Os passageiros tentam entrar no vagão, mas não conseguem. É preciso até uma equipe de seguranças para ajudar a encaixar pernas e braços dentro da composição, fechar a porta do trem e permitir que ele prossiga a viagem – com algum atraso.
Essas cenas se tornaram corriqueiras nos últimos meses na ligação mais nobre do sistema de trens metropolitanos de São Paulo, que beira a marginal Pinheiros, circunda bairros como Brooklin e Pinheiros e já foi uma referência em conforto.
A linha C da CPTM, recém-batizada de Esmeralda pelo governo José Serra (PSDB), saiu do cenário de vitrine para viver hoje uma crise inédita, com superlotação e atrasos, agravados por improvisos e por deficiência na manutenção dos trens.
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Um termômetro da situação são as próprias reclamações dos passageiros à CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos): foram de 122 em agosto para 213 em setembro e para 1.860 em outubro. Um salto de 1.425% em dois meses.
Uma parte da explicação está ligada ao crescimento da demanda. No mês passado, foram 147 mil passageiros por dia, alta de 32,6% em relação aos 111 mil do mesmo período de 2006.
Para isso, contribuiu a falta de ônibus na zona sul, onde atuava uma cooperativa que foi descredenciada pela prefeitura.
Mas os problemas vão além. Há três meses, os contratos de manutenção de 41% dos trens da CPTM venceram, não foram refeitos imediatamente e os trabalhos de reparo acabaram improvisados pelo contingente interno de empregados. O reparo dos trens ficou mais precário desde então. Em 8 de outubro, a composição 2107 teve uma avaria na caixa de contadores, que pegou fogo, quando circulava na linha C. Após um mês e meio, ela nem sequer começou a ser consertada.
“Abarrotado” – “Está impossível, os intervalos entre os trens estão muito maiores, e ninguém avisa. Às vezes, desisto e vou trabalhar de carro mesmo”, afirma Renato Costa Santana, 23, estudante de publicidade que utiliza há seis anos a linha C entre as estações Jurubatuba e Rebouças. “Já tive que esperar a passagem de três trens para conseguir entrar. O governo quer que a gente deixe nosso carro em casa, que não polua, que seja cidadão. Mas como? Está abarrotado”, diz Leonardo Lara, 33, jornalista que trabalha na região da Berrini, na zona sul.
O problema de superlotação também motiva queixas no metrô. Mas a condição da linha C da CPTM tem agravantes que não se limitam à piora brusca num curto espaço de tempo.
Um passageiro que não consegue entrar numa composição da linha 3-vermelha (leste/ oeste) do metrô num horário de pico em razão da superlotação sabe que, depois de cem segundos, passará a próxima.
Já na linha C a demora é quase quatro vezes superior. E, embora não seja oficialmente admitida pela CPTM, tem aumentado, dizem funcionários e passageiros. A companhia já divulgou em textos oficiais e até em seu site que os intervalos nos picos na linha C eram de seis minutos. Hoje diz que são de oito. Mas afirma que é só a média, não um aumento.
Sem sinalização – A linha C da CPTM também convive há mais de um mês com um trecho incompleto recém-inaugurado -faltam instrumentos que permitiriam maior controle, segurança e eficiência na operação.
Quatro dias antes do GP Brasil de F-1, em Interlagos, foi aberta a estação Autódromo, acrescentando quatro quilômetros à linha a partir da estação Jurubatuba. O novo trecho, porém, está até hoje sem sinalização -sistema que torna possível uma pilotagem mais automatizada, ao fornecer informações (como alertas e posicionamento da composição) ao maquinista e ao centro de operações que monitora a situação dos trens.
“É como um trem fantasma, que não tem controle externo, totalmente nas mãos do maquinista”, afirma Everson Craveiro, vice-presidente do STEFZS (sindicato que representa os ferroviários das linhas C e B). “Quando tudo funciona, é muito mais difícil ter um acidente. Sem sinalização, fica mais exposto. Se tiver algum pro
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