A Alstom tem planos de trazer para o Brasil uma parte da produção e tecnologia de trens de alta velocidade (TAV) da sua matriz francesa, caso participe da construção do trem-bala brasileiro, linha férrea de 511 km que ligará São Paulo ao Rio de Janeiro. A expectativa da empresa, segundo seu presidente no Brasil, Philippe Delleur, é de que o edital de licitação para a construção do novo empreendimento, avaliado em R$ 34 bilhões, seja lançado pelo governo ainda este ano.
Única empresa no Brasil a operar uma indústria ferroviária, com uma fábrica em São Paulo, a Alstom é líder de mercado na área de TAV, tendo participado da construção de vários projetos no mundo, sendo os mais recentes em Marrocos e Arábia Saudita. A experiência de mais de 30 anos da empresa na Europa e o fato de já termos uma base industrial instalada no Brasil, com mão de obra qualificada, agilizará o processo de transferência de tecnologia para a produção do trem de alta velocidade no Brasil, afirmou.
Segundo o executivo, a Alstom está preparada para atender à nova demanda que surge nessa área, com a perspectiva de lançamento de projetos como o do trem-bala e de metrô e veículos leves sobre trilhos (VLT) em capitais que se movimentam para receber os jogos da Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.
Para o projeto do trem-bala, o presidente da Alstom disse que a empresa irá oferecer dois tipos de produtos: o TGV Duplex, trem de dois andares, com capacidade para até mil passageiros e mais apropriado ao trânsito regional, com velocidade que pode chegar a 320 km por hora, e o AGV (automotriz de grande velocidade), para 700 passageiros e velocidade de 360 km por hora.
Por ser muito amplo, esse tipo de projeto, na opinião do executivo, envolverá riscos que deverão ser compartilhados entre o governo brasileiro e a iniciativa privada. Especialmente os riscos de demanda, que são muito fortes no início de implantação do projeto, além dos riscos ambientais. São questões importantes que devem ser esclarecidas antes de o projeto ser colocado no mercado, comentou.
O Brasil é hoje o quinto maior mercado da Alstom no mundo. A empresa está aqui há mais de 50 anos – o país foi um dos seus primeiros investimentos no exterior – e emprega um total de 4 mil funcionários, distribuídos em três unidades : a de transportes, na Lapa, em São Paulo; a de energia, em Taubaté (SP); e a sede, também na capital paulista.
A unidade da Lapa é considerada o centro mundial de excelência na fabricação de carros em aço inoxidável. A unidade emprega mais de mil pessoas, numa área de 125 mil metros quadrados. No setor transporte, a Alstom é a única fabricante de sinalização e material rodante para transporte de passageiros – fazendo desde o projeto e fabricação de carros, sistemas de sinalização (de vias e de bordo) e centros de controle operacional até a manutenção e modernização de carros e locomotivas e o gerenciamento de projetos.
A Alstom, de acordo com Delleur, é também a única empresa que investiu sua tecnologia de ponta na América do Sul para a fabricação de soluções que podem ir do VLT (veículo leve sobre trilho) ao TGV (trem de alta velocidade), passando por trens regionais e metrôs. Um em cada dois metrôs em operação na América do Sul foi desenvolvido pela Alstom Brasil.
Além disso, a filial brasileira da empresa se tornou um importante polo de exportação, produzindo equipamentos e sistemas para grandes projetos na área de energia, como as usinas de Três Gargantas (China), La Vueltosa (Venezuela) e Ralco (Chile), entre outros, e na área de transporte, para os metrôs de Buenos Aires (Argentina), Santiago (Chile) e Nova York (Estados Unidos).
No período de abril de 2008 a março de 2009, o faturamento da Alstom foi de R$ 1,81 bilhão, com R$ 4,17 bilhões em pedidos recebidos. Entre os contratos da empresa em andamento no Brasil, Delleur destaca a modernização do sistema de sinalização do metrô de São Paulo. Trata-se da última geração de tecnologia em sinalização e permite que o metrô ande de maneira automática, sem a necessidade do condutor, explica. O contrato, de acordo com Delleur, é da ordem de 350 milhões de euros e será concluído até o início do próximo ano.
A Alstom também está trabalhando na implantação de um sistema de VLT em Brasília, que ligará o aeroporto da cidade até a Esplanada dos Ministérios. O governo de Brasília assinou um contrato com o consórcio Brastram, constituído pela Alstom, TC/BR, Mendes Jr. e Via, para a primeira fase do projeto do VLT. A participação da Alstom nessa etapa, segundo Delleur, é de cerca de € 140 milhões.
Delleur conta que, com a proximidade da Copa do Mundo, sentiu um aumento do interesse dos municípios brasileiros em investir nesse tipo de empreendimento. Brasília será a primeira cidade a operar um VLT, mas a Alstom já está discutindo outros projetos semelhantes com as prefeituras de Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (BH), Santos (SP), Vitória (ES) e Rio de Janeiro.
Até o momento, segundo a Alstom, 29 cidades encomendaram um total de 1.221 VLTs Citadis fabricados pela empresa. Os VLTs de Brasília serão capazes de transportar mais de 400 passageiros por veículo. A empresa calcula que os VLTs de Brasília deverão receber de 120.000 a 200.000 passageiros por dia. A Alstom também fornecerá ao projeto VLT os sistemas de energia elétrica, bem como sistemas de telecomunicações, sinalização, bilhetagem automática e o Centro de Controle Operacional.
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