“Queremos democratizar o uso da ferrovia”. A frase do CEO da Brado, Marcelo Saraiva, resume a estratégia da operadora logística de adentrar nos meandros do mercado interno brasileiro. A subsidiária da Rumo para o transporte de contêineres quer sair pela tangente na lógica ferrovia-porto a que o setor ferroviário está habituado. No caminho inverso, quer que os trilhos sirvam de passagem para produtos dos mais variados tipos, levando-os em direção aos mercados consumidores no interior do país.
E o céu é o limite para a movimentação em contêineres. Na operação da Brado, já são transportados por via férrea desde caixa d’agua, cimento, vergalhão de ferro até pasta de dente, desodorante, gás de cozinha, cerveja, refrigerante, embalagens, latas, ovos, geladeiras e fogão. A lista não tem fim, porque a premissa, segundo Saraiva, é diversificar. “Queremos ser a menor distância entre gente que produz e gente que consome. Aonde a ferrovia for, tem sempre alguém consumindo e alguém produzindo”, diz.
Os contêineres destinados ao mercado interno atravessam os trilhos de Sumaré, próximo a Campinas (SP), a Rondonópolis, no Mato Grosso, onde a Brado tem um terminal intermodal. No segmento de exportação, que ainda responde por 70% do volume transportado pela operadora, os produtos são movimentados principalmente nos trechos Rondonópolis-Santos, e na Malha Sul, entre as regiões de Cascavel e Cambé, no Paraná, até o Porto de Paranaguá. Mas, em breve, um novo percurso fará parte da logística da empresa, destinado prioritariamente ao mercado interno: Sumaré-Anápolis (GO)- Davinópolis (MA), onde já está pronto um terminal de contêineres. O começo da operação nesses trechos depende da conclusão das obras da Rumo na Malha Central, entre Rio Verde e Anápolis, prevista para o início de 2023.
Para chegar a Davinópolis, a Brado vai, pela primeira vez, operar fora da malha da Rumo, usufruindo de direito de passagem. “Vamos entrar de Porto Nacional até Davinópolis por 600 km dentro da VLI”, afirma Saraiva. O plano de focar no mercado interno levou a companhia a prospectar outras oportunidades, em especial, no Sudeste, fomentando conversas com a MRS para acessar regiões entre Rio de Janeiro e Minas Gerais. “Eu acho que após a renovação da MRS teremos bastante coisa para fazer juntos”, prevê, acrescentando que enxerga com bons olhos os pedidos de autorização da Rumo para a construção de novas ferrovias.
Há sete anos na Brado, Saraiva já fez parte da equipe da ALL, MRS e Rumo. Ele classifica ferrovia como um negócio de “gente grande”, justificando, com isso, o fato de não pretender, até o momento, construir trechos ferroviários sob o modelo de autorização. “É um jogo pesado, talvez a gente tenha uma ideia de que isso é fácil, mas não é fácil construir ferrovia, não. E se você entrar em uma operação ferroviária sem saber muito o que vai fazer é um negocio até perigoso. E as ferrovias que estão aí, todas elas, são muito competentes”.
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