A região metropolitana de São Paulo convive há anos com o caos no transporte ferroviário de passageiros, problema que atinge cerca de 380 milhões de usuários por ano – número mais de dez vezes superior ao de usuários dos aeroporto de Congonhas e Guarulhos. No horário do “rush” (das 5h às 8h pela manhã, e das 17h às 20h, no fim do dia), oito pessoas chegam a ocupar o mesmo metro quadrado nos trens da Linha F da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a mais problemática do sistema, que liga o centro da capital, no Brás, à Calmon Vianna, na cidade de Poá, Zona Leste.
“Hoje o horário de pico ainda é ruim, mas antigamente, você tinha que bater nas pessoas para conseguir entrar e os trens saíam com as portas abertas”, conta, sem saudades, João Almeida, morador do bairro de Itaim Paulista, onde há uma estação da linha. Há pelo menos 30 anos, ele utiliza a linha F da CPTM, e acha que houve algumas melhorias há pouco tempo, como não permitirem mais viagens com as portas abertas. Aposentado, 51 anos, conta que quando começou a usar o serviço a companhia ainda era a Ferrovia Paulista (Fepasa). A CPTM só veio em 1992, com os ativos da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), que depois incorporou o transporte de passageiros da Fepasa em 1996.
A empresa mudou, mas o trem que Almeida pega é o mesmo. Os modelos que circulam nessa linha foram fabricados em 1965, 1978 e 1980. A situação é precária. Piso remendado com pedaços de madeira, janelas com travas quebradas e vidros riscados, portas sem as borrachas de vedação, furos e ferrugem na lataria das paredes, barulho de máquina rangendo. A atividade dos “marreteiros”, vendedores que circulam pelos vagões, deixa vestígios nas embalagens de mercadorias jogadas no chão.
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O ambiente não passa segurança aos usuários, e a lotação propicia a ocorrência de assaltos, assédio sexual e crise de stress. Elisete Gomes Barbosa, professora primária, conta que havia uso de drogas nos trens, o que foi coibido com reforço na fiscalização. “Eu acho que os agentes da CPTM tinham que circular mais pelos vagões, para dar mais segurança”, diz.
Para quem depende de condições especiais de locomoção, as reclamações são ainda maiores. Jaime da Costa dos Santos, 30 anos, utiliza o sistema há dez anos e é usuário de cadeira de rodas. Ele trabalha com confecção numa fábrica no centro da capital e morava na cidade de Itaquaquecetuba, Zona Leste. A falta de acesso para deficientes físicos às estações da Linha F e o desnível entre plataforma e vagões fez com que ele se mudasse para Guaianazes, bairro paulistano, para usar a Linha E (Luz-Estudantes). “Os trens são melhores e as estações possuem rampas”, diz.
O preço da passagem, R$ 2,30, semelhante ao ônibus, não minimiza críticas ao sistema. Os usuários justificam o uso da linha, por onde circulam 136 mil passageiros/dia, por falta de uma opção melhor de acesso a São Paulo. A solução para os problemas, para Reginaldo Lopes de Oliveira, servidor público, passa por mais investimentos. “O que explica a diferença entre os trens das linhas? Não á a mesma empresa?”, questiona, comparando com linhas que possuem trens mais novos, como é a Linha C, de Osasco a Jurubatuba.
Ela tem outro padrão. Da degradação dos trens da Linha F, só os risco nos vidros das janelas. Ambiente limpo, ar condicionado. Para completar, música clássica de fundo. “É a melhor linha da CPTM, não atrasa, é mais rápida e os trens são bons”, diz Paulo Francisco Luiz, 54 anos. Ele mora em Osasco e é segurança noturno de uma residência na Cidade Jardim, bairro paulistano. Se trocaria o trem por uma linha de ônibus? “Não, o trem faz em 35 minutos o que o ônibus faz em 1h20”, diz. Nos horários de pico, a lotação dessa linha também é menor, com uma média de 3,5 pessoas por metro quadrado. “É cheio, mas é tranqüilo”, diz Luiz.
Loni Vargas, 33 anos, é vendedora na Vila Olímpia e também considera o trem melhor que os ônibus. Ela utiliza a Linh
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