Um doce para a Miss Brasil

Ao voltar à Bélgica, onde era rei, depois de visitar durante quase um mês o Brasil, no final de 1920, Alberto I enviou de presente ao país que o acolheu afetuosamente uma locomotiva a vapor Alco 4-6-2 (Pacific). A máquina foi incorporada à Estrada de Ferro Central do Brasil com a matrícula 370 e recebeu o apelido de Zezé Leone – nome da primeira Miss Brasil, eleita em 1922. Tinha detalhes chamativos: frisos nas rodas, bronzes e cromados reluzentes no motor. Por onde passava, a população a admirava boquiaberta. No Brasil da época, tudo que era bonito se apelidava de Zezé Leone, inclusive mulheres e homens. Por esse motivo, o farmacêutico João Batista de Oliveira (1903-1979), figura benemérita de Cordisburgo, em Minas Gerais, terra natal do escritor João Guimarães Rosa, até hoje é evocado pela alcunha.


Mas foi um doce caseiro a mais deliciosa homenagem prestada à bela Miss Brasil 1922 – que também inspirou o músico carioca José Francisco de Freitas, o Freitinhas, a compor o foxtrote Vênus, de 1923, e virou nome de rua em São Paulo, no bairro da Casa Verde Alta. O doce chama-se Zezé Leone e a tradição assegura ter sido criado em Minas Gerais. É preparado até agora no Estado. Sua receita figura no livro História da Arte da Cozinha Mineira por Dona Lucinha, organizado por Maria Lúcia e Márcia Clementino Nunes (Belo Horizonte, 2001). Aliás, há indícios de que o doce tenha nascido na cidade do Serro, antiga Vila do Príncipe do Serro Frio, no Alto Jequitinhonha, cujo precioso conjunto urbanístico setecentista foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em abril de 1938. Outras doceiras da região ajudaram a difundir a especialidade.


Além de bonito, o Creme Zezé Leone exibe o mesmo tom rosado do rosto da Miss Brasil 1922. O pâtissier Flávio Federico, de São Paulo, classifica-o de sobremesa com cara brasileira. Se recebeu alguma influência estrangeira, já virou nosso.


Compõe-se de um creme amarelo, à base de gemas, leite e fava de baunilha; e de uma espuma rosada, feita com claras em neve, vinho do Porto e gelatinas das cores vermelha e branca. No início do século 20, vários doces brasileiros incorporavam creme amarelo ou crême pâtissière – um clássico da confeitaria francesa, feito com gemas, leite, açúcar e farinha de trigo, esta última, responsável pela consistência firme. O que vai no Creme Zezé Leone se prepara da forma tradicional. Quanto à gelatina, constitui outra veneranda paixão nacional. Usa-se tanto em doces como salgados. No passado, era obtida mediante o cozimento prolongado de ossos, cartilagens e tendões de animais, sobretudo do boi. Originava doces típicos, como a bala de mocotó. Depois, apareceu a gelatina industrial, em folha ou pó, com ou sem sabor, abreviando o trabalho do confeiteiro.


Paulista de Campinas, mas residente em Santos, onde vivia com os pais na atual Avenida Senador Feijó, Zezé Leone (1902-1965) foi oficialmente a primeira Miss Brasil, embora alguns reivindiquem a primazia para uma franco-brasileira chamada Aymmée, talvez eleita em 1865. Zezé venceu o concurso realizado durante os festejos do centenário da Independência. O certame só começaria a ser promovido regularmente a partir de 1954. Nesse ano, os jurados elegeram a baiana Martha Rocha, que ficou em segundo lugar no concurso Miss Universo, porém até hoje é a número 1 no coração do povo brasileiro. Ainda é organizado, mas perdeu o glamour do passado. Minha mãe conheceu Zezé Leone, revela o jornalista José Ramos Tinhorão. Dizia que contrariava o padrão de beleza da época, da mulher bonita e rechonchuda. Magra e elegante, antecipava a atual estética feminina.


Antes da consagração nacional, ela já encantava a população de Santos. Em 1921, a revista local Flama a apontara como a mulher mais bonita da cidade. Fazia sucesso nas festas, animava salões e os homens formavam fila para dançar com a Miss Brasil. Converteu-se numa espécie de locomotiva da sociedade, usando-se a expressão cunh

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Fonte: O Estado de S.Paulo

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