Ferreira resiste às pressões e pode sobreviver mais dois anos


O interesse do senador tucano Aécio Neves (PSDB-MG) pela presidência da Vale esbarra, a priori, no apoio quase incondicional que os acionistas da mineradora vêm dando a Murilo Ferreira, presidente da empresa há seis anos. O mandato do executivo termina em maio deste ano e, nos bastidores, alguns dos principais acionistas da companhia dizem que pretendem reconduzir o executivo para um novo período de mais dois anos à frente da Vale.


Esse quase consenso não esconde vozes discrepantes, favoráveis à troca, mas que hoje pareceriam relativamente isoladas. Se for confirmada a recondução, Ferreira irá cumprir o quarto mandato seguido como presidente da Vale, desta vez com término em maio 2019, quando estará prestes a completar 66 anos idade, sendo obrigado então a deixar o cargo por força de uma regra aprovada em 2012 pelo conselho de administração. A regra determina a aposentadoria compulsória dos diretores um dia antes de completar 66 anos.


Até agora o conselho de administração da mineradora não avaliou a recondução de Ferreira. Trata-se de uma formalidade. O conselho, com aval dos acionistas, referenda mandato com duração de dois anos. Mas nada impede que esse mandato seja interrompido antes se for necessário, com a troca do executivo, embora esse não seja o caminho usual na Vale. Nos bastidores, o que se diz é que a recondução de Ferreira pode ocorrer de forma paralela ao anúncio da renovação do acordo de acionistas da Vale, que vence em abril.


A renovação do acordo deve ser anunciada muito em breve Os sócios da Vale são Bradesco, Previ, na liderança de um grupo de fundos de pensão estatais; os japoneses da Mitsui, o BNDES, e o Opportunity.


Sempre existe, porém, a possibilidade de o Planalto – dado o tamanho e a importância da empresa – interferir na sucessão da Vale, mas até agora essa decisão não ocorreu. Houve pedido dos acionistas ao governo, no ano passado, para evitar intervenção na companhia, o que seria mal visto pelo mercado. Ferreira acompanhou a comitiva de Michel Temer à China, em setembro, quando o executivo tinha resistido a pressões políticas para tirá-lo da Vale, atribuídas ao senador Romero Jucá (PMDB-RR). Na época, ele relatou a analistas a pressão que sofreu de Jucá.


Embora seja uma empresa privada, a Vale tem na sua base acionária fundos de pensão estatais (Previ, Funcef e Petros) e o BNDES. E a própria União, pelo estatuto, tem poder de veto sobre algumas decisões da companhia. Também é preciso considerar que a empresa opera direitos de lavra concedidos pelo governo e depende de licenças ambientais para operar. A relação com o poder público é estreita.


O prestígio de Ferreira com os sócios resulta do enxugamento que fez desde que assumiu. Houve corte de custos, venda de ativos e conclusão de investimentos. Resta a redução da dívida. O bom humor recente do mercado com a Vale decorre da alta do preço do minério de ferro, que praticamente dobrou em um ano. E representa uma inflexão em relação ao momento mais crítico para a Vale e para Ferreira, que ocorreu, em novembro de 2015, com o desastre de Mariana (MG), da controlada Samarco.


De lá para cá, a situação de crise na Vale foi aos poucos sendo superada, embora a Samarco continue a ser um desafio do ponto de vista operacional, na negociação com os credores (tem uma dívida de US$ 3,8 bilhões) e na execução dos termos do acordo de reparação e compensação socioambiental.


Se hoje a Vale encontra-se em posição mais confortável, o futuro da companhia continuará a depender dos preços do minério. Nesse cenário, ela tem agido com um certo otimismo cauteloso.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*



0