Nova renúncia no conselho deixa Vale fora da regra

Valor Econômico – A renúncia da conselheira independente Vera Marie Inkster do colegiado da Vale, anunciada ontem, volta a jogar luz sobre os problemas no conselho da mineradora enfrentados desde janeiro, quando começou a discussão sobre a troca do CEO. O processo sucessório do presidente da Vale vem sendo marcado por tentativas de intervenção do governo na empresa.

Com a saída de Inkster, a Vale fica com seis conselheiros independentes, abaixo dos sete previstos como “mínimo” pelo estatuto social. Essa situação levanta dúvidas sobre quais podem ser os efeitos para empresa a curto prazo, uma vez que o conselho fica “desenquadrado” em relação ao que determina o estatuto, o principal documento da companhia.

Em comunicado, a Vale disse ontem que o conselho de administração vai convocar uma assembleia geral para deliberar sobre a recomposição do colegiado. É a segunda renúncia de um conselheiro da Vale em menos de quatro meses. Em 12 de março, tornou-se pública a carta de renúncia do também conselheiro independente José Luciano Duarte Penido, na qual fez críticas à maneira como vinha sendo feita a sucessão para presidente da mineradora: “Apesar de respeitar decisões colegiadas, em minha opinião o atual processo sucessório do CEO da Vale vem sendo conduzido de forma manipulada, não atende ao melhor interesse da empresa, e sofre evidente e nefasta influência política”, disse Penido em trecho da carta à qual o Valor teve acesso.

Em outra carta, divulgada pela Vale em 19 de abril, Penido recuou das críticas, mas o estrago estava feito. Com a renúncia de Penido e Inkster, o conselho da Vale ficou com 11 integrantes, dos quais seis independentes.

A renúncia de Inkster se segue à divulgação de um comunicado pela Vale, na sexta-feira (28), no qual a empresa disse que a apuração independente feita pelo Tozzini Freire Advogados sobre a sucessão do atual presidente concluiu que a governança da companhia foi respeitada no processo sucessório.

Vale informou que vai convocar assembleia de acionistas para ter a recomposição

A reportagem apurou que Inkster vinha enfrentando dificuldades de relacionamento com parte do conselho, que é liderado pela Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, e apontada, nos bastidores, como o braço de influência do governo na sucessão da Vale. Inkster é canadense, uma das duas mulheres no colegiado da empresa – a outra é a brasileira Rachel Maia -, e chegou ao conselho com a experiência de ter sido presidente de uma mineradora canadense, a Lundin Mining Corp. Na Vale, a executiva também ocupava os comitês de auditoria e riscos e de alocação de capital e projetos.

Inkster tinha ainda papel importante na interlocução com investidores estrangeiros, os quais detêm 65% do capital da mineradora brasileira. Na visão de um interlocutor próximo da companhia, a renúncia de Inkster explicita a crise dentro do conselho de administração, resultante das tentativas de intervenção do governo. Agora, uma empresa de recrutamento de executivos deve fazer a seleção de nomes para recompor a vaga deixada por Inkster. A indicação deve ser apreciado pelo colegiado, que terá que chamar uma assembleia para que os acionistas deliberem.

Não fica claro quanto tempo esse processo pode levar e se a Vale aproveitaria para repor também a vaga aberta depois da saída de Luciano Penido. O “headhunter” que selecionará os nomes para o colegiado não será o mesmo que está trabalhando para escolher o novo CEO da Vale, trabalho este a cargo da Russell Reynolds. Na avaliação de um advogado da área societária, o colegiado da Vale pode continuar a deliberar normalmente, apesar de ter um número de conselheiros independentes abaixo do estipulado pelo estatuto. Mas ressalvou: “A situação de ter um desenquadramento não tem consequências legais muito claras.”

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/07/02/nova-renuncia-no-conselho-deixa-vale-fora-da-regra.ghtml

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