Sob nova gestão, Vale quer recuperar valor dos ativos e avançar em minerais críticos

Valor Econômico – Sob nova gestão, a Vale vai buscar recuperar o valor de seus ativos, altamente descontados nos últimos anos, e seguir na estratégia para que a companhia avance em minerais críticos, como cobre, além de recuperar sua posição principal como produtora de minério de ferro. O grupo também pretende rever seu portfólio. Ao Valor, Gustavo Pimenta, presidente da companhia, afirmou que a mineração global está em transformação, com gigantes em consolidação, e que a Vale não vai ficar de fora desse movimento. No sábado (25), a tragédia ambiental de Brumadinho (MG), que matou 272 pessoas, completou seis anos, e o caso ainda aguarda o julgamento criminalmente.

“Existe hoje, de fato, um movimento, principalmente nos últimos 12 meses, das grandes mineradoras, os ‘majors’, tentando avançar o portfólio de minerais críticos de uma forma mais acelerada. Vimos a BHP em relação a Anglo American, a Glencore com a Teck, e mais recente a Rio Tinto [comprando a Arcadium ]. Ou seja, isso é relativamente novo na indústria e o que está por trás disso é a tentativa de crescer em minerais críticos, essencialmente”, afirmou o executivo.

Para Pimenta, o cobre é o mineral mais visado pelas companhias. “O cobre é um mineral que todos têm uma visão muito positiva em relação ao futuro da demanda e a toda a equação de equilíbrio de médio e longo prazo dessa indústria. No caso da Vale, nós somos um ‘major’, e como um dos principais grupos do mundo, a gente tem uma vantagem em relação a outros competidores, porque temos um ‘endowment’ natural”, disse o executivo, reforçando a posição da Vale em Carajás (PA).

Em sua primeira visita ao Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em Inglês), Pimenta participou de painéis para falar de transição energética e fez rodadas de conversas com empresários e investidores. A Vale foi uma das companhias que colocaram de pé a Brazil House, no centro da avenida Promenade, para sediar debates sobre temas relevantes para indústria.

Pimenta, que assumiu o comando da Vale em outubro do ano passado, após um tumultuado processo sucessório, é visto pelo mercado com um executivo que pode voltar a colocar a mineradora brasileira na rota de expansão dentro e fora do país. No governo, o nome do executivo também é visto como pacificador, diante das tensões que pairavam nos últimos meses na relação entre o grupo e o Planalto.

A empresa tem, entre os desafios, recuperar o valor de seus ativos. Levantamento do Valor Data mostra que a Vale ocupa a 14ª posição de mineradora global em valor de mercado, abaixo do potencial da companhia. Na semana passada, fechou avaliada em US$ 38,3 bilhões.

“Efetivamente, esse ‘valuation’ está errado. Não reflete o valor intrínseco da companhia. Quando eu olho os meus pares, todo mundo caiu por algumas razões. De fato, o setor de mineração, de certa forma, está muito descontado.”

A instabilidade com a China, maior consumidora de minério, está entre os pontos sensíveis. Além disso, pesa a posição geográfica desfavorável do Brasil em relação aos concorrentes, sobretudo australianos, no mercado chinês.

Mas não é só isso. Daniel Sasson, analista do Itaú BBA e especializado em mineração, concorda que a Vale está mais exposta à China sobre seus rivais, mas ressalta outros pontos que pressionaram o valor de mercado da brasileira nos últimos anos. Segundo o analista, as tragédias ambientais (de Mariana e Brumadinho), a demora na renovação das concessões das ferrovias, além das discussões ruidosas durante o ano passado sobre a sucessão – com potencial ingerência do governo – criaram fatores de instabilidade. Agora, mais recente, a saída da Cosan do quadro de acionistas ajudou a dirimir especulações que giravam em torno de quando as ações da companhia seriam vendidas.

E, pela primeira vez, Sasson vê a Vale, depois de muitos anos, dando foco na área operacional, com a companhia buscando estabilizar os níveis de produção de metais básicos e perseguindo a iniciativa de redução de custos, o que vai criar condições para crescer.

No cobre, a Vale quer dobrar a capacidade de produção de 350 mil toneladas para 700 mil toneladas

“A empresa conseguiu endereçar, nos últimos trimestres, assuntos importantes, da sucessão, repactuação do acordo de Mariana, resolver as concessões de ferrovias. Agora o foco dos executivos será na operação”, disse Sasson.

À frente da mineradora, Pimenta, que era o principal executivo financeiro da Vale antes de se tornar o CEO, vê um novo momento para a mineradora, sobretudo após fechar o acordo de Mariana, de R$ 170 bilhões, e está otimista com o cenário para 2025.

No ano passado, a Vale tinha “guidance” de produção de minério de ferro entre 310 milhões e 320 milhões de toneladas e esse volume foi revisado de 320 milhões a 330 milhões, com potencial de atingir o topo desse range, conforme a companhia informou no Vale Day, com mix de produtos orientado à transição energética.

“Estou muito otimista e confortável com o plano que a gente desenhou e com a capacidade de execução desse plano. Depois de muitos anos, a Vale começa a reagir de forma muito sólida, tendo a capacidade de entregar todos os seus planos”, disse o executivo.

Segundo Pimenta, a mineradora conseguiu administrar os temas controversos nos quais estava envolvida, o que, de certa forma, também afastavam os investidores.

A venda da fatia da Cosan na Vale mostra que os investidores internacionais têm interesse pela mineradora, com a compra de boa parte dos papéis colocados à venda.

“[Sobre a tragédia ambiental de Brumadinho] a gente conseguiu fazer, alguns anos atrás, o acordo, mas ainda havia alguns temas relevantes [em relação a Mariana]. Desde que eu estou à frente [da Vale], a gente conseguiu limpar essa pauta”, disse.

Em fevereiro de 2021, a Vale fechou acordo de Brumadinho no valor de R$ 37,68 bilhões. O de Mariana foi assinado em outubro do ano passado.

O passo daqui para frente, segundo ele, é entregar o que prometeu ao mercado e aos “stakeholders”. A expansão, segundo Pimenta, está focada em Carajás e em outros mercados onde a Vale atua, como Canadá e Indonésia. “Então o grande foco nosso, nesse próximo ciclo, vai ser acelerar o desenvolvimento desses projetos de minerais críticos.”

Na noite de quinta-feira (23), a Vale soltou um comunicado informando que avaliava alternativas estratégicas para parte dos seus ativos no Canadá, que pode levar uma venda ou entrada de um sócio. Sasson, do Itaú BBA, disse que o mercado já aguardava um posicionamento de venda de parte desses ativos no Canadá.

Os ativos que podem ser avaliados são o de mineração e exploração em Thompson, Manitoba. A revisão faz parte de um processo de otimização da base de ativos da Vale Base Metals, com o objetivo de garantir a competitividade de seu portfólio.

No cobre, a Vale quer dobrar a capacidade de produção dos atuais 350 mil toneladas para 700 mil toneladas para ser um “player” relevante desse mineral.

Pimenta ressalta que a companhia já é um dos maiores operadores de níquel do mundo. “A grande vantagem competitiva que a Vale tem na indústria hoje é o fato de ter o potencial de crescer com os nossos próprios recursos, sem ter que efetivamente ou eventualmente fazer uma transação de aquisição.”

De acordo com Pimenta, o Brasil é uma potência mineral e sai em vantagem diante das discussões geopolíticas globais. E o país segue firme em transição energética, embora os sinais do governo de Donald Trump indiquem o oposto.

“Apesar de toda a discussão geopolítica, todo esse caminho de transição energética vai seguir acontecendo. O Brasil tem um potencial enorme de ser um dos grandes ofertantes desses minerais críticos, que são fundamentais para a transição energética, no cobre e vários outros que a gente tem”, afirmou.

Pela relevância da Vale, Pimenta ressalta que há uma expectativa tanto para o governo brasileiro como para agentes de mercado de que empresa esteja bem posicionada. “Como a Boeing para os Estados Unidos, ou Volkswagen para a Alemanha. São companhias muito relevantes para as suas operações nacionais. O Brasil assumiu um papel de liderança em transição energética e na oferta de minerais críticos. É bom para a Vale, é bom para o país. Vejo uma enormidade de pontos de convergência na pauta do que é importante para a Vale e para o Estado”, disse o executivo, sem entrar no mérito em relação às expectativas do governo federal sobre a companhia.

Em Davos, Pimenta também teve oportunidade de conversar com importantes interlocutores sobre a COP30, que vai ser sediada no Pará. “Será um ano muito importante para o Brasil e para a Vale. A Vale opera no Pará há 40 anos, na região de Carajás, e eu acho que a gente conseguiu mostrar que é possível, sim, fazer mineração de forma sustentável.”

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2025/01/27/sob-nova-gestao-vale-quer-recuperar-valor-dos-ativos-e-avancar-em-minerais-criticos.ghtml

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