Estadão – O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, expôs na última sexta-feira, 23, o conflito que se colocou à frente do maior projeto ferroviário do País, a Ferrogrão. Numa primeira fala pública mais incisiva sobre os bastidores do empreendimento, Freitas disse que há uma utilização de “inocentes úteis” para barrar a ferrovia e que o discurso ambiental contra a obra é uma “cortina de fumaça” criada por quem não quer o ambiente de competição que será imposto com o novo traçado.
“A questão grande da Ferrogrão é que ela vai ser o maior regulador de tarifa do Brasil. Então aqueles que vão competir com a ferrovia não querem a Ferrogrão. E aí é muito fácil usar do discurso ambiental contra a ferrovia (…). E o cara que cobra hoje o frete rodoviário ou faz o transporte de ferrovia cobrando o preço rodoviário não quer que essa ferrovia saia. O jogo é muito claro”, disse o ministro durante uma live promovida pelo Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Pará.
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Atualmente, o andamento do projeto está parado em razão de uma decisão liminar do Supremo Tribunal Federal (STF). O processo envolve a alteração dos limites do Parque Nacional do Jamanxim, no Pará. Além da ação no STF, o Ministério Público Federal (MPF) e mais cinco organizações da sociedade civil pediram ao Tribunal de Contas da União (TCU) que o projeto fosse barrado provisoriamente, neste caso por uma discussão envolvendo o momento de consulta aos povos indígenas afetados pela ferrovia.
Durante a declaração na última sexta, Freitas sugeriu que ONGs e povos indígenas estariam sendo usados por interesses diversos ao da proteção ambiental e do respeito a essas comunidades. “Aí vou lá, patrocino uma ONG, pega um indígena e boto debaixo do braço, vou lá na redação de um jornal pra dizer que a ferrovia é ruim, ou contrato consultor para dizer que a ferrovia não faz sentido”, disse o ministro.
Freitas também rebateu alegações de que a Ferrogrão não seria um empreendimento viável. Segundo ele, o governo avançou no projeto porque recebeu o retorno positivo da iniciativa privada. “Se não fizesse sentido (a ferrovia), nós já teríamos abandonado”, afirmou o ministro, que argumentou ainda que a Ferrogrão se traduz num balanço ambiental extremamente positivo. “Sob todos os aspectos, a Ferrogrão é um grande negócio. Então ela vai acontecer”, disse.
O projeto de concessão da Ferrogrão prevê 933 quilômetros de trilhos, ligando Sinop (MT) a Miritituba (PA), nas margens do Rio Tapajós, no Pará. Só para implantar a ferrovia serão necessários R$ 8,4 bilhões de investimentos privados. A obra é projetada para ser o principal centro de escoamento de grãos de MT, papel que hoje é exercido pela BR-163.
O ministro comentou ainda o que seria, para ele, um contrassenso no discurso de quem se opõe a Ferrogrão. “O troço é tão maluco, que quando a gente fala em pavimentar a BR-319 vem os ambientalistas (e dizem) ‘um absurdo fazer a pavimentação da B-319, caberia aqui uma ferrovia’. Quando a gente fala em fazer a Ferrogrão, (dizem) ‘um absurdo fazer uma ferrovia aqui. Aqui tem que duplicar a BR-163’. Espera aí, gente, decide aí. Esse papo é de maluco”, comentou o ministro.
“Na verdade, há uma utilização de inocentes úteis para barrar um projeto de uma ferrovia que vai ser transformadora para a logística. Que vai deixar nosso produtor o mais eficiente do mundo – que ele já é eficiente da porteira para dentro e vai ser eficiente da porteira para fora. Que aquele cara que já produz 80 sacas por hectare contra 40 sacas por hectare do americano vai começar a transportar grãos com 40% menos de frete”, afirmou Freitas.
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