Governo defende escolha do VLT em vez de trem metropolitano na Linha 14-Ônix

Metrô CPTM – A primeira audiência pública da concessão das linhas 10-Turquesa e 14-Ônix, da CPTM, ocorreu nesta quarta-feira, 12, em São Paulo, e teve poucas questões levantadas.

Entre elas estavam posicionamentos do colaborador do MetrôCPTM, Jean Carlos, que questionou a divergência entre os estudos da STM para a Linha 14 e a demanda apresentada pela Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI), que coordena o chamado projeto Lote ABC Guarulhos.

Quando começou a ser avaliada pela CPTM, a Linha 14 teve o trem metropolitano (pesado) como modal escolhido, diante da padronização com os demais ramais e de uma demanda estimada em mais de 700 mil passageiros/dia em sua extensão.

A nova secretaria criada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), no entanto, está bancando um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) parcialmente segregado da malha urbana.

O projeto prevê uma extensão de 40 km de vias sendo que parte dela será opcional. Segundo a pasta, trata-se de um trecho de cinco estações em Santo André onde existe hoje um corredor de ônibus. O VLT substituiria o corredor, circulando na superfície, por isso o investimento foi considerado contingente na concessão.

A SPI estima que a demanda da Linha 14 será de 225 mil passageiros por dia em 2050, o que justificaria a adoção do VLT.

Confrontado com a diferença gritante entre estudos de áreas diferentes do governo, Augusto Almudin, diretor de assuntos corporativos da Companhia Paulista de Parcerias (CPP), afirmou que os dados da STM estão desatualizados.

Segundo ele, a pandemia mudou profundamente o movimento de passageiros no transporte na Grande São Paulo e o estudo atual inclui esse reflexo.

Almudin também afirmou que a Linha 14 será um ramal de distribuição de passageiros, em que há grande renovação pelo seu trajeto. Os usuários, portanto, farão pequenas viagens para chegar a ramais de maior capacidade e não ir do ABC à Guarulhos.

Por essa razão, a tecnologia sugerida atende a demanda com folga. “É tanta folga que ainda tem espaço para aumentar a capacidade do sistema se for necessário, por exemplo, colocando mais carros por VLT e reduzindo o intervalo de trens. Ainda assim não atingiria a demanda de um trem metropolitano ou ou de um metrô”, disse o diretor da CPP.

O investimento previsto na Linha 14 é calculado em R$ 13 bilhões em valores atuais. Segundo estudos de alternativas presentes no material divulgado, um trem metropolitano com quatro carros (vagões) exigiria de R$ 18 bilhões a R$ 19,2 bilhões enquanto um projeto mais robusto, com composições de oito carros, superaria os R$ 20 bilhões – o diretor citou um valor de até R$ 26 bilhões durante a audiência.

O custo elevado e o impacto no entorno causado por desapropriações e a construção de grandes estruturas poderia se mostrar um desastre, na visão do executivo do governo.

Almudin, no entanto, não considerou relevantes o fato que a futura operadora terá de lidar com dois tipos totalmente diferentes de trens.

Ele também relevou o fato de que o VLT será uma espécie de “estranho no ninho” na malha sobre trilhos, incapaz de oferecer outros tipos de serviços que possam vir a surgir no futuro, como uma possível passagem de trens regionais, por exemplo.

Dilema com a iniciativa privada

Evidentemente que uma ferrovia perimetral distante do centro da capital terá uma demanda menor em tese já que atenderá regiões com menor densidade populacional em alguns casos, além de não chegar a áreas com oferta de empregos.

Mas cabe ao estado pensar a longo prazo, como ocorreu no projeto da Linha 1-Azul, antiga Norte-Sul do Metrô. Na época, tratava-se de um sistema de transporte muito mais capaz e complexo do que qualquer outro já planejado no país, que ainda deixava de usar bondes e com trens de subúrbio precários.

Meio século depois, hoje sabemos que o Metrô de São Paulo estava certo, tornando-se um indutor de desenvolvimento, requalificando regiões e contribuindo para o meio ambiente.

Será que, ao optar por um projeto de “dá conta da demanda”, a atual gestão estadual será lembrada assim a respeito da escolha do modal da Linha 14?

Em geral, o governo tem priorizado tirar do papel projetos sobre trilhos sob a ótica do interesse privado. Ele é de fato importante afinal se não houver interessados, qualquer concessão se torna inviável, mas é preciso pesar prós e contras e não apenas “encaixar” um projeto em um valor que caiba no bolso dos potenciais interessados.

A opção pelo VLT soa dessa forma, na opinião deste site. Lapidou-se um projeto para que fosse lucrativo (e portanto atraente no leilão), a despeito se irá ou não atender a necessidade da população.

Infelizmente, muitos estudos e afirmações feitas pelas gestões de governo não podem ser levadas a ferro e fogo, mesmo que apoiadas em planilhas e dados variados.

O motivo é que já tivemos vários casos de erros ou mesmo distorções para justificar escolhas. Basta ver o “teatro” protagonizado pela gestão Dória para dar ares positivos para a péssima escolha de cancelar a Linha 18-Bronze em favor de um corredor de ônibus que seis anos depois ainda não está nem perto de ficar pronto.

E usar a pandemia como pretexto é algo lamentável visto que não há bola de cristal capaz de prever as mudanças de comportamento da sociedade diante de situações como desastres humanitários ou o avanço da tecnologia e a relação com o trabalho ou estudo.

Aliás, foi justamente o que mostrou a nova Pesquisa Origem Destino 2023 do Metrô que, vejam só, o governo não quis esperar os resultados antes de colocar o Lote ABC Guarulhos em discussão.

Como se diz, a pressa é inimiga da perfeição.

Fonte: https://www.metrocptm.com.br/governo-defende-escolha-do-vlt-em-vez-de-trem-metropolitano-na-linha-14-onix/

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*