antecipada, segundo fontes. Apesar da negociação difícil, as partes ainda acreditam em um acordo.

Sem a FCA, a avaliação do mercado é que a VLI fica até mais “redonda” do ponto de vista do balanço, porém, se torna uma empresa muito menor, dado que ficaria com a concessão do trecho norte da Ferrovia Norte-Sul (que não tem acesso direto a nenhum porto) e ativos portuários.

Por isso, um avanço no processo de venda ainda pode depender desse fator. Segundo uma fonte, a renovação precisaria ao menos estar bem encaminhada até mesmo para uma melhor definição de preço. Se a renovação sair, isso poderia inclusive afetar a disposição de acionistas atuais permanecerem no negócio, incluindo a Brookfield. Apesar dessa indefinição, tanto investidores estratégicos quanto financeiros já têm demonstrado interesse no negócio.

Procurada, a Mitsui não comentou até o momento. A Brookfield e a VLI preferiram não comentar.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/02/01/exclusivo-mitsui-decide-reduzir-participacao-e-vli-pode-fazer-ipo.ghtml

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