A Hora (RS) – A concessão das ferrovias nos três estados do sul do país está em discussão nos governos estadual e federal. Há duas possibilidades. Renovação do contrato com a Rumo Logística por mais 30 anos, ou aguardar 2027, quando termina o tempo de gestão da empresa sobre os percursos nos estados do Paraná, Santa Catarina e RS.
Em entrevista concedida à Rádio A Hora 102.9, o vice-governador Gabriel Souza defendeu melhorias nos trechos. “No nosso entendimento, a ferrovia está subutilizada. Temos uma demanda crescente de cargas e a resposta da empresa é que não há interesse. Não há interesse porque não tem trens”, afirma.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
De acordo com Souza, além do transporte, também existe um avanço em termos de transporte turístico pelos trilhos. Para tanto, defende, é necessário investimentos. “Temos pressa em resolver esse assunto. Estamos em contato com o governo federal, que está muito disposto a ouvir os estados.”
Em cima disso, os três estados do sul elaboram a contratação de um estudo de capacidade de transporte. O mapeamento visa estimar a quantidade de cargas disponíveis para uso do modal ferroviário.
Há duas possibilidades para contratação deste estudo, pelo consórcio dos estados do Sul e Sudeste, ou pelo Conesul. “Precisamos avaliar os aspectos jurídicos para esse investimento. O fato é que temos muita dificuldade técnica. Por falta de tradição do país em engenharia ferroviária, há poucos profissionais disponíveis. Quem tem mais expertise é o estado do Paraná.”
Na avaliação do vice-governador, os relatórios da Rumo Logística estão subestimados. “Eles dizem que não há interesse, não há demanda para transporte por trens. Nós discordamos. A cada ano colhemos mais, produzimos mais, temos toda a região Norte do estado com safras recordes. O problema é a falta de investimentos”, afirma.
Os trilhos antigos e sem manutenção, locomotivas sucateadas e lentas, fazem com que a oferta seja ínfima, diz Souza. Para ele, para o contrato ser prorrogado, o Estado precisa de garantias de que a malha sul terá mais atenção por parte da concessionária.
Porto de Estrela a Colinas
A Rumo Logística demonstrou interesse em devolver o trecho concedido nos três estados do sul. Porém, a legislação exige o pagamento de R$ 2,5 milhões por quilômetro. O valor era maior até dois anos atrás. Foi revisto pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Mesmo assim, nunca na história do país houve devolução. “É muito caro. Mesmo que a concessionária não use, ela aceita ficar com o trecho. Então fica naquelas, finge que está sendo usado.”
É o que acontece nos trechos do Vale do Taquari. Em especial nos pouco mais de dez quilômetros de Colinas ao Porto de Estrela. Não existe nem mais a base de ferro da ferrovia. Está inutilizada desde 2014, data da última chegada de um vagão ao antigo silos da Cesa.
“São mais de 3 mil quilômetros de malha férrea. A metade está abandonada. Para devolver antes do fim do contrato, a concessionária precisa pagar a multa e deixar como estava”, frisa o vice-governador. Significa, inclusive, ter de refazer o trecho do Vale do Taquari.
Assista a entrevista na íntegra
Seja o primeiro a comentar