A Cosan anunciou na noite de terça-feira (21) que está negociando a compra de 38.980.117 de ações da ALL, o que corresponde a 5,6% do capital total da companhia. Deste montante de ações, 34 milhões são papéis vinculados ao acordo de acionistas, ou seja, o grupo que tem direito a voto. Isso representa 49% do grupo de acionistas que mantém um acordo de voto entre si para participarem conjuntamente das decisões estratégicas, por meio do conselho da companhia.
A proposta de compra de ações foi firmada com os acionistas Riccardo Arduini, conselheiro da companhia, de sua esposa Julia Dora Koranyi Arduini, e da GMI (Global Market Investiments L.P., representando o presidente do conselho de administração da ALL, Wilson de Lara. O valor da operação é de R$ 896,542 milhões. A Cosan não pretende fazer emissão de ações para concluir esse investimento. A empresa deverá contar com recursos próprios e poderá recorrer a investidores.
A transação está sujeita à aprovação dos demais sócios do bloco de controle da ALL, que deverão colocar em votação nas próximas semanas a nova composição acionária da companhia. A Cosan está propondo pagar um valor expressivo para ingressar no bloco de controle da companhia – cerca de R$ 23 por ação -, ou prêmio acima de R$ 400 milhões.
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A operação também deverá passar pelo crivo da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Vemos muito valor nesse negócio. Nossa estratégia é de longo prazo. O setor [ferroviário] está passando por mudança regulatória e o país vive um momento de fortes investimentos em infraestrutura”, disse Marcos Lutz, presidente do grupo Cosan.
A Cosan deverá pleitear assentos no conselho de administração da companhia e seus representantes deverão ter voz ativa nos novos rumos da companhia. Lutz afirmou que não interessa ao grupo ter controle majoritário da concessionária de logística.
Mas negociações entre as duas companhias só poderão evoluir com “a benção” dos demais acionistas do bloco de controle, entre eles fundos de pensão, como Previ (fundo dos funcionários do Banco do Brasil), Funcef (Fundação dos Economiários Federais), além do braço de participação do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Isso, por conta de um acordo de acionistas firmado entre os controladores da ALL, onde vigoram cláusulas que preveem direito de preferência, além de um bloqueio à venda das ações por um período determinado por conta de uma cláusula de “lock-up”, introduzida na última alteração desse acordo que vence em 2017.
Segundo fontes próximas aos fundos de pensão acionistas da empresa, não adianta sócios “privados” quererem vender papéis de uma empresa que eles sozinhos não controlam, uma vez que estão todos juntos no acordo. No entender dos interlocutores ouvidos pelo Valor, a possibilidade de um novo sócio entrar na ALL, mesmo que haja interesse de alguns acionistas, só vai acontecer se tiver conversa “com outros zagueiros”, tanto da parte de quem quer vender, quanto da parte de quem quer comprar – o que não aconteceu até agora.
O acordo entre Cosan e os acionistas que negociam a venda de parte de sua participação tem um prazo de quatro anos e garante exclusividade, afirmou Lutz. O executivo espera, contudo, que a aprovação seja definida em semanas ou em até poucos meses. “Não temos um plano B [caso haja rejeição]”, afirmou. O interesse da companhia em ingressar no grupo é antigo. A empresa já tinha tentado, sem sucesso, negociar a compra de participação na ALL de antigos acionistas.
“Torcemos para que o negócio seja levado adiante. Temos DNA em agronegócio, assim como a ALL. Essa parceria vai beneficiar a sociedade”, disse ao Valor Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do conselho de administração da Cosan, lembrando que o Brasil tem investido fortemente em infraestrutura.
A entrada do grupo Cosan no bloco de controle da ALL Logística deverá impulsionar a expansão da empresa ferroviária. O Valor apurou que a companhia deverá receber uma injeção de recursos para promover seu crescimento, caso a transação seja aprovada pelos demais sócios do grupo. As áreas portuárias e a malha ferroviária deverão receber pesados aportes com a chegada no novo sócio.
A entrada de um sócio estratégico como a Cosan na ALL foi bem recebida pelo governo, que estava familiarizado com essa operação, segundo fontes ouvidas pelo Valor. A Cosan é vista como um parceiro forte, cujo foco dos investimentos tem se concentrado em infraestrutura. A ALL está desde 2010 em processo de reestruturação, com a diversificação de seus negócios. “A entrada da Cosan na ALL poderá dar um novo posicionamento ao grupo, impulsionando os investimentos futuros”, afirmou uma fonte ligada à empresa logística.
O prazo de concessão de ferrovia da ALL é válido até fevereiro de 2027, podendo ser prorrogado por até 30 anos. As discussões entre governo e empresa para prorrogação desse prazo não podem ser feitas antes desse período.
Segundo Lutz, cada vez mais a companhia quer desvincular sua imagem como empresa de commodities para se tornar um grupo focado em infraestrutura.
Desde o início de 2010, quando a Cosan anunciou uma joint venture com a Shell, para a criação da Raízen, uma das maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil, incluindo os ativos de açúcar e álcool do grupo, o mercado questionava qual seria o futuro estratégico da Cosan. Sob o guarda-chuva da companhia, ficaram a Rumo, braço de logística; a Radar, de terras rurais, e a Cosan Alimentos, que negocia os produtos de marca do grupo.
Em conferência ontem com analistas de mercado, Lutz afirmou que a Rumo, que possui contrato com a ALL para escoamento de açúcar VHP (Very High Polarization) e infraestrutura portuária, não terá conflitos de interesse com a empresa logística. “A gente vê com tranquilidade a relação comercial, estabelecida por contrato. Vamos seguir as regras de mercado”, disse.
Nos últimos meses, segundo analistas, a ALL descumpriu prazos estabelecidos com a Rumo. O Valor apurou que a Rumo poderá passar no futuro por um realinhamento estratégico, uma vez que a natureza dos negócios das duas empresas é parecida.
A estratégia agressiva de expansão dos negócios de Rubens Ometto Silveira Mello rendeu fortes críticas ao empresário, sobretudo de acionistas minoritários. “O investidor precisa acreditar na estratégia [de expansão] da Cosan. O empresário soube conduzir o processo de expansão da companhia, que tinha uma vocação agrícola [voltada para açúcar e álcool], abriu o capital da companhia e transformou o grupo em uma empresa de logística”, disse uma fonte familiarizada com o negócio. “Os críticos veem a fotografia atual, mas não como o negócio vai ficar.”
Rubens Ometto transformou o grupo Cosan, fundado nos anos 80, em uma potência de açúcar e álcool nos anos 90. A família do empresário, de origem italiana, chegou ao Brasil no fim do século 18. Em 2005, a companhia abriu o capital no Brasil e dois anos depois passou a ter seus papéis negociados na bolsa de Nova York. Com a diversificação de seus negócios, a Cosan também participa do projeto bilionário em parceria com a Petrobras na Logum para a construção de um etanolduto. A companhia também investe pesado em cogeração de energia a partir do bagaço de cana-de-açúcar.
Fonte: Valor Econômico/RF
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