Dez anos depois de o estudo de viabilidade técnico-econômica da Linha 3 do metrô ter sido encomendado pelo governo do estado, a Secretaria estadual de Transportes garante: em um prazo máximo de 90 dias será instalado o canteiro de obras que dará início à construção do metrô em Niterói. O trecho — cujas licenças ambiental e de instalação para o início de obras foram aprovadas mês passado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) — corresponde a 12 estações entre o Barreto e Guaxindiba, em São Gonçalo. Promessa de campanha do governador Sérgio Cabral, o anúncio do início das obras é agilizado em ano pré-eleitoral, mesmo com problemas pendentes. A secretaria admite que, apesar de haver recursos para o começo dos trabalhos, ainda não há levantamento das moradias ao longo do trecho a serem desapropriadas e indenizadas. O órgão também negocia com o Inea a redução de cerca de R$ 1 milhão do valor a ser pago em compensações ambientais.
Dentro e em frente à antiga estação do Barreto, por exemplo, moram três famílias cujo aluguel é pago à Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística (antiga Flumitrens e CBTU). Outras casas em São Gonçalo, ainda não catalogadas, estão próximas à linha, cujo trajeto será usado pelo metrô de superfície. Um dos moradores é o aposentado Ademar Gonçalves, de 71 anos, 33 como manobreiro da antiga companhia de trem: — Há um ano colaram um papel na minha porta informando que a obra ocuparia 15 metros para cada lado da linha do trem, isto é, até a metade da minha sala. Um advogado da Central me disse que especulavam R$ 30 mil de indenização. Não quero sair da casa onde moro há 30 anos. Não fui notificado de nada ainda.
Na última quarta-feira, técnicos da empresa Akoeli Tecnologia, contratada pelo governo, estiveram no local realizando o levantamento topográfico do trecho, incluindo a Rua Maurício de Abreu. O serviço começou há duas semanas a partir das antigas oficinas da Leopoldina, hoje, entrada da favela Buraco do Boi. Segundo o topógrafo Carlos Martins, já foram feitas medições de dois quilômetros dos 15 que compõem todo o trecho, até Guaxindiba.
O projeto da Linha 3, elaborado na época por meio de um financiamento do BNDES de R$ 3,5 milhões, no entanto, será alterado. O trecho final de 12 quilômetros da linha, de Guaxindiba até Itaboraí, foi descartado, segundo a secretaria, por falta de demanda. O túnel subaquático que ligaria as estações de Araribóia, no Centro de Niterói, até o Largo da Carioca, no Rio, também foi deixado temporariamente de lado.
O trecho entre o Centro de Niterói e o Barreto depende de negociação com a prefeitura.
Na gestão anterior de Jorge Roberto Silveira, o projeto não foi aceito pelo município, que combateu os trilhos suspensos, passando sobre a Avenida Visconde do Rio Branco. Ele, então, sofreu modificações, e o trecho foi incluído como subterrâneo, o que levou a questionamento do Tribunal de Contas da União. O secretário municipal de Serviços Públicos, Trânsito e Transporte, José Roberto Mocarzel, explica que, em reunião realizada no início de junho com o secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, foi apresentado um projeto com o desenho do arquiteto Oscar Niemeyer para a instalação de uma estação intermodal em terreno próximo ao Terminal João Goulart: — Ainda não temos previsão de início da construção do estação, mas lá será o ponto de partida e é importante que o estado já inicie as obras. Resolvemos a questão da linha aérea que causaria transtornos no Centro. Já existe acordo para o trajeto ser feito por superfície pelo Caminho Niemeyer até a chegada à Avenida Feliciano Sodré, onde a linha será suspensa até o Barreto. Falta trabalharmos a desapropriação de três terrenos neste trecho. É a opção mais barata e funcional.
Júlio Lopes afirma que o investimento está garantido com R$ 50 milhões do Ministério da Cidade e R$ 12,5 milhões do governo do estado.
Outros R$ 400 milhões do governo federal deverão ser liberados ainda este ano. A previsão orçamentária inicial para toda a obra era de R$ 2 bilhões. A promessa é de que a Linha 3 beneficie 350 mil passageiros.
— Não haverá problemas para começar as obras até outubro. A secretaria assinará o termo de compromisso proposto pelo Inea, mas pedimos a redução do valor pago pela compensação ambiental. É a mesma esfera de governo que vai pagar e receber — afirma Júlio Lopes.
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