Conhecida pela dimensão de seus negócios em suco de laranja, grãos, e mais recentemente, em açúcar e álcool, a multinacional francesa Louis Dreyfus Commodities decidiu incorporar o Brasil à sua plataforma mundial de comercialização de arroz. A partir deste ano, a companhia, que faturou R$ 7,3 bilhões em 2009, iniciará a originação do cereal no Rio Grande do Sul e o exportará, principalmente, ao continente africano. A investida reflete a visão global da empresa de que a população mundial vai crescer e se urbanizar a um ritmo acelerado nas próximas décadas, o que elevará a demanda por alimentos.
A novidade integra a estratégia da empresa de investir nos próximos quatro anos US$ 775 milhões no Brasil para dobrar a movimentação de produtos do agronegócio das 8 milhões de toneladas atuais para 17,2 milhões até 2014. O presidente da LD no Brasil, Kenneth Geld, pontua que o investimento não inclui aquisição e nem o negócio com a Santelisa Vale.
No caso do arroz, a meta é originar neste primeiro ano 300 mil toneladas mas, segundo Geld, há potencial para dobrar o volume no curto prazo. A empresa já abriu um escritório comercial em Porto Alegre para comprar o grão de produtores e de cooperativas.
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Diferentemente das commodities que integram o portfólio da múlti francesa, o arroz não é cotado em mercado futuro, o que reduz sua liquidez. “Por isso, nesse negócio ganham importância a relação com fornecedor, cliente, logística e distribuição”, diz Geld.
Mundialmente, a empresa já é grande comercializadora de arroz com forte atuação no eixo Ásia – que representa 75% do suprimento mundial – e África, grande e crescente consumidor e onde a LD já detém 30% do mercado.
O café é outra área que está na lista das expansões da múlti francesa no Brasil. Geld informa que serão investidos neste ano entre US$ 6 milhões e US$ 8 milhões na construção de mais dois armazéns na região produtora de café arábica de Minas Gerais, o que significará dobrar a capacidade atual. Até 2014, a empresa quer movimentar 355 mil toneladas do grão, – o equivalente a 20% das exportações brasileiras hoje – ante as 75 mil toneladas comercializadas em 2009. “Trata-se de um produto de maior valor agregado. Usar 100% de armazem próprio é fundamental no gerenciamento da qualidade”.
A importância do Brasil para a estratégia global da Dreyfus já é conhecida. Em 2008, 63% dos ativos mundiais da empresa estavam no Brasil. Em 2009, essa proporção subiu para 75%, o equivalente a R$ 6,4 bilhões. A aquisição dos ativos da Santelisa Vale em 2009 foi fundamental nesse avanço.
Juntamente com o aumento da movimentação de produtos agrícolas, a Dreyfus espera alavancar a área de fertilizantes. O tradicional escambo – troca de produção futura de grãos por insumos, sobretudo adubo – é muito comum na operação de outras tradings, mas ocupa uma fatia pequena dos negócios da companhia, conta Geld. “Agora vamos usar nossa presença no país para avançar em insumos”.
A meta é sair das atuais 350 mil toneladas movimentadas no Brasil para 2 milhões de toneladas até 2014. Em seu dia a dia, a multinacional faz negócios com 14,2 mil produtores em diversos Estados do Brasil, que cultivam uma área de 2,7 milhões de hectares e consomem 1 milhão de toneladas de adubo, o que já representa metade da meta do grupo para 2014.
Em 2009, o negócio brasileiro da LD gerou R$ 1,1 bilhão de lajida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), três vezes mais do que no ano anterior. A performance foi puxada sobretudo pelo bom momento da soja e do algodão, segundo Geld. O reflexo dos investimentos em açúcar e álcool – a empresa dobrou de tamanho nesse segmento no ano passado – só deve aparecer nos balanços de 2010.
No último ano, a companhia avançou também em logística, resolvendo alguns gargalos existentes. Em parceria com a americana Cargill, começou a operar os terminais de açúcar (Teag) e de grãos (Teg) no Guarujá (SP). Ainda, assinou contrato para transporte de 1,5 milhão de toneladas de produto com a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), escoando grãos captados em Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais até o Porto de Tubarão (ES).
Mais investimentos estão a caminho, mas desta vez, no Nordeste. Mesmo sem afirmar categoricamente, Geld dá sinais de que um terminal de grãos no porto de Itaqui (MA) seria altamente atrativo ao grupo, que tem em seu foco crescer na região do “Mapito” (Maranhão, Piauí e Tocantins). “Já há necessidade dessa infraestrutura”.
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