Valor Econômico – A Vale anunciou, na manhã desta terça-feira (3), mais um movimento de reorganização na gestão do novo presidente, Gustavo Pimenta, que tomou posse em 1º de outubro. A companhia informou que o conselho de administração aprovou Rogerio Nogueira como vice-presidente comercial e de novos negócios. Nogueira, um executivo com longa carreira na Vale, vinha ocupando interinamente a posição de vice-presidente de soluções de minério de ferro.
De uma só tacada, a Vale não só confirmou o executivo para comandar o principal negócio da empresa, como também deu mais um passo na reformulação da área. Nogueira é uma indicação direta de Gustavo Pimenta, que tem como uma das principais bandeiras de gestão estar mais perto dos clientes.
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A mineradora também informou novas metas de produção para os próximos anos. Pela atualização das projeções, a produção de finos de minério de ferro, o principal produto, será de 328 milhões de toneladas em 2024, número que passa para um intervalo entre 325 milhões e 335 milhões de toneladas em 2025. Para 2026, a Vale projeta um volume entre 340 milhões e 360 milhões de toneladas de minério de ferro.
Também houve atualizações para os metais. No cobre, a meta é produzir entre 340 mil e 370 mil toneladas em 2025 e no níquel entre 160 mil e 175 mil toneladas no ano que vem.
A mudança feita no negócio de minério de ferro será importante diante da prevista desaceleração da China, o principal comprador de matérias primas globais e maior cliente da Vale. Se a China crescer menos, haverá demanda menor e mais competição na venda de produtos.
“Há [na Vale] um reposicionamento comercial em termos de ofertar o que o cliente está pedindo”, diz uma pessoa com conhecimento da companhia. Nogueira é efetivado para fazer esse trabalho comercial no minério de ferro.
Embora a Vale venha tendo ganhos operacionais, a empresa ainda tem dificuldades para aumentar a produção e maiores volumes são importantes para reduzir custos, uma das obsessões da mineradora.
O mercado olha sempre para o chamado custo caixa C1, que considera os gastos para produzir o minério e levá-lo até o porto, e a empresa tem mostrado compromissos constantes nesse tema.
A preocupação com o custo é relevante diante das perspectivas não muito encorajadoras para os preços do minério de ferro em 2025. Existe, porém, uma avaliação no mercado de que a Vale consegue ser lucrativa mesmo com a commodity em cotações inferiores a US$ 80 por tonelada. Para o ano que vem, há projeções que situam os preços entre US$ 90 e US$ 95 por tonelada.
A indicação de Nogueira se situa dentro de mudanças mais amplas que vêm sendo feitas pela empresa. Essa reorganização corporativa, que ainda deve ter novos capítulos, será importante para que a Vale faça frente a desafios que ainda estão sobre a mesa e em um cenário marcado por pressões crescentes do governo sobre a empresa.
Recentemente, a mineradora havia anunciado Marcelo Bacci, ex-Suzano, para a vice-presidência de finanças. Bacci faz a sua apresentação ao mercado, nesta terça-feira (3), no Vale Day, encontro com analistas e investidores em Nova York.
A avaliação de especialistas é que Pimenta está formando um “bom” comitê executivo, integrado pelos vice-presidentes que “tocam” o dia a dia junto com o CEO.
Esse time trabalha a partir de diretrizes dadas pelo conselho de administração que, apesar de contar com conselheiros independentes, tem formado maioria em temas de interesse do governo federal e dos Estados onde a empresa opera – Pará, Maranhão, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
O governo pressionou e a empresa aceitou reabrir, ainda na gestão de Eduardo Bartolomeo, ex-CEO da Vale, as negociações para a renovação de ferrovias operadas pela companhia. O tema pode ter um desfecho a curto prazo e vai injetar mais dinheiro da Vale nos cofres da União.
A mineradora, por sua vez, tem interesse na edição de um decreto pelo governo sobre como tratar “cavidades” (cavernas) em áreas de mineração. Essa é uma agenda que se vincula ao licenciamento ambiental e que vem preocupando a Vale há anos, pois a empresa não tem conseguido licenciar novas áreas, sobretudo depois da tragédia de Brumadinho, em 2019.
Diante das dificuldades do licenciamento, surgiram informações de bastidores de que a Vale estaria analisando, ainda em fase preliminar, a eventual compra de participação acionária na Bahia Mineração (Bamin), projeto que conta com a simpatia de integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) O projeto ainda não foi submetido à análise do conselho de administração da Vale.
A Bamin exige investimentos bilionários para desenvolver reservas e criar infraestrutura nova (ferrovia e porto), e o minério da empresa tem teor de ferro mais baixo que o de Carajás, província mineral do qual a Vale é concessionária. Faria muito mais sentido, dizem fontes, apostar em novos desenvolvimentos em Carajás, mas para tanto a empresa precisa obter licenciamentos ambientais.
No mercado, há receio sobre decisões de investimento que, eventualmente, venham a destruir valor da Vale, como já aconteceu no passado. Em 2024, a ação da empresa tem tido dificuldades de avançar.
No fechamento do mercado nesta segunda-feira (2), o valor de mercado da Vale era de US$ 44 bilhões ante US$ 101,1 bilhões da Rio Tinto e US$ 134 bilhões da BHP Billiton, segundo levantamento do Valor Data.
No acumulado do ano até segunda (2), a ação da mineradora brasileira também tinha pior desempenho do que as concorrentes. Enquanto a ação da Vale caía 34,38% em dólares, a ação da Rio Tinto recuava 8,92% e da BHP, 18,43%.
No Vale Day, Pimenta e outros vice-presidentes devem tentar tranquilizar os investidores depois que gestores e fundos ficaram aflitos pelos sinais de tentativa de intervenção do governo na empresa. Lula tentou fazer o ex-ministro Guido Mantega presidente da Vale e costuma criticar a mineradora sempre que tem oportunidade.
O Valor apurou que haverá um encontro entre o presidente Lula e o CEO da Vale ainda em data a ser definida. Vai ser a primeira agenda privada entre os dois desde que Pimenta assumiu o cargo.
Um dos trunfos que Pimenta leva para o Vale Day é a assinatura do acordo definitivo de Mariana, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e no qual a mineradora, a sócia BHP Billiton e a Samarco se comprometeram a aportar R$ 170 bilhões em 20 anos, a maior parte nos primeiros anos.
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