Os representantes das principais cidades do Vale do Paraíba compareceram em peso, ontem, à primeira audiência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em São José dos Campos, para discutir o impacto do projeto do trem de alta velocidade (TAV) na região. O projeto, elaborado pelo governo federal, prevê a construção de duas estações na região, mas definiu apenas uma parada obrigatória, em Aparecida, deixando ao consórcio vencedor a escolha de outro terminal. Pelo menos Taubaté, Jacareí e a própria São José dos Campos querem sediar um terminal do trem. Para isso, fazem estudos e já prometem benefícios fiscais.
A primeira fase do projeto considerava São José dos Campos como referência para uma das paradas obrigatórias, mas o edital da ANTT decidiu flexibilizar a localização das estações, de modo a acomodar o projeto de acordo com o traçado que será definido com o consórcio vencedor. “Com a mudança, a negociação entre São José dos Campos e a empresa vencedora ficará muito fragilizada em função das ofertas de desoneração fiscal e batalhas entre os municípios que querem abrigar a estação”, argumenta o presidente da Associação Comercial e Industrial de São José dos Campos, Felipe Cury.
Segundo Cury, a construção de uma estação na cidade deixou de ser um ponto pacífico para virar uma questão de guerra e de política entre os municípios do Vale do Paraíba. “Esse assunto não pode ser partidário e deve ser solucionado sob o ponto de vista técnico e de estudos sócio-econômicos.”
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São José dos Campos, segundo o prefeito Eduardo Cury (PSDB), possui hoje a terceira maior demanda de passageiros para o trem-bala, à frente de cidades como o Rio de Janeiro. “O fato de tirar do edital a obrigatoriedade de uma estação em São José deixou a questão em aberto e deu margens para que haja especulação.”
Para o prefeito de Jacareí, Hamilton Ribeiro Mota (PT), não existe disputa política pela estação na região. “Não será uma estação que irá alterar radicalmente a proposta dos consórcios. A decisão será técnica e levará em conta a viabilidade econômica. O importante é que, seja em São José ou em Jacareí, de qualquer maneira haverá um grande impacto para o desenvolvimento de toda a região.”
Mota, no entanto, fez questão de ressaltar que Jacareí reúne condições para abrigar uma estação do trem-bala. “O município possui uma lei de incentivos a novos empreendimentos, além de baixo adensamento urbano e quase nenhuma restrição ambiental, como é o caso de São José, que reivindica mudanças do traçado referencial do trem-bala, porque afeta uma área de proteção ambiental, conhecida como Banhado.”
O diretor de planejamento da prefeitura de Taubaté, Antônio Carlos Pedrosa, disse que o município apresentará um projeto alternativo para o TAV. “Desenvolvemos esse trabalho em conjunto com os grupos internacionais que irão participar da licitação”. O estudo da prefeitura, segundo Pedrosa, mostrará as vantagens da instalação da estação em Taubaté.
O deputado estadual Carlos de Almeida (PT/SP) diz que a estação ficará em São José dos Campos. “O estudo referencial da ANTT indicou a cidade como a melhor alternativa no lado paulista do Vale, baseado em estudos técnicos de demanda, custo de obra, dificuldade geológica e impacto ambiental.” Segundo o deputado, 90% dos R$ 34,4 bilhões a serem investidos no projeto terão que ser custeados pela tarifa. “Não tem porque eles deixarem de escolher a cidade mais populosa e com maior renda per capita do Vale do Paraíba. Toda a região vai ganhar.”
O edital definiu a obrigatoriedade de construção de, no mínimo, nove estações. Campinas (duas), São Paulo, Guarulhos, Aparecida e Rio de Janeiro (duas) estão confirmadas. As duas restantes deverão ser instaladas no Vale do Paraíba paulista e no Vale do Paraíba fluminense, a critério do consórcio vencedor. Hoje há nova audiência em Aparecida e amanhã ocorre a última, em Barra Mansa (RJ).
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