*Vicente Abate é presidente da ABIFER.
As tentativas vêm de todos os lados. Todos, salvo raríssimas exceções, querem aproveitar-se da extrema vulnerabilidade que se impingiu à indústria brasileira recentemente. Uma indústria que possui qualidade (foram-se os tempos das “carroças” automotivas), cumpre rigorosamente com seus compromissos de entrega e só não oferece preço mais competitivo devido a fatores alheios a ela, como veremos a seguir.
Real excessivamente valorizado, moeda chinesa estrategicamente (para eles) desvalorizada, aliada a incentivos locais (o aço para a indústria chinesa tem preço 20% menor que o preço internacional), carga tributária brasileira duas vezes maior que a dos demais países do BRIC e, para completar a lista, um imposto de importação extremamente baixo no caso da indústria ferroviária.
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Resultado? Trens chineses e coreanos completos chegando ao País. Chegando é força de expressão, pois, como vimos pela imprensa na semana passada, a entrega de trens chineses para o Rio de Janeiro se atrasará em mais de um ano (aliás, se os trens tivessem sido comprados da indústria nacional, como fez o Metrô Brasília, já estariam gerando receitas, tanto financeiras quanto sociais).
A aquisição de trens asiáticos tem outros efeitos nocivos. Além de não gerar emprego e renda ao trabalhador brasileiro, não somente o da empresa montadora do trem mas de toda a cadeia produtiva, sua assistência técnica no Brasil inexiste. Verdadeiro absurdo, considerando-se a vida útil deste equipamento, de mais de trinta anos (se é que ela chegará a tudo isso).
Vimos também na imprensa, semana passada, uma orquestração anônima com o objetivo de diminuir o já reduzido conteúdo nacional do Trem de Alta Velocidade Rio-São Paulo-Campinas.
Aonde querem chegar? A quem interessa isso?
Todos sabemos que falta isonomia tributária ao produto brasileiro para concorrer com o importado, em igualdade de condições. Cabe ao governo brasileiro, portanto, tomar urgentes ações sobre os fatores que tiram nossa competitividade, os quais não são exclusivos da indústria ferroviária, sob pena de a indústria brasileira ser desmantelada e ficarmos à mercê de importações danosas ao País, sob todos os aspectos.
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