Locomotiva Zezé Leone volta a rodar em MG

A locomotiva 370 da antiga Rede Ferroviária Federal foi ontem (08/12) entregue ao público de Santos Dumont (MG) pela Notícia & Cia. A máquina pertenceu inicialmente à Estrada de Ferro Central do Brasil, a quem foi doada pelo rei Alberto I da Bélgica por ocasião do Centenário da Independência, em 1922. Pertence à classe Pacific, com quatro rodas guia na frente, para estabilidade; seis rodas de tração no meio de grande diâmetro, para velocidade, e duas rodas atrás, para apoio. Foi fabricada pela Alco americana.


A Pacific é uma das locomotivas mais famosas do tempo do vapor, usada em todo o mundo para trens expressos de passageiros. Foi projetada para alta velocidade (atinge 100 km/h) e ganhou um poema sinfônico do compositor franco-suisso Arthur Honneger intitulado “Pacific 4-3-1”. No Brasil a Central do Brasil tinha 30 dessas máquinas, todas da série 300, servindo nos trens expressos Rio-São Paulo e Rio-Belo Horizonte. Restaram duas, a 353, hoje no Museu do Imigrante, em São Paulo, e a 370, agora recuperada.


A Zezé Leone tem esse nome por causa da Miss Brasil eleita em 1922, ela também famosa na sua época. Ganhou filme, marchinha, busto de mármore e nome de rua. É conhecida até hoje por uma receita de doce que ainda é seguida nas casas de Minas e São Paulo (Zezé Leone era de Santos): um creme de baunilha de coloração rosada como a cor da sua pele.


O velho maquinista


Em Santos Dumont, a meio caminho entre o Rio e Belo Horizonte, no pé da Serra da Mantiqueira, havia cinco Pacific, abrigadas no IV Depósito de Locomoção, importante centro de manutenção de locomotivas da Central e depois da Rede Ferroviária Federal.  Havia também — se a memória não falha ao maquinista Domingos Marinho da Costa, de  80 anos, que conduziu a 370 na década de 50 — outras 28 locomotivas de carga e passageiros, de fabricação americana e alemã. Contando com as máquinas de passagem, o IV Depósito mantinha permanentemente, segundo o velho maquinista,  46 locomotivas “acesas”, ou seja, com a caldeira aquecida e prontas para atender a solicitações do Movimento, o departamento de operação da ferrovia.


Ele conta que a Zezé Leone veio para Santos Dumont na década de 50, e que antes operava no trecho Rio-São Paulo, junto com a 353, que lá ficou.


O IV Depósito foi desativado na privatização da ferrovia, no final da década de 90, e guarda hoje velhos vagões, carros de passageiros e dois guindastes a vapor. No tempo da Central, segundo seu Domingos, que começou como graxeiro, depois foi a foguista e depois maquinista, o Depósito tinha ferraria, fundição, caldeiraria e ferramentaria: “isso aqui era um formigueiro, havia 800 homens trabalhando”. Tinha também caixa d’água e carvoaria para abastecimento das locomotivas que vinham de Barra do Piraí (RJ) para subir a serra.


“Daqui até o alto da serra – recorda seu Domingos – levava umas três horas. Para a viagem a Belo Horizonte o trem saía do Rio de Janeiro em tração elétrica até Barra do Piraí, trocava para vapor, seguia até Três Rios, trocava de novo para outra locomotiva a vapor, vinha até Santos Dumont; aqui a gente engatava uma dessas máquinas e subia até Conselheiro Lafaiete, uns 120 km serra acima. Lá trocava novamente  e seguia até Belo Horizonte.” 


Ele explica que as trocas eram feitas para  abastecimento de água e carvão,  lubrificação e o ajuste das engrenagens das locomotivas a vapor.


“Em todo lugar onde tinha água a gente parava para reformar (ou seja, para abastecer). Daqui até Conselheiro Lafaiete a gente parava em Mantiqueira, Sítio (hoje Antonio Carlos), Alfredo Vasconcelos, Ressaquinha e Cristiano Ottoni. Uma locomotiva a vapor com caldeira acesa não pode nunca ficar sem água”. Seu Domingos conduziu a locomotiva na viagem inaugural, dia 8 de dezembro, entre a Estação de Santos Dumont e o IV Depósito.


Reforma


A locomotiva estava guardada dentro do IV Depósito e foi localizada em 2005 pelo pesquisador Sergio Martire, durante a elaboração do Inventário das Locomotivas a Vapor, um catálogo de todas as locomotivas a vapor existentes no Brasil (são 419) produzido pela Notícia & Cia, a mesma empresa que faria a restauração da Zezé Leone. Em 2007 a Notícia & Cia apresentou o projeto de restauro ao Ministério da Cultura e obteve autorização para captar o valor necessário, dentro da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). A MRS Logística ofereceu-se para a patrocinar o valor integral e a reforma foi inicada em março de 2008.


A MRS é a sucessora histórica da EF Central do Brasil, e seus trens são hoje tracionados por locomotivas  diesel elétricas de última tecnologia.  Passam pela mesma linha por onde passava a Zezé Leone há 80 anos atrás, o Ramal de São Paulo e a Linha do Centro. O Ramal de São Paulo foi por onde começou a ser construída Central do Brasil quando ainda se chamava EF Dom Pedro II,  inaugurada em dezembro de 1858, portanto há 150 anos. 


A reforma consistiu em trocar todos os tubos da caldeira e refazer o seu revestimento; refundir os mancais de bronze, desaparecidos quando a locomotiva ficou ao ar livre depois de desativada; substituir os rodeiros (eixos e rodas) do tender, onde são armazenados água e carvão; desmontar e reajustar os cilindros; reparar gerador de vapor de energia elétrica, compressor de vapor para freio e válvula de segurança; refazer a caixa do tender e a cabine; refazer os comandos de válvulas que desapareceram ao longo do tempo; refazer o limpa trilhos e outros serviços de menor importância. Tudo foi feito em nove meses, tempo recorde para um empreendimento deste tipo.


O trabalhou serviu para reativar o IV Depósito e para recontratar ferroviários aposentados da era do vapor, como o maquinista Domingos: o ajustador Francisco, que todos chamam de Baiano, responsável pelo delicado trabalho de equilibro das engrenagens das rodas, e o chefe de equipe José Hamilton, que veio da Estrada de Ferro Teresa Cristina, a última das ferrovias brasileiras a abandonar a tração a vapor, na década de 80. Serviu também como primeira experiência profissional dos alunos do Centro Municipal de Educação Profissional de Santos Dumont, felizes de fazer voltar à vida a máquina da geração de seus avós.


Para Regina Perez, diretora da Notícia & Cia, o trabalho em Santos Dumont apenas começou e deve continuar agora no restauro dos carros de passageiros  guardados no IV Depósito, deteriorando-se ao tempo.


“Um trem a vapor é um atrativo importante para qualquer cidade, e não só porque agrada aos moradores. A Zezé Leone vai atrair muitos visitantes de outras cidades, inclusive de outros países, e isso quer dizer turismo e renda para Santos Dumont”.


Leia na íntegra o discurso feito pela diretora da Notícia & Cia., Regina Perez, na apresentação da locomotiva


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