Há muito tempo que os trens já deixaram de passar em Wenceslau Braz e a cidade não depende mais da ferrovia; o trem, no entanto, faz parte da história da região e continua sendo um dos principais símbolos do município. Parte dessa história, agora, poderá ser retomada; a América Latina Logística informou que o ramal Jaguariaíva-Ourinhos pode ser reativado. Dependendo dos investimentos em manutenção, se houver viabilidade econômica, os trens de carga voltarão a Wenceslau Braz.
Se isso acontecer, não vão mais encontrar a antiga estação, demolida recentemente. Inaugurada em 1918, no último ano de governo do presidente Wenceslau Braz, a estação integrava o então Patrimônio Novo Horizonte ao ramal Jaguariaíva-Ourinhos da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, que favoreceria a exploração do carvão mineral na região, motivo para a construção do sub-ramal Wenceslau Braz-Tomazina-Ibaiti-Figueira.
O ex-presidente Wenceslau foi convidado a visitar a cidade, em outubro de 1964; na impossibilidade de comparecer, enviou telegrama, de Itajubá (MG), agradecendo ‘‘comovidamente e desejando feliz 1965’’. Morreu em 1966, aos 98 anos. O telegrama está reproduzido numa placa muito bem visível no escritório do professor Joaquim Gil, 77 anos, historiador cujo acervo particular se compõe de centenas de documentos e 1.800 fotografias.
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O brasão do município ostenta, entre outros símbolos, a locomotiva e o nome do ex-presidente, ‘‘justa homenagem ao grande brasileiro que, como presidente da República, trazia para a região grande surto de progresso com a estrada de ferro’’, anotou Gil, co-autor do brasão. Ele escreveu ‘‘Wenceslau Braz – origens e formação’’, livro editado em 2005 pela Secretaria de Cultura do Paraná e Imprensa Oficial.
Pretendendo ilustrar a capa com uma imagem recente do pátio da ferrovia, Gil foi informado pelo fotógrafo de que a estação fora demolida, nada mais restava. ‘‘Fiquei triste. Não só eu, a comunidade.’’ Menos antigo, provavelmente da década de 40, o prédio da 8ªResidência de Via Permanente ao tempo da Rede de Viação Paraná-Santa Catarina deteriora-se, sem que haja um projeto de restauração ou se pretenda transformá-lo num recinto cultural, descaso que o professor Gil também acha lamentável. O próximo livro dele será justamente sobre a construção da ferrovia, que exigiu grande contingente de trabalhadores, ‘‘os turmeiros’’, causa de inevitáveis conflitos e crimes.
A cidade nasceu como Patrimônio de Tomazina, em 1917, uma área de 20 alqueires ‘‘doada de livre e espontânea vontade’’ pelo proprietário da Fazenda Faxinal, Alfredo Penteado. Elevado a distrito judiciário em 5 de abril de 1920, o patrimônio teve o nome mudado para Brazópolis. Já existia ao sul de Minas Gerais, na microrregião de Itajubá, o município de Brasópolis (grafado com S atualmente), antigamente São Caetano da Vargem Grande, terra natal de Wenceslau Braz (26-2-1868), onde se conhecia a ‘‘antiga Vila Braz’’, referência ao coronel Francisco Braz, pai do futuro presidente da República.
O distrito só virou município em 1935. Situado num entroncamento de rodovias estaduais, Wenceslau Braz tem atualmente 20 mil habitantes e uma taxa de crescimento populacional de 14,11%.
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