A fabricante francesa de trens e equipamentos para ferrovias Alstom deu início ontem ao que considera ser a retomada nas operações do mercado brasileiro ferroviário de passageiros. A companhia, que perdeu recentemente a disputa para fornecer os carros e equipamentos para a linha 4 do Metrô de São Paulo, entregou ontem mesmo sua proposta na licitação para fornecer 40 novos trem à CPTM e mais de 100 vagões para aumento da frota do metrô paulistano. Se vencer, a Alstom vai ampliar sua carteira de contratos no Brasil em mais de 600 milhões de euros.
“Essa licitação pode ser uma retomada nas operações voltadas para o mercado interno brasileiro, onde, por falta de investimento público, não temos atuado da forma como gostaríamos”, disse Geraldo Hertz, diretor comercial e de marketing para a Península Ibérica, Norte da África e América do Sul. “Será uma disputa acirrada, mas esperamos vencê-la.”
É verdade que os investimentos públicos no setor ferroviário voltado para o transporte de passageiros têm sido escassos nos últimos anos, mas a companhia francesa também não vem obtendo sucesso nas disputas em que participa no país. O fornecimento de trens e equipamentos de controle e sinalização para a linha 4 de São Paulo foi a última derrota. A companhia perdeu a disputa por um consórcio liderado pela alemã Siemens. Mas o que realmente fez diferença na briga não foi a comprovada eficiência tecnológica germânica. Foram os trens da coreana Rotem que desequilibraram a disputa.
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Baseada em Seul, a Rotem já havia vencido a Alstom em um dos últimos grandes contratos no país, realizado pelo governo do Rio de Janeiro para a concessionária carioca Supervia, há cerca de três anos. O grande diferencial da empresa asiática não foi exatamente o design, a qualidade ou a tecnologia usada nos vagões. “O preço deles foi extremamente baixo nos dois casos”, diz Hertz, sem falar em números. “Pelos valores apresentados por eles, o negócio não nos interessava”, afirma o executivo.
A Alstom ainda é a líder no mercado mundial de transporte ferroviário. Hoje, detém cerca de 15,4% do mercado e é seguida de perto pela canadense Bombardier, com 15,2%, e a Siemens, com 13,18%. Considerando que boa parte das instalações da Bombardier ficam na França, é possível afirmar, principalmente no mercado de transporte de passageiros, que a liderança ainda está com os europeus. Mas a concorrência externa está crescendo na mesma velocidade dos tão afamados TGVs, a principal fonte de orgulho da Alstom.
A vitória da japonesa Hitachi na licitação para fornecimento de trens de alta velocidade em uma linha ligando o Eurotunel a Londres este ano acendeu a luz amarela nas empresas européias. Essa foi a primeira vez que uma companhia asiática entrou em um mercado historicamente dominado pelas empresas locais. “O mercado mudou de forma drástica nesses últimos 10 anos”, afirma o delegado geral da Federação das Indústrias Ferroviárias Francesas (FIF), Jean-Pierre Audoux. “Antes éramos nós, os europeus, e os americanos”, diz ele. “Agora os fabricantes asiáticos estão chegando com preços baixos e soluções eficientes, a concorrência se tornou global.”
A questão enfrentada pela Alstom, que vem se recuperando de uma forte crise financeira que exigiu intervenção do governo francês há cerca de quatro anos, e das demais empresas européias é encontrar um equilíbrio entre qualidade dos produtos e preços. A tarefa, como mostram os exemplos da Hitachi na Inglaterra e da Rotem no Brasil, não é simples. “A europa é líder em tecnologia, precisa explorar produtos com maior valor agregado, como o TGV, mas não pode se esquecer que preço é fundamental”, diz o delegado da FIF.
Essa questão tem sido fundamental no desempenho da unidade brasileira. Com poucos investimentos públicos no transporte ferroviário e a forte concorrência dos coreanos, a unidade localizada no bairro da Lapa, em São Paulo, tem produzido primordialmente para exportação. É lá que são
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