Depois de seis anos sem fabricar locomotivas com 3 mil Hp (a última encomenda foram sete Dash-7 para a Comercial Quintella) a GE Transportation brasileira vai começar a entregar ainda este mês para a África do Sul 20 C30-EMP, versão atualizada da Dash-7, dotada de injeção eletrônica e microprocessadores, primeira no mundo a ser fabricada com essa tecnologia em bitola métrica (ou quase: a bitola na África do Sul é de 1.067 mm). As locomotivas têm 3 mil Hp, peso nominal de 113 toneladas e truques de três eixos, o que permite 20 toneladas por eixo em estado de marcha.
Estamos lotados de encomendas em Erie (principal unidade industrial da GE, na Pensilvânia), disse Rafael Santana, novo presidente da GE Transportation para a América Latina. “Fabricamos 900 locomotivas este ano e vamos fazer algo como 950 no ano que vem. E se tivéssemos capacidade faríamos duas mil.”
Ele diz que o boom de encomendas no mercado ferroviário mundial iniciado por volta de 2003 não esmoreceu, mas mantêm-se firme. Desde 2003 ficamos olhando o mercado e pensando se esta é mais uma curva que vai logo ceder, como aconteceu no passado, ou se chega a formar uma tendência. E a conclusão é que vamos continuar com o mercado aquecido.”
A transferência para o Brasil de uma encomenda tão importante é sinal que a GE americana está distribuindo pedidos de locomotivas pesadas para as unidades industriais onde conta com capacidade de produção. No Brasil isso vinha sendo feito com locomotivas até 2 mil Hp destinadas a países latino-americanos. Ou então, com componentes fabricados por fornecedores certificados pela GE brasileira e destinados a GE americana. Assim, a Thyssen-Krupp de Matosinhos (MG) está fundindo blocos de motores diesel e exportando para Erie. Mas desde o fechamento da linha de fabricação de locomotivas em Campinas, em 1999, a GE não fabricava locomotivas de 3 mil Hp, hoje empregadas por todas as ferrovias brasileiras.
Para acomodar esta e futuras encomendas a GE construiu uma linha de montagem em suas instalações de Contagem, adicionando 20 % de área coberta. Rafael Santana revelou que para transformar a oficina em fábrica foram investidos US$ 500 milhões só em equipamento e sistemas informatizados. Em Contagem a GE fabrica os motores de tração e a cabine e monta truques e estrados adquiridos de fornecedores brasileiros. Dos EUA vem o motor diesel, o alternador e os controles eletrônicos Bright Star, marca GE para microprocessadors de locomotivas.
O cliente sul africano é a Sheltam, uma empresa do grupo de armadores e operadores de logística Grindrod que mantêm e opera locomotivas para vários clientes na África do Sul. Faltam ainda as encomendas das ferrovias brasileiras, mas Rafael Santana está confiante de que elas virão.Agora ninguém tem mais dúvida de que fabricamos locomotivas no Brasil.
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