A indústria nacional de vagões e locomotivas de transporte de carga vive seu melhor momento desde os anos 1970. Naquele período, produziu 30,6 mil vagões e 638 locomotivas. Nesta década, entre 2010 e 2019, deverá fabricar cerca de 40 mil vagões e 2,1 mil locomotivas, segundo estimativa da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer).
O mercado voltou a crescer após a privatização do setor ferroviário. E disparou a partir de 2002. Desde 2003, a indústria investiu R$ 1 bilhão em aumento de produção e tecnologia, de acordo com a entidade.
A privatização provocou uma bolha de consumo e em seguida o crescimento passou a ser cíclico, dependente de projetos específicos, segundo Ricardo Chuahy, presidente da AmstedMaxion, líder da indústria de vagões de carga, com participação de 67% das 3.261 unidades fabricadas em 2010 (2.165 vagões).
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O maior cliente da companhia após a privatização era a Vale e o produto mais transportado, o minério de ferro. Com o passar dos anos a demanda das empresas pelo transporte ferroviário cresceu, em detrimento do feito por rodovias, enquanto as exportações aumentaram e a carga se diversificou, assim como os vagões.
Um exemplo é a Cosan, que no ano passado criou a Rumo, empresa de transporte e logística, para movimentar 10 milhões de toneladas de açúcar por safra. Isso rendeu à AmstedMaxion uma venda à companhia de 500 vagões em 2010. Este ano a empresa deve entregar ao mercado cerca de 2.600 vagões e 500 caixas de vagão (a parte inferior do equipamento). Para 2012, a AmstedMaxion detém opção de venda de 1.982 vagões para a Vale.
Tal cenário está estimulando os fabricantes a investir mais em melhora de produtividade e desenvolvimento de novas soluções. A concorrência, que sumiu quando o mercado encolheu há mais de duas décadas, também está de volta. De 2001 a 2008, a AmstedMaxion ficou com 74% a 100% das vendas no país, em 2009 sua participação foi de 57% e, no ano passado, de 67%. A fatia restante é das empresas Rondon, que ingressou no segmento em 1998, e Usimec, braço de bens de capital da Usiminas.
O mercado de locomotivas também atrai novos competidores. A vendas dessas máquinas aumentam proporcionalmente mais que as de vagões, de acordo com Vicente Abate, presidente da Abifer, inclusive por necessidade de renovação da frota. E devem totalizar em 10 anos algo em torno de duas mil máquinas, no valor aproximado de R$ 6 bilhões, segundo Guilherme Mello, presidente e CEO da GE Transportation para a América Latina.
A companhia, que planeja investir R$ 30 milhões em cinco anos, de um total de R$ 500 milhões que o grupo GE está investindo na expansão de suas operações no país, atende a praticamente 100% do mercado, que ficou em 68 unidades em 2010 e deve alcançar 100 em 2011.
Este ano a empresa está entregando as últimas locomotivas de 1.400 HP de um lote de 50 contratado em 2010 pela Cosan, além de outras 10 vendidas à operadora logística ALL e 90 à MRS, das quais 60 referem-se a contrato de venda de 115 máquinas assinado em 2010 com a companhia. No mesmo contrato, a MRS fez opção de compra de outras 100 máquinas.
Outras duas fabricantes estão ingressando no mercado. Uma delas, a EIF, criada em 2001, tem fábrica em Três Rios, Rio de Janeiro. Produz locomotivas de manobra de até 2.000 HP e importa locomotivas usadas dos Estados Unidos. A segunda, a MGE, é a principal fabricante nacional de componentes, com fábricas em Diadema e Hortolândia, São Paulo, e foi comprada em 2008 pela americana Caterpillar. “A concorrência comprova o potencial do mercado”, diz Mello. E a frota cresce: constitui-se de 2.700 máquinas, 1.100 mais que em 2002 (1.600).
O país importa poucas locomotivas, segundo Mello. Vêm de fora as de maior potência. Mas metade dos componentes das locomotivas produzidas no Brasil, motores inclusive, é comprada no exterior: “Ampliar a participação de fornecedores nacionais é um grande desafio porque o nível de qualidade dos produtos obedece a padrão global”, explica Mello.
Para os fabricantes de carros de passageiros, a melhor década foi a passada, quando a indústria nacional produziu 1.943 daqueles equipamentos, para 950 nos anos 1970. Mas a atual década deverá ser ainda melhor, segundo Abate. Isso porque o país produz mais de 400 máquinas por ano há três anos seguidos e em 2011 deverá fabricar 450.
O mercado começou a ser aquecer nos anos 1980, período em que a indústria nacional fabricou 1.460 carros de passageiros, declinando nos anos 1990 e voltando a se recuperar nos anos 2000. Nessa década, no entanto, a maior parte da produção foi exportada (1.424 carros dos 1.943 fabricados).
Mas a indústria tem suas queixas. Para Abate, a produção poderia ser maior se os governos comprassem mais de fabricantes nacionais, exercendo a margem de preferência de 14%, a chamada garantia de isonomia de concorrência, coberta pelo Banco Mundial.
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