Valor Econômico – A CCR anunciou, nessa sexta-feira (19), financiamento de R$ 10,75 bilhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para as obras da concessão RioSP, que incluem a rodovia Dutra e a BR-101 entre São Paulo e Rio. Segundo o presidente da companhia, Miguel Setas, a operação, como foi estruturada, dá segurança aos investimentos de R$ 15,5 bilhões previstos no contrato e permite que a alavancagem financeira não seja tão impactada, o que garante espaço no balanço para novos projetos — como os novos leilões de rodovias paulistas e as negociações para ampliação dos contratos de mobilidade urbana em SP.
O empréstimo inclui uma emissão de debêntures incentivadas de R$ 9,41 bilhões — segundo o banco, trata-se da maior operação de títulos incentivados já realizada no país. Adicionalmente, foi feito um empréstimo de R$ 1,34 bilhão por meio de uma linha na modalidade Finem.
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O vencimento é de longo prazo. As duas primeiras séries têm vencimento em 23 anos e taxa de IPCA + 6,90% ao ano. A linha do Finem vence em 22 anos e tem custo de IPCA + 8,68% ao ano. “É uma solução que nos dá visibilidade sobre as condições de financiamento de longo prazo”, diz Setas.
R$ 1,5 bilhão poderá ser desembolsado pelo mercado de capitais
Do valor total de R$ 10,75 bilhões, R$ 1,5 bilhão poderá ser desembolsado pelo mercado de capitais. O valor está previsto em séries “backstop”, que deverão ser lançadas entre 2028 e 2031 — pelo modelo, o BNDES garante o financiamento, mas caso haja demanda privada, o desembolso fica com o mercado de capitais.
Segundo a diretora de infraestrutura do BNDES, Luciana Costa, a operação traz duas inovações relevantes, que ajudam a não onerar o balanço da companhia. A primeira é que se trata de um financiamento na modalidade “project finance non-recourse”, em que as garantias de pagamento da dívida são os ativos e o próprio fluxo de caixa da operação, e não garantias do controlador.
A operação prevê apenas garantias para os aportes corporativos — bancos comerciais irão entrar com R$ 3,7 bilhões em finanças bancárias, para garantir os aportes da CCR e a cobertura de alguns riscos de construção e operação.
Principal obra é Serra das Araras
Hoje, a CCR já investiu R$ 1,4 bilhão na concessão RioSP. Até o fim deste ano, o valor deverá chegar a R$ 2,4 bilhões. A principal obra, e a com maiores riscos de construção, é a construção da nova pista da Serra das Araras. A obra já teve início — está em fase de terraplenagem e detonação — e deverá ser concluída até 2028.
“Foi possível fazer essa estrutura de financiamento porque a CCR é um operador de risco excelente, que tem qualidade de operação. E também porque é uma concessão muito antiga, desde 1996 tem um histórico de tráfego. É um ativo testado, isso permitiu que a gente fizesse essa inovação”, afirma Costa.
Outra inovação da operação de crédito é que os desembolsos serão feitos ao longo de nove anos, até 2031. A liberação de recursos dependerá da evolução das obras, mas a perspectiva é que, em média, sejam de R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões por ano.
“Como são desembolsos graduais dispersos ao longo do tempo, a alavancagem [medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda] vai estar dentro das faixas de 2,5 vezes a 3,5 vezes já comunicadas ao mercado, vamos continuar a circular dentro dessa faixa”, afirma Setas.
Novos projetos
O espaço no balanço é importante principalmente diante do volume enorme de oportunidades no radar da CCR. O grupo tem estudado leilões e possíveis aditivos contratuais nos setores de rodovias e mobilidade urbana.
Um dos focos citados por Setas são os leilões do lote Nova Raposo e Rota Sorocabana, que incluirão os trechos da atual CCR ViaOeste, concessão do grupo que chega ao fim e que será dividido em dois blocos para as novas licitações. “São prioridades óbvias para nós, são ativos que olhamos com particular atenção”, diz.
Em rodovias, ele diz que o grupo também está estudando o leilão da chamada Rota dos Cristais (BR-040 entre Goiás e Minas Gerais) e que deverá analisar os lotes 3 e 4 de rodovias do Paraná.
No segmento de mobilidade urbana, a CCR também negocia junto ao governo paulista dois possíveis aditivos para incluir novas obras à linha 4-Amarela (uma ampliação até o Taboão da Serra) e à linha 5-Lilás (até o Jardim Ângela). O Estado autorizou a companhia a realizar estudos para essas prorrogações. A estimativa de investimento é de R$ 3,4 bilhões a R$ 3,5 bilhões em cada um dos projetos.
Questionado sobre o avanço da repactuação da MSVias, concessão da BR-163 no Mato Grosso do Sul, que vinha em discussão com o governo federal e o Tribunal de Contas da União (TCU), Setas afirma que o processo está avançado e não há preocupações quanto ao andamento, mas diz que não há previsão de calendário para um acordo final.
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