O espaço era para ser só delas, mas as mulheres que estrearam ontem o vagão exclusivo dos trens da SuperVia e do metrô se depararam com um cenário igual ao de todos os dias: tiveram que dividir o espaço apertado com homens. No primeiro dia do serviço, apesar dos protestos da mulherada — a cada um que entrava, elas gritavam, alertando sobre a exclusividade do vagão — os “cavalheiros” não se intimidaram e permaneceram na ala cor-de-rosa. Os vagões especiais do metrô são marcados com uma tarja rosa e, nos trens da SuperVia, com o símbolo de uma mulher.
Estou acostumado a andar nesse vagão e não vi nenhum cartaz avisando que é só para mulheres. Enquanto tiver homem aqui, também vou entrar — disse o comerciante Gilmar Antônio Pereira, de 42 anos, sob olhares reprovadores das companheiras de viagem.
— Eles deveriam ter mais consciência, mas nem saem do lugar — reclamou a dona-de-casa Vânia de Souza Oliveira, de 46.
No metrô, os homens que insistiam em continuar nos vagões reservados às mulheres eram vaiados. Foi o caso do engenheiro João Cesário da Silva, de 44 anos, que não sabia da novidade:
— Tive que sair, né? Eu não sabia dessa lei. Não houve divulgação. Agora vou ter que esperar outro metrô e ir em pé.
SuperVia promete fazer trabalho de conscientização
Os 150 trens da SuperVia foram adesivados na semana passada, mas muitos iniciaram o dia de ontem sem o cartaz. Segundo seguranças da empresa, os próprios passageiros estariam arrancando os avisos. Devido à falta de sinalização e à pressa característica dos horários de rush, foi difícil controlar a entrada de homens nos vagões femininos.
— O primeiro dia foi realmente difícil, pois é uma novidade. Vamos fazer um trabalho de conscientização — disse a gerente de comunicação da SuperVia, Ivone Malta, afirmando que, caso a medida não dê certo, pedirá o apoio do Batalhão de Polícia Ferroviária.
Acostumado a dormir no metrô no percurso entre a estação de Coelho Neto até o Centro, onde trabalha, o analista Eduardo Bastos, de 20 anos, não gostou de ser acordado por um segurança na estação da Pavuna e ser informado de que teria de trocar de vagão. Sonolento, levantou-se e, sob aplausos femininos, saiu do carro exclusivo para outro:
— Isso é uma discriminação. Tem direito para negros, idosos e, agora, mulheres. E o meu direito de ir e vir, onde fica?
Enquanto os homens faziam ouvidos de mercador para os gritos das passageiras revoltadas, elas não pouparam reclamações. A dona-de-casa Danuza Holanda, de 37 anos, contou que gastou a saliva à toa tentando impedir a “invasão”:
— Nós gritamos, reclamamos, mas eles não saíram. Agora tem até mulher em pé e homem sentado. É uma falta de respeito. Se está escrito “exclusivo para mulheres”, tem que ser só para a gente mesmo.
Acostumada a viajar sempre apertada e até mesmo ser assediada durante a viagem de metrô de casa ao trabalho, a diarista Geralda da Silva, de 41 anos, já chegou à estação da Pavuna com a novidade na cabeça:
— Adorei a medida. Isso vai evitar o assédio de muitos engraçadinhos que costumam se aproveitar dos trens cheios para encostar nas mulheres.
Gleice Kelly Freitas, de 16 anos, torce para que a lei pegue:
— Nos vagões mistos, os homens ficam mexendo com a gente, fazem a maior questão de encostar. Mas aqui não está muito diferente disso.
A estudante Débora Bianco, de 22 anos, fez coro com a colega de vagão:
— Como a maioria das leis no Brasil, essa também é uma hipocrisia. Eles criaram esse vagão porque os homens não tinham educação e agora está provado que eles continuam sem ter. Se não respeitam nem as mulheres, como querem que eles respeitem as leis?
A nova lei, aprovada pela Alerj no Dia Internacional da Mulher (8 de março) e sancionada pela governadora Rosinha Garotinho há um mês, também provocou constrangimento num casal n
Seja o primeiro a comentar