Primeira colocada no ranking da Firjan, a cidade de Santa Isabel, a 190 quilômetros de Goiânia, viveu um boom durante as obras da ferrovia Norte-Sul. A arrecadação da prefeitura bateu recorde em 2010, dando fôlego para investimentos de todo tipo: da construção de uma escola à compra de ambulâncias, ônibus escolares, equipamentos médicos e até mesmo um lago — aposta de atração turística que, por ora, só ganhou a pedra fundamental.
Já no ano passado, porém, a fartura deu lugar a incertezas, após a conclusão do trecho de ferrovia que atravessa o município. Com 3,6 mil habitantes, Santa Isabel viu desaparecerem centenas de empregos diretos e indiretos. E a arrecadação da prefeitura caiu 15%, uma redução de R$ 2 milhões no orçamento de 2011.
O prefeito Levino Silva (DEM), pré-candidato à reeleição, minimiza o impacto do fim das obras, mas admite que gerar emprego é seu maior desafio. Ele espera que a Valec, estatal responsável pela ferrovia, cumpra a promessa de instalar um porto seco — pátio onde são colocadas e retiradas cargas dos trens.
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Com a gestão elogiada até por adversários, Silva diz que as contas da prefeitura estavam no vermelho quando assumiu o cargo, em 2009, após quatro anos como vice-prefeito. Trabalhador rural na juventude, perdeu o antebraço esquerdo num triturador de cana. Fez curso de gestão pública na Universidade Estadual de Goiás e, ao ser eleito, pôs em prática boa parte do que aprendeu.
O primeiro ano foi acompanhado de medidas impopulares: cortou gratificações, limitou o pagamento de hora-extra e criou um sistema de ponto na Secretaria da Saúde, para a qual nomeou como titular a primeira-dama Rosângela Marinho. Por economia, a prefeitura adotou horário de meio expediente:
— Determinei que não se comprasse mais um parafuso sem a minha autorização.
Num esforço para recuperar as finanças, mapeou as principais atividades econômicas, que giram em torno da agropecuária, e contratou consultorias para melhorar a arrecadação. Elas correram atrás de frigoríficos que compravam gado em Santa Isabel, mas recolhiam impostos em cidades vizinhas.
Turbinada pelas obras da Norte-Sul, a ação deu resultado. Em 2010, a receita da prefeitura com ISS aumentou dez vezes em relação ao ano anterior. Com os cofres cheios, Silva investiu: asfaltou ruas, construiu dois centros comunitários e quadras esportivas, comprou dez veículos, entre eles o carro que dirige, um Polo automático, e passou a pagar o piso salarial nacional aos professores.
Santa Isabel permanece sem creches nem rede de esgoto. E o piso dos professores não foi reajustado este ano. Além disso, no ano passado, a prefeitura pagou R$ 370 mil por um lago que, segundo moradores, foi feito pela própria prefeitura, há mais de 12 anos, numa nebulosa negociação com um fazendeiro já morto. Silva nega e diz que não é possível saber sequer se o fazendeiro reembolsou a prefeitura.
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