As importações brasileiras de trilhos mais do que dobraram entre 2003 e 2005, passando de 54 mil toneladas para 119 mil toneladas, a um custo médio de US$ 900 por tonelada, segundo dados da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). Somente em janeiro e fevereiro deste ano já foram importadas 21 mil toneladas. Até o final do ano, o volume de trilhos adquiridos no exterior deve chegar a 146 mil toneladas, com alta de 22,6%, conforme projeção da ANTF. As companhias ferroviárias importam a totalidade de trilhos que utilizam desde 1996, quando a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) deixou de fabricá-los no país. E as siderúrgicas instaladas no Brasil não devem tão cedo retomar a sua fabricação, devido à falta de escala local.
O ritmo de expansão dos volumes transportados por via férrea nos últimos anos exige renovação constante dos trilhos, que são trocados geralmente uma vez por ano. E a desvalorização do dólar em relação ao real constitui uma ajuda extra ao setor, ao reduzir os custos do material adquirido no exterior. É o caso da América Latina Logística (ALL), que administra uma malha férrea de 16.397 quilômetros no sul de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, alcançando até a região central da Argentina. A empresa já adquiriu da China a totalidade dos trilhos que vai utilizar em 2006, um volume de 9 mil toneladas, mesmo nível adquirido no ano passado, também do mercado chinês. Tivemos uma oportunidade boa porque o dólar está acessível, diz Carlos Augusto Moreira, gerente financeiro da ALL. No momento, analisando a demanda que teremos para os próximos anos, estamos pensando até em antecipar alguma compra de trilhos para aproveitar a taxa de câmbio favorável à importação.
A ALL também compra peças, como componentes de motor, no exterior, onde têm preços e prazos de entrega menores. Importa ainda locomotivas usadas dos Estados Unidos, que são reformadas no Brasil pela própria companhia.
Já a Brasil Ferrovias trabalha com uma demanda de 20 mil toneladas de trilho para este ano e mais 20 mil toneladas para 2007, que exigirão investimentos de US$ 15 milhões por ano para remodelação e recapacitação de sua malha ferroviária. A empresa opera dois corredores com 4.500 quilômetros de linhas – a Novoeste Brasil, que percorre os Estados do Mato Grosso do Sul e São Paulo, e a Nova Brasil Ferrovias, que engloba a Ferronorte e a Ferroban, fazendo a ligação entre Mato Grosso e São Paulo.
Elias Nigri, presidente da Brasil Ferrovias, lembra que o real valorizado ajudou a compensar em parte a alta dos preços do trilho no ano passado, decorrente do aumento de demanda pelo aço no mercado internacional. O preço do trilho em 2005 chegou a ultrapassar US$ 1 mil por tonelada.
A MRS, que opera 1.700 quilômetros de linhas nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, programa suas importações de trilho de acordo com sua necessidade, independentemente da taxa de câmbio, segundo Julio Fontana Neto, presidente da companhia. Nos últimos anos sua média de compras tem sido de 20 mil toneladas anuais, de fabricantes da França, Espanha, Japão e Áustria. Neste ano, importará 22 mil toneladas.
Além de trilhos, as importações da MRS incluem também locomotivas, peças para locomotivas e outros equipamentos, pacote que totalizou nos últimos três anos R$ 400 milhões. Para o período 2006- 2009, a empresa programou importações totais de R$ 2 bilhões.
A Vale do Rio Doce, que administra a maior malha ferroviária nacional, de 8.877 quilômetros, é também a empresa que mais importa trilhos no país. Para este ano já adquiriu 76,4 mil toneladas, volume 22,6% maior do que em 2004.
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