Com uma malha de 29 mil quilômetros de trilhos, que representam 25% da matriz de transporte nacional, de acordo com dados da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários), o setor ferroviário – baseado nos projetos atuais e futuros – dá indícios de recuperação; entretanto, surge a questão: há mão de obra especializada suficiente para atender as necessidades do segmento?
Especialistas alegam falta de profissionais no mercado brasileiro; Vicente Abate, presidente da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária), concorda, mas afirma que a oferta é pequena quando se toma como base projetos relacionados à infratestrutura para a Copa do Mundo e Olimpíadas. Para os projetos atuais não há o que se preocupar, diz o executivo.
Com a previsão de crescimento na demanda, a Abifer assinala para a recuperação do efetivo de profissionais demitidos desde que a chegada da crise internacional. De acordo com Abate, haverá uma reposição gradativa dos mais de três mil contratos encerrados nas 35 empresas associadas.
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“O objetivo é repor esse efetivo até 2011 – elevando de dez mil para 13 mil a quantidade de trabalhadores – para atender a retomada da produção das empresas que deve ultrapassar o volume de três mil vagões produzidos neste ano”, projeta o presidente.
De modo geral, para a ANTF, toda essa movimentação do setor deverá elevar a oferta de empregos diretos e indiretos. A associação trabalha com a expectativa de elevar o total de 36.567 empregos em 2009 para mais de 44 mil até 2011.
Qualificação ferroviária
Ele salienta que a falta de profissionais qualificados no mercado pode prejudicar o avanço da indústria, no entanto, destaca que o cenário atualmente pode este não é problema principal.
“O cenário atual da formação de profissionais não impede o crescimento do setor. O que existe é uma carência para suprir a demanda futura”, destaca Abate, afirmando que não há falha na formação atual no setor que projeta um faturamento de R$ 2,6 bilhões para este ano, similar ao verificado em 2008, antes da crise.
Segundo o executivo, as concessionárias e fabricantes estão tendo um importante papel na formação, incrementando a parte técnica dos cursos existentes nas universidades tradicionais. Grande parte criou cursos de graduação e pós-graduação em diversas áreas e incentivam a especialização.
“Os programas criados vão desde o mais simples (maquinistas) até o nível mais alto (gestão). Existem cursos muito bem executados que auxiliam o refinamento dos nossos profissionais”, observa Abate. Segundo ele, o trabalho realizado preenche uma deficiência do ensino tradicional.
Questionado sobre a recorrente falta de engenheiros ferroviários, o presidente da Abifer relata que o problema é mais amplo. “No Brasil, falta engenheiros para todas as áreas. Trata-se de uma falha estrutural do ensino no País”.
Segundo o presidente, a formação de engenheiros novos deixa a desejar. De 150 mil alunos que iniciam os cursos, apenas 30 mil finalizam o processo de aprendizado. “Desses, apenas 30% deixam os bancos escolares com a qualidade curricular requerida pelo mercado”, observa.
Para atender à demanda, as empresas têm investido em ações voltadas à formação de pessoal e qualificação, além de propor às universidades como PUC, USP e Fundação Dom Cabral, a extensão das vagas voltadas à Engenharia Ferroviária.
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