*Patrícia Branco diretora de Gestão de Recursos e sócia da Global Equity Administradora de Recursos
Às vésperas da Copa do Mundo e da Olimpíada, em 2014 e 2016, o Brasil ainda carece da infraestrutura mínima necessária para receber atletas, jornalistas e turistas de todo o planeta que vão nos visitar durante esta década. O maior indicador desse problema é a saturação dos aeroportos do país, que contribuem inclusive para os frequentes atrasos nos voos das companhias nacionais. Mas o pior é a urgência de termos que nos preparar para essas festas antes mesmo de resolver algumas necessidades mais prementes, como as de saneamento básico, estradas, ferrovias e portos para escoamento da crescente produção interna de bens. A boa notícia é que existe cada vez mais dinheiro disponível no mercado financeiro para investimentos em infraestrutura. Basta o governo definir de maneira clara as regras de cada setor que a iniciativa privada está pronta para fazer a sua parte.
Um relatório publicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2009, considerando fundos de pensão de diversos países, mostra que estes que são os maiores investidores institucionais do mundo estão cada vez mais dispostos a investir no setor.
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Em “Investimentos de Fundos de Pensão em Infraestrutura”, Georg Inderst afirma que estes investidores, cujos maiores representantes no Brasil ainda tem um viés estatal (Previ, Petros e Funcef, por exemplo), têm considerado uma ampla gama de projetos, seja da área econômica, como os transportes em geral, seja da social, como hospitais. A grande dificuldade seria a falta de dados sobre tamanho, risco, retorno e correlações dessa diversa classe de ativos, o que torna os investidores cautelosos:
“Considerando que investir em tais ativos também envolve novos tipos de veículos de investimentos e riscos para os fundos de pensão administrarem – como exposição a questões de alavancagem, legais e de propriedade, e riscos ambientais, bem como desafios regulatórios e políticos -, tal cautela pode ser bem justificada. Todavia, se os governos querem ajudar os desenvolvedores de infraestrutura a acessarem fontes de financiamento potencialmente importantes, como fundos de pensão, certos passos podem ser dados.”
Dentre esses passos, o autor inclui alguns em especial que deveriam ser observados no caso brasileiro: a definição de um ambiente regulatório apropriado; a cooperação entre os setores público e privado a partir de contratos claros; a garantia de suporte público e institucional para o projeto e a escolha do financiamento; e a promoção de altos padrões de transparência para o setor de private equity. Sobre este último, é importante notar que ele pode ser o grande veículo de investimento dos fundos de pensão – não somente de capital nacional, como também os estrangeiros – no setor de infraestrutura, no Brasil.
Em seu trabalho de doutorado em Desenvolvimento Econômico Internacional pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), no ano passado, Ayman Ismail mostrou que a captação para fundos de private equity nos mercados emergentes subiu de US$ 6,6 bilhões, em 2001, para US$ 66,5 bilhões em 2008. No mesmo período, a captação mundial subiu de US$ 154 bilhões para US$ 445 bilhões.
Assim, a participação dos mercados emergentes no valor total captado passou de 4,3% para 14,9%. Considerando o atual cenário de crise em que as economias emergentes passaram ao centro do crescimento econômico global, é de se esperar que esse percentual cresça ainda mais nos próximos anos. Ismail concentrou sua análise no Egito e nos países do Oriente Médio e norte da África.
Um setor que já tem se beneficiado com sucesso dos bons ventos que impulsionam o private equity no Brasil é o imobiliário. Entre construtoras, incorporadoras e outros agentes que atuam neste setor, pode-se dizer que sobra dinheiro no país e estão faltando mão-de-obra qualificada e até matéria-prima. O déficit habitacional brasileiro é um problema histórico que está equacionado para ser resolvido até meados da próxima década. Agora é a vez da infraestrutura. E, seguindo a regra dos investimentos em construção civil, dinheiro não parece ser o problema.
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