Araçatuba – As 15 antigas estações ferroviárias localizadas em 12 municípios da região de Araçatuba não atendem à recomendação do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) de preservá-las em favor da memória histórica. Os prédios, do início do século passado, estão deteriorados, depredados e até modificados por moradores, que instalam janelas novas fora do padrão arquitetônico e fazem até paredes novas.
Destas estações, três estão cedidas para famílias morarem, cinco estão completamente abandonadas e sete estão destinadas para outros usos. Em Araçatuba, por exemplo, o prédio da estação central abriga serviços sociais e um posto da guarda municipal. Outro prédio, na zona rural da cidade, virou moradia. Em Birigui há uma empresa instalada e em Castilho funciona a sede do Lions local. No município de Andradina, foram instalados um teatro e a sede da Secretaria de Cultura. Em Mirandópolis, há oficinas de arte.
Estão abandonadas as estações de Guararapes, que tem dois prédios, Rubiácea, Lavínia, Guaraçaí, Murutinga do Sul e a do patrimônio de Planalto, em Andradina. A empresa ALL (América Latina Logística), que explora o transporte ferroviário na região, mantém escritórios nas estações de Valparaíso e Glicério.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
Na tentativa de estimular a preservação destes locais, o governo federal criou o Programa de Destinação do Patrimônio da Extinta RFFSA para Apoio ao Desenvolvimento Local. A iniciativa prevê a cessão dos prédios às prefeituras e entidades privadas sem fins lucrativos interessadas na utilização destes imóveis para a implantação de programas, projetos e ações locais de desenvolvimento social, urbano e ambiental.
Desde abril, a Secretaria do Patrimônio da União, ligada ao Ministério do Planejamento, mantém uma comissão que faz o contato com as prefeituras de todo o País para firmar os convênios. Em Araçatuba, o poder público planeja obter a propriedade dos prédios da antiga rede ferroviária e, assim, obter recursos do governo federal para investir em obras de recuperação e preservação destes locais.
Hoje temos apenas a posse dos prédios e sem a propriedade não podemos pleitear recursos, afirma Evandro da Silva, secretário municipal de Negócios Jurídicos de Araçatuba.
Assim como Araçatuba, os outros municípios também pleiteiam a propriedade das antigas estações ferroviárias e aguardam a aprovação do projeto pela União.
MORADIA
Na região, três famílias encontraram nas estações um lugar para morar. Em Bento de Abreu, a senhora Maria Ozenir da Silva fez seu lar há sete anos na antiga estação, inaugurada em 1930. Ela e seus três filhos ocuparam uma antiga sala funcional para montar quarto, sala e cozinha improvisados. Seu filho se casou há dois anos e já ocupou outro compartimento para morar com a esposa e o filho.
A estudante Neuza Maria dos Santos, 19 anos, diz que se sente confortável em morar com a mãe e os irmão na antiga estação. Aqui é tranquilo e o barulho do trem nem nos incomoda mais, pois a gente se acostuma. Só sairemos daqui se formos obrigados, mesmo, disse ela.
A prefeita de Bento de Abreu, Teresinha do Carmo Salesse (PTB) disse que já fez o pedido para assumir o prédio da antiga estação e que pretende, assim que conseguir a concessão, abrigar a família em residência popular. Tenho planos de fazer um centro educacional ambiental na estação, afirmou.
Em Coroados, também há uma família morando há dois anos na estação, que foi inaugurada em 1922. A Prefeitura local diz que faz acompanhamento desta família para levá-la para um conjunto habitacional assim que for atendida em seu pedido de receber a posse do prédio histórico. Além da preservação do prédio, a prefeitura local tem interesse em montar um parque com equipamentos para exercícios físicos nos arredores.
Municípios pleiteiam propriedade dos prédios para recuperá-los
Dos 12 municípios da região que têm estação de trem, apenas Araçatuba e Andradina assinaram contrato de concessão com o governo federal. Os outros 10 já iniciaram os processos de adoção e todos têm projetos culturais. Em Birigui, onde uma empresa explora o prédio por meio de contrato com a ALL (América Latina Logística), a Prefeitura limitou-se a pedir a área próxima para instalar uma praça de lazer e eventos artísticos.
Em Guararapes, há dois prédios próximos, que estão pichados e parcialmente destruídos. Eles são usados diariamente por moradores da Vila Industrial para ir ao centro. O soldador Osvaldo Pires disse que tem medo de passar por ali a noite. A Prefeitura informou que já está em processo de negociação para revitalização do local.
A prefeita de Bento de Abreu, Terezinha do Carmo Salesse (PTB) quer transformar a estação, que está destruída, em centro cultural e de educação ambiental.
O secretário de Obras e Serviços Públicos de Valparaíso, Leandro Rodrigues Prado, disse que a administração negocia com o governo federal a cessão do prédio da estação, hoje usada pela ALL para instalação de escritório, para instalação de um centro cultural e também uma praça de exercícios para os idosos.
O assessor administrativo da Prefeitura de Lavínia, Marco Leite, disse que as negociações com o governo federal para cessão do uso do prédio estão adiantadas. Lá, a administração pretende instalar um centro cultural e aulas de judô. O que queremos é que o governo federal crie uma linha de crédito também para que as administrações consigam ter fôlego para fazer as reformas necessárias nos prédios, disse Leite. (J.O.)
Seja o primeiro a comentar