Enquanto o trem não chega, não há razão para perder tempo. A dona de casa Marcia da Silva descobriu isso nesta quarta-feira, em uma estação. Uma mesa, um professor e uns minutos de ajuda para o concurso público que ela vai fazer no mês que vem.
“Parece que tem um anjinho sempre indicando caminho para gente. Vou prestar a prova e a gente fica com umas dúvidas”, contou ela.
Aulas de português e matemática nas estações de trem de São Paulo. Reforço escolar para quem precisa, mas não pode pagar um professor particular. O projeto será implantado nas cinco maiores estações da cidade, exatamente as mais barulhentas.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
“Isso não tira concentração, é diferente. Na aula também tem alunos que bagunçam”, disse o estudante Lucas Rafael da Mata.
O ambiente não se parece em nada com uma sala de aula. Nenhum professor vai poder pedir silêncio para a moça no alto falante, nem para as máquinas que passam fazendo barulho, mas a oportunidade de ensinar no local é muito boa. Cerca de 300 mil pessoas passam por dia na estação, que fica no bairro do Brás.
Em todas as linhas de trens urbanos e de metrô de São Paulo são quase 6 milhões passageiros por dia. Entre eles, Rafael, que viu os professores em um dia e trouxe os colegas de sala no outro. A turma provou.
“Funciona, eu me surpreendi muito. Vim fazer pergunta simples e o professor começou a desmembrar tudo”, contou a estudante Lília Lima Oliveira.
Não há um método de ensino definido nem tempo máximo para cada estudante. ”Eles vieram aqui para tirar uma dúvida e eu tirei três dúvidas com essas dicas. Dá para tirar porque eles vêm predispostos a aprender”, explicou o professor de português Edson Oliveira.
Tão dispostos que, para alguns estudantes, o trem deixou de ser o mais importante na estação.
“Se está no meio da explicação importante e chega trem, deixa o trem e vai no próximo, na hora do vestibular vou lembrar que o trem veio rápido. Não pode perder o trem do estudo, tem que casar os dois”, brincou o estudante Rafael Pereira.
O projeto é uma parceria da Secretaria Estadual de Transportes com uma universidade particular.
Seja o primeiro a comentar