A crise aérea, acentuada pela tragédia do vôo 3054 da TAM que matou quase 200 pessoas, deu combustível para o mais ambicioso projeto de ligação Rio-São Paulo. O governador Sérgio Cabral encontrou-se ontem no Palácio Guanabara com representantes da Italplan, consórcio italiano responsável pelo estudo de maior viabilidade até agora apresentado para a construção de um trem-bala. O veículo seria capaz de viajar os 403 km que separam a Central do Brasil da Estação da Luz em uma hora e 25 minutos, a uma velocidade máxima de 360 km/h.
O governo federal se comprometeu, novamente, a abrir o edital de licitação, desta vez em janeiro. A informação foi passada pela chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a Sérgio Cabral. A ministra recebia o vice-governador Luiz Fernando Pezão, em Brasília. Apesar de o assunto ser o cronograma de obras do Arco Rodoviário do Estado, Dilma começou falando sobre a prioridade que o país precisava dar ao transporte ferroviário.
O diretor da área de Inclusão Social e de Crédito do BNDES, Elvio Gaspar, também participou do encontro no Guanabara, ao lado do grupo da Italplan. O custo total da obra deve ficar em torno de US$ 9 bilhões. As regras para a concorrência pública serão estipuladas pela Casa Civil com a ajuda do BNDES.
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– O governo federal já estava interessado no trem de alta velocidade. Agora, depois desse acidente com a TAM, ficou mais ainda – observou o secretário de Transportes do Estado, Júlio Lopes. – Ficou muito mais clara a necessidade de se investir numa nova alternativa modal que ligue as duas cidades.
O projeto inicial da Italplan, feito há mais de um ano, não previa investimentos públicos. Os aproximadamente R$ 18 bilhões seriam inteiramente bancados pelo consórcio em troca da concessão de operação no trecho por pelo menos 35 anos. O BNDES estuda agora como o governo poderá pôr o projeto nos trilhos e avalia quanto o governo federal poderia aplicar como contrapartida da obra. O Estado do Rio não deverá entrar com recursos. As reuniões de Cabral limitam-se a apoio logístico e político para o empreendimento.
– O trem de alta velocidade ficaria pronto em 2015. Se hoje já vivemos essa situação crítica, imagine daqui a oito anos – prevê o vice-governador Pezão. – Estive com a ministra Dilma e ela começou a reunião citando a necessidade de um transporte ferroviário com mais prioridade no país.
Ao falar à nação sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a construção de um terceiro aeroporto na região metropolitana de São Paulo como uma das ações do governo para combater a crise aérea e tentar dar resposta à sociedade. Paradoxalmente, a novidade serviu para os entusiastas do trem de alta velocidade. O secretário de Transportes do Riopondera:
– Nunca o governo conseguiria construir um novo aeroporto a menos de 100 km do centro de São Paulo. Para isso, teria que construir ligação ferroviária com a cidade. A obra toda custaria pelo menos R$ 9 bilhões. Por que não fazer logo a ligação entre Rio-São Paulo por trens de alta velocidade?
O secretário acrescenta que, em cidades européias e asiáticas, a ligação ferroviária é freqüente em distâncias de 400 km ou 500 km – caso de Rio e São Paulo. Principalmente porque o trem não é tão dependente do clima quanto o avião.
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