JC Online (PE) – A situação do Metrô do Recife segue cada vez pior. Depois de quatro dias com a operação da Linha Centro suspensa devido a uma pane na rede aérea, o sistema iniciou a semana com novas paralisações, deixando ainda mais evidente o abandono financeiro vivenciado há quase uma década, que se agravou nos últimos cinco anos e que não foi resolvido apesar de estar sob a gestão de um governo do PT.
Nesta segunda-feira (16/12), o Ramal Camaragibe voltou a operar logo no início da manhã, às 6h, mas o Ramal Jaboatão – que compõe a Linha Centro junto com o Ramal Camaragibe – apresentou novos problemas, deixando os passageiros na mão mais uma vez. E, novamente, o problema foi na rede aérea.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
Dessa vez, segundo a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), foi detectado um problema, ainda na madrugada, no posicionamento de um trem do Ramal Jaboatão, que atingiu um cabo elétrico. Por isso, quatro estações desse ramal permaneceram fechadas durante todo o dia: Jaboatão, Engenho Velho, Floriano e Cavaleiro.
PASSAGEIROS REVOLTADOS COM OS PROBLEMAS DO METRÔ DO RECIFE
Sem metrô, os passageiros do sistema tiveram que correr para os ônibus, enfrentando longas viagens em meio ao trânsito e sem prioridade nas ruas e avenidas. Principalmente os que saem do extremos dos ramais, como as Estações Jaboatão e Camaragibe.
As reclamações foram muitas, até porque, além de não ter a agilidade e a capacidade de transporte do metrô, os ônibus precisam ser deslocados para os Terminais Integrados, o que leva tempo quando acionado em cima da hora.
“É muito descaso. Ninguém aguenta mais esse metrô quebrando direto. A ida já é cansativa e ficamos pensando em como será a volta”, criticou a passageira Maria Letícia Silva, que sai todos os dias de Jaboatão dos Guararapes para o Centro do Recife.
Outro passageiro, Carlos José Sena, criticou a relação entre o valor pago pela passagem e o serviço entregue. “O Metrô do Recife tem hoje uma tarifa mais cara do que a do ônibus e um serviço que só piora. Não vemos os governos dizerem nada e é o trabalhador quem sofre”, disse.
Faz dois meses que o sistema não tinha problemas na rede aérea. E, por enquanto, ainda não há previsão de retomada do Ramal Jaboatão.
METRÔ DO RECIFE SEGUE COM FUTURO INCERTO
Os recentes problemas do Metrô do Recife são reflexo da ausência de investimentos que o sistema sofre há quase uma década. A rede aérea, por exemplo, está sem manutenção e completamente remendada. As falhas e quebras não são ainda maiores porque o sistema conta com um corpo técnico experiente e dedicado.
“O governo federal tem conhecimento das panes do sistema, até porque temos uma comissão de segurança que investiga todas as ocorrências e repassa para a Administração Central da CBTU. Infelizmente, a rede aérea está sem a manutenção correta faz tempo. Faltam peças e equipamentos”, explicou a superintendente da CBTU no Recife, Marcela Campos, que responde pelo Metrô do Recife.
Marcela fez questão de destacar o empenho dos metroviários em manter o sistema operando, mesmo sem recursos para investimentos e até para custeio. “Estávamos há uns quatro meses sem problemas na rede aérea, até as duas panes sequenciadas. Nossas equipes estão exaustas, trabalhando direto desde quinta-feira. Fazendo milagre diante da falta de peças e equipamentos para a manutenção. São remendos em cima de remendos. É até desumano”, desabafou.
METRÔ PRECISA DE R$ 3,5 BILHÕES PARA SE REERGUER
O Metrô do Recife voltou a receber alguns recursos para investimentos na infraestrutura do sistema. Ainda é muito pouco, mas é algo. Segundo Marcela Campos, a CBTU conseguiu destinar R$ 69 milhões para ajudar na reestruturação da área de manutenção do metrô, especialmente na aquisição de peças e máquinas que permitam a realização dos trabalhos.
Mas são necessários pelo menos 18 meses para que o material seja disponibilizado. “Tudo no transporte sobre trilhos leva tempo para ser comprado porque não se encontra na prateleira. Por isso precisamos de planejamento e de aquisição com antecedência”, explicou.
Outro investimento bastante esperado pelo Metrô do Recife são os R$ 136 milhões do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), já garantidos e que serão utilizados para a aquisição de dormentes e trilhos para o sistema.
Na prática, para requalificar o Metrô do Recife atualmente, sem necessidade de concedê-lo à iniciativa privada – direção na qual caminha o futuro do sistema -, seriam necessários R$ 3,5 bilhões. Até 2023, o custo era de R$ 3,1 bilhões, mas houve uma atualização de valores. Esses recursos seriam para aquisição de novos trens (R$ 1,4 bilhão) e para a recuperação da rede aérea do sistema metropolitano (R$ 2,1 bilhão).
GOVERNO DE PERNAMBUCO CONFIRMOU QUE O METRÔ TERÁ OPERAÇÃO PRIVADA NO GRANDE RECIFE
A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), voltou a confirmar que o Metrô do Recife terá uma operação privada e que o Estado já está preparado para assumir o sistema metropolitano – que sempre teve gestão federal. O que estaria faltando, por enquanto, é definir detalhes de como se dará a coordenação da concessão: se será realizada pelo governo federal ou ficará com o governo de Pernambuco.
Segundo Raquel Lyra, um encontro entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Casa Civil e o governo do Estado está sendo acertado para que, em breve, seja definido o modelo da futura concessão. A afirmação foi feita na sexta-feira (13/12), durante entrevista de balanço do segundo ano de gestão à frente do governo de Pernambuco, realizada na Rádio Jornal.
“Nós já deixamos claro que o governo de Pernambuco topa ser parte da solução do Metrô do Recife, um sistema primordial para a RMR e que não tem mais qualquer previsibilidade, algo fundamental para o serviço de transporte. Mas o que ainda não está claro é qual será a solução financeira e administrativa: se o governo federal vai fazer a concessão ou passa para o Estado (que seria a estadualização do sistema) e nós concedemos”, disse.
A governadora afirmou que, após a conclusão do reestudo do BNDES sobre a modelagem da concessão pública, o que está sendo discutido é a quantia que será investida pelos governos federal e estadual.
“Está sendo feito um ajuste fino no valor que cada um irá colocar. São necessários mais de R$ 3 bilhões para requalificar o sistema antes de concedê-lo à iniciativa privada. Além desse valor, existe a necessidade de subsídio público estimado entre R$ 180 milhões e R$ 200 milhões. Estamos vendo exatamente que parte fica com quem”, explicou.
Segundo a governadora, assim que esses pontos forem definidos a decisão sobre o futuro do Metrô do Recife será anunciada à população.
Seja o primeiro a comentar